Terras Indígenas no extremo sul da Bahia são invadidas por policiais em operação hostil
O histórico de ataques ao povo Pataxó tem se agravado desde que as Terras Indígenas Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal entraram em processo de retomada dos territórios, em junho de 2022.

Reprodução/Foto: Alberto Maraux/Secretaria de Segurança Pública da Bahia
No último dia 20 de março, a Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar, cumpriu 12 mandados de prisão e sete de busca e apreensão na Terra Indígena da Barra Velha do Monte Pascoal, localizada na cidade de Prado, no extremo sul da Bahia. Cerca de 20 viaturas invadiram a comunidade e mais de 20 indígenas Pataxó foram presos.
Segundo a Polícia Civil, a operação investiga supostos “grupos indígenas” que têm ameaçado “proprietários rurais”, para “retomar territórios ancestrais”. No entanto, de acordo com relatos de testemunhas, a operação envolveu helicópteros, drones e policiais fortemente armados, que foram vistos ameaçando crianças e idosos, além de atirar em direções não identificadas e realizar prisões sem identificação ou explicação.
Além disso, indígenas também viram homens mascarados com balaclava durante a ação, que acreditam serem pistoleiros atuando junto à polícia, a mando de fazendeiros.
Em nota, o Conselho de Caciques da TI da Barra Velha afirma que a operação é uma retaliação às lideranças indígenas e que já era premeditada, desde a morte do indígena Pataxó Vitor Braz, assassinado um dia antes da audiência pública realizada pela PGR em Brasília, junto à lideranças Pataxó e Tupinambá.
O histórico de ataques ao povo Pataxó vem de longa data, mas tem se agravado radicalmente desde que as Terras Indígenas Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal entraram em processo de retomada dos territórios, em junho de 2022.
Entre 2022 e o início de 2023, cerca de seis indígenas foram assassinados no Extremo Sul da Bahia. Também vale relembrar o assassinato de Maria Fátima Muniz de Andrade, mais conhecida como Nega Pataxó, no dia 21 de janeiro de 2024, morta a tiros durante um ataque de fazendeiros que deixou um cacique baleado e outras pessoas feridas.
São diversos os casos de ameaças, assassinatos e violência extrema contra indígenas na região, e o Governo do Estado da Bahia segue sendo conivente com isso. Jerônimo Rodrigues (PT), primeiro governador autodeclarado indígena, se omite diante da criminalização de indígenas no estado e investe cada vez mais no modelo racista de segurança pública que fortalece as corporações policiais, que são diretamente responsáveis pelos ataques às comunidades.
É fundamental que os movimentos e organizações não recuem frente aos aparelhos repressivos do Estado burguês e sigam denunciando as tentativas de impunidade e todas as medidas que ameaçam a existência e a segurança de povos originários. A luta pela demarcação de Terras Indígenas é também uma luta pela preservação da vida humana e do meio ambiente.