Conferências Pré-COP 30 e o colapso climático como negócio
As movimentações até aqui revelam os interesses da burguesia nacional e internacional na exploração dos recursos naturais na América Latina, disputado por setores do governismo pautando a falsa solução do desenvolvimento sustentável e do capitalismo verde como saídas para as mudanças climáticas.

Presidente Da COP André Correa do Lago no 16º Diálogo Climático de Petersberg. Reprodução/Foto: Ana Rosa/Site oficial da COP30.
Com o avanço dos eventos preparatórios para a COP 30 – conferência climática da ONU que reunirá 197 países em novembro, na cidade de Belém, no Pará – tornam-se cada vez mais evidentes as contradições do chamado “capitalismo verde”. Sob o pretexto da sustentabilidade, o imperialismo e o grande capital – tanto nacional quanto internacional – renovam suas estratégias de dominação, utilizando o discurso ambiental como fachada para aprofundar a exploração dos territórios e dos povos. Nesse contexto, o governo brasileiro investe pesadamente em marketing político e institucional para se projetar como liderança ambiental, ao mesmo tempo em que fortalece o modelo primário-exportador e destina os maiores Planos Safra da história ao agronegócio. Diante desse cenário, torna-se fundamental analisar as articulações imperialistas que pautarão a COP 30 e expor os reais interesses por trás da agenda climática hegemônica.
A COP 30 vem sendo apresentada como “o evento da década” para a Amazônia. No entanto, essa mesma década tem sido marcada pelo agravamento da crise climática, o avanço desenfreado da mineração e do agronegócio, a mercantilização das florestas e a aprovação de leis como o “PL da Devastação”, que ampliam a exploração ambiental e a violação de direitos dos povos tradicionais. A realização da conferência, nesse contexto, revela profundas contradições entre o discurso oficial de sustentabilidade e a realidade da destruição acelerada dos territórios.
Fórum Dinapec pré-COP (Campo Grande-MS, 24 de março)
A Dinapec é uma feira tecnológica bienal realizada pela Embrapa e o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). Primeiro Fórum Pré-COP 30, abordando a “Sustentabilidade da Produção de Bovinos no Brasil” – e levantando as bandeiras da “Carne Carbono Neutro – CCN” e “Carne Baixo Carbono – CBC”.
Duas estratégias do agronegócio para maquiar a pecuária industrial como sustentável. O CCN alega neutralizar emissões através de compensações duvidosas, enquanto o CBC promete reduções insignificantes. Ambos servem aos interesses de grandes frigoríficos, permitindo acesso a mercados e financiamentos verdes sem mudar o modelo predatório. Essas certificações criam uma falsa narrativa de sustentabilidade para manter a produção em larga escala e o consumo insustentável.
16º Diálogo Climático de Petersberg (Berlim, 25 de março)
O evento mascara interesses geopolíticos alemães – como acesso a mercados de carbono e matérias-primas estratégicas (níquel, lítio) – sob o discurso de "sustentabilidade". O REDD+, por exemplo, já foi denunciado por financiar grilagem de terras indígenas , enquanto o hidrogênio verde beneficia megacorporações como Siemens e BASF. A "bioeconomia" repete o extrativismo colonial, agora com selo verde.
Reunião Ministerial do Clima de Copenhague (Dinamarca, 7 de maio)
Mais uma reunião de ensaio e planejamento para a COP 30 que prometeu avanços climáticos, mas que em termos objetivos pautou apenas os interesses dos poderosos, os fundos prometidos aos países pobres chegam cheios de condições que favorecem empresas multinacionais, não as comunidades mais afetadas. A COP 30 caminha para ser mais uma vitrine do capitalismo verde, onde quem destrói o clima dita as regras da suposta solução.
As negociações preparatórias para a COP 30 (Bonn, Alemanha, 24 de junho)
Durante duas semanas, delegados de 200 países discutiram documentos que servirão de base para as negociações na capital paraense. O evento foi marcado com propostas que privatizam a natureza via mercados de carbono, aprofundam a dependência neocolonial através de dívidas verdes como o empréstimo de 200 bilhões para um “Fundo de Resiliência Climático” que terá os recursos administrados por bancos privados como o HSBC. E legitimam o agronegócio com rótulos sustentáveis, além da exclusão dos povos indígenas e as metas de desmatamento zero sem fiscalização política.
Para além dos eventos corporativos e governamentais, também houve mobilizações protagonizadas pelos movimentos sociais. Um exemplo foi a Cúpula dos Povos da Pan-Amazônia, realizada em Belém (PA), entre os dias 12 e 16 de novembro, organizada como um contraponto popular à COP 30. O encontro reuniu povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e organizações de base que denunciaram acordos como o Mercosul-União Europeia, os quais expandem a exportação de commodities sob o falso rótulo de “sustentáveis”. A cúpula também fará um evento paralelo à COP 30 exigindo justiça ambiental e uma reparação radical dos impactos ambientais.
As movimentações até aqui revelam os interesses da burguesia nacional e internacional na exploração dos recursos naturais na América Latina, disputado por setores do governismo pautando a falsa solução do desenvolvimento sustentável e do capitalismo verde como saídas para as mudanças climáticas.
Entregam soluções simples para problemas complexos e investem milhões em propaganda e na mobilização de eventos com o objetivo não apenas de consolidar sua força política e econômica como também difundir sua “visão” no senso comum, tornando suas “necessidades” as necessidades da nação.
Enquanto isso o desmatamento segue aumentando, e só nos resta aliar forças, e apontar verdadeiramente as causas e a solução possível: o combate firme, de classe, com independência, contra a agenda burguesa para a questão ambiental, contra a confiança nos acordos com o imperialismo. Isso só é possível com a mais ampla unidade da classe trabalhadora junto às demais camadas exploradas e oprimidas.