A conexão entre o lobby sionista e a PEC da Segurança Pública do governo Lula

A crescente influência do lobby sionista na política nacional, agora reforçada pela PEC da Segurança Pública, amplia o mercado para tecnologias de vigilância e repressão nos municípios.

17 de Julho de 2025 às 15h00

Brasília (DF), 09/07/2025 - A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara durante reunião para discutir a proposta de emenda à Constituição (PEC 18/2025) que reformula a gestão da segurança pública no Brasil. Reprodução/Foto: Lula Marques/Agência Brasil.

A recente visita de uma comitiva de prefeitos brasileiros a Israel voltou a expor a crescente influência do lobby sionista em diversos níveis da política nacional. Em junho de 2025, poucos dias antes do início dos ataques de Israel contra o Irã, autoridades municipais, em sua maioria ligadas à direita, participaram da Muni Expo — feira organizada pela Federação das Autoridades Locais de Israel, voltada à promoção de armas e tecnologias de segurança. Embora o evento fosse oficialmente classificado como técnico, o roteiro da viagem revelou motivações políticas, sobretudo no que se refere à difusão da narrativa israelense sobre o genocídio em curso na Faixa de Gaza.

O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), revelou à imprensa que, durante a viagem, um representante do exército israelense solicitou aos integrantes da comitiva que atuassem como “embaixadores da verdade” ao retornarem ao Brasil, promovendo a versão oficial do governo de Israel sobre o conflito.

A atuação do lobby sionista, no entanto, não se limita a esse episódio. Reportagem da Agência Pública, publicada em 2023, revelou que empresas israelenses de ciberespionagem vêm fornecendo desde 2017 sistemas de vigilância a órgãos públicos brasileiros, como a Polícia Rodoviária Federal, o Exército, a Força Aérea e a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência). Um dos principais produtos é o software First Mile, adquirido sem licitação por R$ 5,7 milhões em 2018. Entre 2019 e 2021, durante o governo Bolsonaro, o programa teria sido utilizado pela ABIN para monitorar jornalistas, ministros do STF, parlamentares, advogados, servidores públicos e opositores políticos, tudo sem autorização judicial.

A influência israelense também se projeta no âmbito estadual. Em março de 2024, no auge do debate público sobre o genocídio palestino, os governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO) reuniram-se com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em visita oficial a Jerusalém. Embora Tarcísio tenha declarado que a viagem não teve caráter político ou ideológico — e se destinasse exclusivamente à celebração de parcerias tecnológicas —, aproveitou a ocasião para se desculpar pelas críticas do presidente Lula ao governo israelense. O gesto foi interpretado como um aceno explícito de alinhamento com o sionismo. Desde o início da gestão Tarcísio, o governo paulista firmou contratos que somam R$ 37,3 milhões com empresas israelenses de segurança e espionagem.

Esse cenário adquire contornos ainda mais graves diante da Proposta de Emenda Constitucional da Segurança Pública, impulsionada pelo governo Lula. A PEC, conforme noticiado pelo jornal O Futuro, busca constitucionalizar a função de policiamento ostensivo pelas guardas municipais, transformando-as, na prática, em "polícias municipais". Embora o STF já tenha reconhecido tal função às guardas por decisão proferida em fevereiro de 2025, a proposta do governo federal reforça essa diretriz, conferindo-lhe respaldo constitucional. A medida, porém, é controversa. A decisão do Supremo — já considerada inconstitucional por juristas — pode ganhar força normativa com a PEC, reduzindo o espaço para críticas e debates sobre a militarização das guardas municipais.

Tendo em vista essa “janela de oportunidades” aberta pela PEC — e mirando o debate eleitoral de 2026 —, prefeituras brasileiras têm se antecipado e promovido alterações em suas legislações locais. Em junho de 2025, por exemplo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), sancionou uma Lei Complementar que prevê a criação de um grupo especializado no âmbito da Guarda Municipal para exercer funções de “policiamento ostensivo, preventivo e comunitário”. O projeto também autoriza o uso de armas de fogo pelos agentes, institucionalizando mais um grupo armado dentro da estrutura estatal.

De acordo com dados do IBGE de 2023, já chegava a 30% o número de guardas municipais armadas (1,3 mil) dentre o total das cidades com agentes em atividade. Contudo, o impacto do tema nos debates eleitorais para 2026 em capitais como Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Cuiabá, Belém e São Paulo, além de diversas cidades médias e grandes do país, amplificou as margens de ação dos defensores da militarização das guardas civis.

Se aprovadas, medidas como essas garantirão a expansão de um mercado altamente lucrativo para a aquisição de tecnologias de espionagem e equipamentos de segurança no país. Diversos prefeitos, atentos a essa movimentação, têm se aproximado do lobby sionista, como demonstrado no caso da comitiva recente, buscando parcerias com empresas israelenses que desenvolvem e testam suas armas e equipamentos de vigilância em meio ao genocídio na Palestina.

O resultado desse cenário é o fortalecimento não apenas econômico, mas também político, da influência sionista no Brasil e de sua articulação — pela via do reforço da lógica da guerra às drogas no país — com a militarização das cidades e o aprofundamento do encarceramento em massa e do extermínio sistemático da juventude negra das periferias brasileiras.