PM de Tarcísio prende lideranças da luta por moradia na Favela do Moinho

A Polícia Militar levou sob custódia as principais lideranças da luta por moradia na comunidade. Moradores protestaram e juristas apontam perseguição política.

9 de Setembro de 2025 às 15h00

Foto: MFT / Jornal O Futuro.

Por Kaique Kaoan

Na manhã desta segunda-feira (8), policiais militares, integrantes das R.O.T.A., prenderam as presidentas da associação de moradores da Favela do Moinho, o principal órgão de organização da luta por moradia na comunidade. Diversas fontes afirmam que as prisões resultam de perseguição política do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que teve seus interesses frustrados pela atuação combativa das lideranças locais. Os moradores da favela se manifestaram indignados com as prisões e prestaram solidariedade nas redes sociais.

A associação de moradores da Favela do Moinho impôs um duro golpe aos interesses do governador Tarcísio de Freitas em abril deste ano, quando iniciou uma série de protestos por moradia digna e contra a violência estatal, que culminaram na projeção nacional da luta e comoção de diversos setores da sociedade, incluindo políticos, governos e a grande mídia. A ebulição nacional da pauta do Moinho gerou pressão suficiente para obrigar o Governo Lula a celebrar um acordo com os moradores, no qual cada família terá direito a financiar um imóvel de até R$ 250 mil, através dos programas Minha Casa Minha Vida e Casa Paulista.

Uma outra parte do acordo celebrado também diz respeito à destinação que terá o terreno sob o qual a favela está situada, na qual os moradores propuseram a construção de um parque memorial em homenagem à história de resistência daquela comunidade – o que foi aceito nestes termos e confirmado publicamente pelo então presidente Lula. A União, representada pelo Governo Federal, é a proprietária legal do terreno e, portanto, tem autonomia para decidir sobre a sua destinação, mas fraqueja na defesa da comunidade e suas lideranças.

Esta decisão não agradou em nada o Governo do Estado de São Paulo, que pretendia conceder o terreno à burguesia do ramo imobiliário paulista para a construção de um empreendimento que renderia lucro bilionário a ela, uma vez que a Favela do Moinho é localizada no Centro da Cidade de São Paulo – região que é um dos principais alvos da especulação imobiliária hoje.

Com a aproximação das eleições presidenciais e com o nome de Tarcísio de Freitas sendo um dos mais cotados pela direita para a disputa, o governo do estado tentou diversas vezes realizar a expulsão dos moradores da Favela do Moinho, com o fim de injetar bilhões de reais do orçamento público em grandes construtoras e, assim, assegurar o apoio do setor imobiliário. No entanto, seus planos foram parcialmente frustrados pela luta dos moradores do Moinho junto da sua associação – que organizou a luta e conseguiu o acordo meses atrás –, cujas lideranças foram presas na manhã de hoje pela Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Os moradores afirmam que a prisão de lideranças é também uma tentativa de desarticular a resistência da comunidade e obstruir o acesso às conquistas acordadas após a luta travada durante meses.

Juristas e movimentos que acompanham o caso apontam que há elementos de perseguição nas prisões, uma vez que a PM – em investigação conduzida por ela própria –, sob o comando do governador Tarcísio, prendeu as principais lideranças de oposição ao seu governo e que impuseram a ele uma derrota política, inspirando outros movimentos a se levantarem na luta por moradia em todo o Estado.

A luta do Moinho foi central para a rearticulação de comunidades e ocupações em torno da Campanha Despejo Zero, ao mostrar pela força do exemplo que através da mobilização do povo é possível barrar os ataques do Estado e conquistar direitos. O uso da prisão como ferramenta é a última tentativa de Tarcísio de intimidar comunidades e movimentos de moradia para prevenir uma nova onda de mobilizações unificadas e combativas como as que se desenrolaram entre abril e maio. Diversas lideranças comunitárias por todo o estado relatam ameaças parecidas, como a comunidade do Porto de Areia, em Carapicuíba, que vem sofrendo assédio judicial como tentativa de desmobilização.