Metrô BH quer linha mais demorada e perigosa: entenda a proposta de “via singela”
A empresa Metrô BH, que gere o metrô de Belo Horizonte desde a privatização em 2023, propôs ao governo de Minas Gerais que o último trecho da Linha 2, que está em construção, seja feito na forma de via singela.

Expansão do metrô para a região do Barreiro é uma promessa há décadas. Reprodução/Foto: Metrô BH.
A empresa Metrô BH, que gere o metrô de Belo Horizonte desde a privatização em 2023, propôs ao governo de Minas Gerais que o último trecho da Linha 2, que está em construção, seja feito na forma de via singela. Além de tornar a obra mais barata, a proposta privilegia a empresa MRS Logística, que possui a concessão de um pátio de manobras no caminho da linha entre as estações Ferrugem e Barreiro, as últimas das sete que serão construídas.
A concessão do pátio para a MRS Logística foi feita em 1996 pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com duração de 30 anos. Em 2022, ainda sob governo Bolsonaro, a ANTT prorrogou antecipadamente a concessão até 2056, a despeito de existirem obras para a expansão do metrô para a região desde 1998, com projetos que já previam a passagem da linha pela área. Com a retomada da construção da Linha 2 em 2024, o Tribunal de Contas da União definiu que a Metrô BH e a MRS entrassem em um acordo sobre o encaminhamento das obras.
A via singela beneficia a MRS por precisar de menos do espaço que hoje é ocupado pela empresa, já que se trata de apenas um trilho para ida e volta dos trens. A Linha 1, como existe hoje, é do tipo carrossel, o que significa que os trens chegam na estação por um trilho, dão a volta e retornam por outro. Em todo o trajeto pode haver circulação de trens em ambos os sentidos simultaneamente, como ilustrado em um vídeo publicado pelo Sindimetro-MG:

A via dupla é mais rápida e eficiente. Reprodução/Foto: Sindimetro-MG.
Já no caso da via singela, a circulação indo e voltando ocorre pelo mesmo trilho, o que significa que um trem que se dirige da estação Ferrugem à estação Barreiro não pode completar o trajeto caso o que esteja a sua frente não tenha completado o retorno após passar pela última estação, saindo completamente do trilho.

Com a via singela, um trem não pode chegar até a última estação enquanto outro estiver no trilho. Reprodução/Foto: Sindimetro-MG.
Hoje, o metrô de Belo Horizonte tem capacidade para operar com um intervalo mínimo de 3 minutos entre os trens. Com a implementação da via singela, esse intervalo será de pelo menos 7 minutos e meio, como declarado pela própria Metrô BH. Consequentemente, o serviço sofrerá mais frequentemente com a superlotação nos horários de pico. Esse formato também impede a expansão da Linha 2 para além do Barreiro com a construção de novas estações, como em Ibirité, na região metropolitana. Além disso, o risco de acidentes entre os trens aumenta e pode acarretar em uma paralisação total do metrô, como explica o Sindimetro-MG.

A operação da via singela é mais complexa e tem maior risco de acidentes. Reprodução/Foto: Sindimetro-MG.
A expansão do metrô de Belo Horizonte até a região do Barreiro tem sido objeto de promessas desde o governo Fernando Henrique Cardoso. No entanto, o financiamento para a expansão do serviço nunca foi disponibilizado. A partir de 2019, os governos Zema e Bolsonaro se utilizaram de uma série de artifícios para facilitar a privatização. Além de uma política de aumento da tarifa para desmoralizar o serviço de metrô frente a população e torná-lo lucrativo, a nova promessa de construção da Linha 2 foi condicionada à privatização. No entanto, mais de 90% do financiamento das obras está sendo feito com dinheiro público, beneficiando os lucros dos donos da Metrô BH e demonstrando que a expansão poderia ocorrer com um metrô estatal, sob uma gestão que não fosse voltada para o lucro.