Cláudio Castro fortalece a máquina de guerra aos pobres no RJ
O Governo do RJ anunciou a aquisição de um helicóptero de guerra, modelo UH-60 Black Hawk, para o BOPE. A aeronave, que era de exclusivo das Forças Armadas no país, será utilizada em operações policiais em favelas.

Helicóptero modelo UH-60 Black Hawk. Reprodução/Foto: g1/site da Lockheed Martin.
Por Gustavo Pedro
Em meio a uma movimentação política visando o processo eleitoral de 2026, o Governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou a incorporação de um helicóptero de guerra, modelo UH-60 Black Hawk, a ser enviado para o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, mais conhecido pela sigla BOPE. A aeronave será utilizada em operações policiais em favelas.
O helicóptero blindado, que até o momento era de uso exclusivo das Forças Armadas no país, faz parte de um lote de 12 aeronaves do mesmo modelo encomendadas pelo Brasil. O valor total da compra é de US$950 milhões, equivalente a aproximadamente R$4,9 bilhões, e o Departamento de Estado dos EUA, segundo informação do Pentágono, aprovou a aquisição junto à empresa Lockheed Martin. O governo de Cláudio Castro (PL-RJ) receberá, até o fim deste ano, o primeiro helicóptero desse lote.
A aquisição foi anunciada por Castro logo após o desfecho do julgamento da ADPF das Favelas (ADPF 635) no Supremo Tribunal Federal (STF), onde os ministros da corte indicaram, por consenso, a possibilidade do uso de helicópteros como plataforma de tiro e a necessidade de o Governo do RJ apresentar um plano de “reocupação territorial das áreas sob domínio de organizações criminosas”. A mensagem política passada por Cláudio Castro, que já havia comemorado efusivamente o resultado do julgamento, é de que não economizará nos gastos para o fortalecimento da máquina de morte do Estado fluminense nas favelas.
O helicóptero, já chamado por movimentos sociais de pássaro da morte, tem capacidade de transporte de 11 soldados equipados, além de 4 tripulantes, pode atingir até 294 km/h e possui autonomia de voo de quase 600 km. A aeronave pode ser equipada com metralhadoras giratórias de calibre 7,62 mm - com capacidade de disparo de até 6 mil tiros por minuto - e de calibre .50, além de deter um sistema de disparo de míssil. A capacidade de armamento do Black Hawk, ao ser utilizada no suporte às operações policiais nas favelas fluminenses, potencializa os níveis de brutalidade policial das operações no país, visto o rastro de destruição que o mesmo deixou em conflitos onde foi utilizado pelo Governo dos EUA, como nos casos da Guerra Civil da Somália e nas Guerras do Iraque e do Afeganistão.
Uma articulação do capital imperialista em curso no Rio de Janeiro
O fortalecimento do arsenal de guerra das polícias fluminenses não se dará apenas com a aquisição do helicóptero blindado, mas também com a abertura de concurso para mais 2 mil policiais até 2026, a aquisição de 758 carros, com pinturas inspiradas em um padrão internacional, de 470 motocicletas e de 1 mil novos fuzis, a serem entregues ainda em 2025. Parte das viaturas, de SUVs modelos Renault Duster e pick-ups Fiat Titano, foram entregues em evento realizado por Castro nos Arcos da Lapa no último dia 6 de maio.
O novo grafismo das viaturas da PMERJ, no padrão Tartan Silitoe (xadrez) em azul e branco, assim como o anúncio da recepção do blindado aéreo vieram em meio à realização de um conjunto de agendas de Castro junto a interlocutores governamentais em Nova Iorque (EUA). Essa movimentação foi realizada de forma articulada com a atuação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), na presidência da Comissão de Segurança Pública do Senado, que vem pautando a equiparação de facções do tráfico de drogas, mais especificamente o PCC e o CV, a organizações terroristas.
O senador recebeu em seu gabinete, em Brasília, o conselheiro da secretaria de Assuntos do Hemisfério Ocidental do governo dos EUA e entregou a ele um “dossiê” elaborado com informações das Secretarias de Segurança Pública do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em nota, a embaixada estadunidense citou que a cooperação bilateral visa o combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas “em alinhamento com a agenda America First”, de Donald Trump. Em mais um dos variados sinais de alinhamento, no território fluminense o secretariado do Governo do Estado, incluídos os comandantes das polícias civil e militar, já havia aderido à termos derivados do “narcoterrorismo” nas referências à atuação das facções.
A agenda de políticos da extrema-direita, como Cláudio Castro e os irmãos Eduardo e Flávio Bolsonaro, utiliza o discurso da “cooperação” junto ao governo dos EUA, como Agência Antidrogas (DEA) dos EUA, enquanto instrumento de alinhamento ideológico e de concessão da soberania brasileira ao governo estadunidense, abrindo as portas para atuação estrangeira em território nacional, sob o pretexto do combate ao tráfico de drogas.
É uma agenda que passa pela compra de mercadorias que impulsionam o complexo industrial-militar dos EUA, mas é, fundamentalmente, uma tentativa de abrir maior espaço para operações e intervenções estrangeiras (sejam elas econômicas, judiciais ou militares) em solo brasileiro. São ambos elementos importantes do processo de avanço da militarização da cidade, que impõe, por outro lado, aos trabalhadores que moram nas favelas do Rio de Janeiro um controle social, exercido com práticas de guerra, e “a intensificação sistemática da produção de mortes em territórios que não vivem uma guerra declarada”, como aponta o geógrafo Thiago Sardinha.