Greve de trabalhadores da construção paralisa a região metropolitana de Belém às vésperas da COP 30
Paralisação dos trabalhadores de Belém, Ananindeua e Marituba é apenas o mais recente dos episódios que aponta a contradição entre interesses dos trabalhadores paraenses e a agenda de capitalismo verde da conferência.

Reprodução/Foto: Info-Revolução.
Por Jaqueline Tavares
Os trabalhadores da construção paralisaram os canteiros da maioria das obras para a COP-30 na última terça-feira (16), depois de o sindicato patronal ter anunciado um aumento de apenas 5,5 % no salário dos trabalhadores da categoria. Somando as verbas federais, estaduais e municipais, o evento recebeu um investimento de mais de 6 bilhões de reais, transformando a região metropolitana de Belém em um enorme canteiro de obras a serviço da especulação imobiliária.
Esse investimento não tem sido refletido nos salários dos trabalhadores, que agora exigem aumento salarial, participação nos lucros, aumento do valor das cestas básicas e mais participação de mulheres nas obras. Na mesma noite, a empresa responsável pelas negociações concordou com um aumento de 9,5%, um ajuste na cesta básica e marcou uma reunião para conversar com os trabalhadores. A pequena vitória ainda está distante das exigências da categoria e do problema que a COP 30 se tornou para os trabalhadores da região metropolitana de Belém.
As parcas condições de trabalho e os salários baixos foram apenas o mais recente episódio dos atritos entre a conferência e os interesses populares na cidade. Apesar do discurso em defesa do clima, reforçada pela intensa campanha de propaganda do governo federal em torno do evento, a COP 30 pouco tem feito em defesa do meio ambiente e dos trabalhadores belenenses. Além da incoerência de um discurso ambientalista e o avanço de políticas federais como a “PL da devastação”, ou mesmo a pouca participação das populações indígenas na elaboração das propostas da COP, a própria preparação do evento tem negligenciado os efeitos do boom das obras sobre o meio ambiente e a vida dos moradores de Belém.
Aluguéis caríssimos, despejos de inquilinos, aumento do custo de vida, expulsão de moradores de rua, remoção de áreas verdes urbanas, descarte de entulho em zonas periféricas da cidade. Esses são apenas alguns exemplos do que vem acontecendo com a população de Belém, empurrada para as margens da cidade, enquanto os bairros mais centrais se tornam alvo da especulação imobiliária. A COP-30, sob uma capa de “defesa do clima”, virou vitrine eleitoral do governador Helder Barbalho e peça de propaganda do governo federal, enquanto a população mais pobre da cidade arca com as consequências da conferência e o desmatamento na Amazônia segue a todo vapor.
Neste cenário já pouco favorável à população de Belém, as condições precárias de trabalho na construção civil são mais um sintoma de como o projeto de “capitalismo verde” representado pela COP pouco tem a oferecer aos trabalhadores. Da participação nos debates, passando pelo planejamento urbano da conferência até as próprias condições de trabalho nas obras, o que orienta a COP-30 são os interesses da burguesia, o lucro dos mais ricos e a agenda eleitoral dos políticos envolvidos em sua organização, e não as condições de vida dos trabalhadores e os problemas reais advindos da mudança climática.
A greve dos trabalhadores da construção contínua, e pode ser uma janela de oportunidade para pressão e negociação não apenas das questões salariais, mas do próprio evento, dos interesses que este irá representar e de um projeto de cidade a serviço de seus habitantes, não do mercado imobiliário.