Polícia Militar da Bahia assassina dois adolescentes em Salvador

Assassinatos cometidos por policiais militares em Salvador batem recorde histórico. As armas utilizadas em seus crimes são compradas de Israel pelo governo do estado da Bahia.

2 de Outubro de 2025 às 15h00

Reprodução/Foto: Redes sociais.

Neste último domingo, dia 28 de setembro, a Polícia Militar da Bahia realizou mais uma operação contra a população soteropolitana, resultando na morte de dois jovens moradores da comunidade de São Domingos, no bairro de São Marcos. Caíque dos Santos Reis, com apenas 16 anos, além de Matheus Daniel Chagas da Silva, de 21 anos, foram brutalmente assassinados por policiais militares integrantes do Batalhão Gêmeos.

As imagens realizadas por moradores evidenciam o que há muito já se sabe sobre a PM-BA: A violência com que carregam os corpos das suas vítimas, comparáveis a nada além de cargas ou caça abatida; a hostilidade com a qual esses “funcionários públicos” tratam os moradores que, indignados com a situação, clamam por justiça. Em alguns registros é possível ver policiais ameaçando sacar suas armas contra moradores que protestavam e gravavam vídeos em denúncia.

Os moradores denunciaram a prática cruel dos assassinos fardados. Em entrevista para a Rede Bahia, trabalhadoras e trabalhadores que testemunharam a violência indicaram que a policial rendeu Caíque Reis e desferiu um disparo na perna do garoto. Em seguida, os policiais levaram-no a um beco e o assassinaram.

Em uma nota mentirosa, a PM-BA disse ter apreendido uma pistola calibre 9mm, um revólver e drogas como maconha, cocaína e crack. Essa narrativa contrasta com a honra e dignidade da vítima, reconhecido na comunidade por ser estudante, barbeiro e que, ontem, na segunda-feira do dia 29 de setembro de 2025, iniciaria no emprego de confeiteiro. É importante denunciar como esses assassinos operam em uma lógica de vilanizar a memória dos jovens negros, cujas vidas eles interrompem com tamanha brutalidade.

Em resposta legítima dos trabalhadores, protestos marcaram o bairro de São Marcos na segunda-feira, 29 de setembro. Esse já era o segundo protesto, com o anterior sendo realizado logo após a morte dos jovens. Moradores denunciaram também os policiais por atirarem balas de borracha contra os manifestantes.

O Batalhão Gêmeos, criado em 2023 a partir da Operação Gêmeos, é uma unidade policial de policiamento ostensivo que, supostamente, atua na prevenção a furtos e roubos aos transportes coletivos. Esse Batalhão é comandado pelo Tenente-Coronel Carlos Emiliano Figueiredo Filho desde julho de 2025. Ao expor o nome de ao menos um dos responsáveis por essas mortes, esperamos que a classe trabalhadora conheça as identidades de seus algozes.

O financiamento do genocídio palestino e o extermínio da juventude negra

Este assassinato com requintes de crueldade não é um caso isolado em Salvador e Região Metropolitana (RMS), ou na Bahia, no Brasil e nem mesmo no mundo. De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, em maio deste ano houve o maior número de adolescentes baleados em um mês na Região. Até esse momento de 2025, foram 202 jovens, entre as idades de 0 a 29 anos, assassinados na RMS. Comparando os primeiros semestres de 2025 e 2024, verifica-se um aumento de 235% nas mortes provocadas por ações policiais entre esses períodos.

Esse aumento histórico da letalidade policial no país é explicada pelo projeto de morte à população periférica, particularmente a juventude negra, em todo o território nacional. Governadores de diversos estados, como São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraíba e Amazonas têm feito compras de armamentos como pistolas, fuzis de assalto e coletes balísticos para as polícias militares. Desde 2022, ano após ano, o Brasil vem batendo recordes históricos na importação dos armamentos fabricados pelo projeto colonial conhecido como Israel. Somente em 2024, R$ 120,6 milhões foram gastos em armamentos.

A Bahia, governada por Jerônimo Rodrigues (PT), portanto, não poderia ficar de fora, mesmo que isso signifique tomar posições contrárias ao presidente Lula, também do Partido dos Trabalhadores. Em 2025, R$ 58 milhões foram gastos pela Polícia Militar da Bahia na compra de fuzis de assalto israelenses e pistolas austríacas. O “investimento” foi celebrado por figuras já conhecidas da matança desenfreada à juventude negra baiana, como o secretário da segurança pública, Marcelo Werner e o comandante-geral da PM, coronel Paulo Coutinho.

As aquisições dos governantes estaduais, como no caso baiano, são feitas através de compras de duas grandes empresas israelenses: a Israel Military Industries (IMI Systems) e a Israel Weapon Industries (IWI). Poucos meses após a compra desses novos armamentos, neste e em outros episódios é possível ver as armas de Israel presentes nas comunidades, nas mãos dos assassinos fardados. Nos vídeos de domingo, a assassina, uma policial com o nome ainda não identificado, e os seus comparsas do Batalhão Gêmeos, todos eles empunhavam fuzis de assalto IWI ARAD contra uma população que não levava nada nas mãos a não ser os celulares.

Não devemos, pois, coadunar com uma política reformista que tem ganhado força entre alguns setores da esquerda e da “direita moderada”. Não basta que essas forças policiais tenham câmeras em seus uniformes, uma vez que eles podem fraudá-las ou inviabilizar a sua utilidade. É preciso que seja pautado o fim da polícia militar e a completa reestruturação de todo o contingente armado sob controle do Estado brasileiro. É necessário, inclusive, resgatar os nomes de todos esses criminosos e colocá-los a júri popular, para que não se escondam sob as asas da Corregedoria.

Apenas com uma ampla participação popular na segurança pública, esses episódios deixarão de existir. Enquanto o governo do estado da Bahia continuar estimulando o aumento das forças policiais, cenas de tragédia e desespero para a classe trabalhadora continuarão comuns.

No plano internacional, somente as falas de desaprovação do presidente Lula ao projeto genocida de Israel não são o bastante. É preciso cortar as relações diplomáticas que o Brasil possui com Israel, porque reconhecer este projeto colonial como um país o fortalece. É necessário, sobretudo, extinguir a importação de aço — matéria prima para a produção dos armamentos — que encontra aliados em empresas brasileiras, como a Villares Metals, que enviou o aço para fabricantes israelenses como a Israel Weapon Industries (IWI), responsável pelos armamentos que ceifaram a vida dos jovens moradores de São Marcos.

É preciso dizer não à exportação de aço para Israel e a permissividade que o governo federal dá aos estados, ao permitir que estes comprem armamento bélico para assassinar jovens negros brasileiros. O boicote por si só não fará a política do genocídio ao povo palestino parar, mas é um mecanismo importante para que possamos apontar para um futuro onde crianças não sejam assassinadas por militares, no Brasil e na Palestina.