Petróleo brasileiro alimenta máquina genocida de Israel
Relatório “Da Economia de Ocupação à Economia de Genocídio” lançado pela ONU no início de julho, aponta que corporações lucram com o genocídio da Palestina, fazendo negócios com Israel. A Petrobrás é uma delas.

Líderes participam da 17ª Cúpula do BRICS, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Reprodução/Foto: Alexandre Brum/BRICS Brasil.
O presidente Lula tem produzido discursos contra o genocídio que o Estado de Israel promove na Palestina. Alguns desses discursos são, inclusive, emocionantes. Aconteceu mais uma vez na reunião do BRICS, no Rio de Janeiro, no dia 6 de julho. No entanto, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto faz discursos contra o genocídio, o governo Lula-Alckmin e a estaral Petrobrás alimentam o massacre, enviando volumes enormes de petróleo bruto e óleo combustível que alimentam as forças armadas sionistas.
O relatório “Da Economia de Ocupação à Economia de Genocídio”, lançado em 1 de julho, afirma taxativamente em seu tópico 59:
“59. A BP e a Chevron também são as maiores contribuintes para as importações israelenses de petróleo bruto, como principais proprietárias do oleoduto estratégico Azeri Baku-Tbilisi-Ceyhan194 e do Consórcio Cazaque de Oleodutos do Cáspio, respectivamente, e de seus campos de petróleo associados. Cada conglomerado forneceu efetivamente 8% do petróleo bruto israelense entre outubro de 2023 e julho de 2024, suplementado por embarques de petróleo bruto de campos de petróleo brasileiros, nos quais a Petrobrás detém as maiores participações, e combustível de aviação militar.
O petróleo dessas empresas abastece duas refinarias em Israel. Da refinaria de Haifa, duas empresas listadas no banco de dados do ACNUDH abastecem seus postos de gasolina em Israel e no território palestino ocupado, incluindo as colônias, e as forças armadas, por meio de contratos concedidos pelo governo.
Da refinaria de Ashdod, uma subsidiária da empresa Paz Retail and Energy Ltd., listada no banco de dados do ACNUDH, fornece combustível de aviação para a Força Aérea Israelense que opera em Gaza.”
Nem a Petrobrás nem o Governo Federal comentam o assunto. A mídia liberal e conhecida como “progressista” não publicou nada sobre o relatório ou, em alguns casos, publicou sem citar a Petrobrás.

Lula durante a cerimônia de abertura do Fórum Empresarial dos BRICS, no Rio de Janeiro. Reprodução/Foto: Ricardo Stuckert / PR.
A denúncia da ONU é corroborada pelas duas federações de petroleiros do país, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), governista e filiada à CUT, e a independente Federação Nacional dos Petroleiros. As duas entidades enviaram uma carta ao presidente Lula, a Gleisi Hoffman, Alckmin e outros, em 28 de maio, protestando contra a exportação de petróleo para Israel e utilizaram dados oficiais para reforçar a denúncia:
“Dados oficiais da Agência Nacional do Petróleo apontam que 1.969.485 barris de petróleo foram exportados para Israel em 2023, conjurando 0,34% do total de exportações brasileiras no mesmo ano.
Segundo dados do próprio ComexStat, somente em 2024, durante o genocídio em Gaza, o Brasil exportou o equivalente a US$215.890.164,00 de petróleo bruto a Israel, equivalentes a 2,7 milhões de barris, aproximadamente 3,3% do consumo anual de petróleo do país.
Já uma pesquisa encomendada pela organização sem fins lucrativos Oil Change International revela que o Brasil foi responsável por 9% do total de petróleo bruto fornecido a Israel entre outubro de 2023 e julho de 2024. Os pesquisadores analisaram registros de remessa, imagens de satélite e outros dados de código aberto do setor para rastrear 65 remessas de petróleo e combustível para Israel entre 21 de outubro de 2023 e 12 de julho de 2024, apesar da decisão da CIJ de que os Estados têm a obrigação de prevenir o genocídio e de respeitar e garantir o respeito às Convenções de Genebra.
O ponto é: o Brasil forneceu para Israel o petróleo bruto e refinado para operar sua frota de caças, tanques e outros veículos e operações militares, bem como as escavadeiras que atuam destruindo a infraestrutura nos campos de refugiados e cidades da Cisjordânia ocupada.”
Em outras palavras: o governo Lula-Alckmin e a Petrobrás lucram milhões de dólares com o genocídio na Palestina.
Segundo Leandro Lanfredi, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), filiado à FNP, a direção da Petrobrás recusa-se a atender as seguidas solicitações dos sindicalistas que desejam saber como é o esquema de exportação para Israel.
Lanfredi falou ao Manhã Brasil, jornal matinal do Farol Brasil, na sexta-feira (4 de julho), que a “Petrobrás e governo Lula ocultam envio de petróleo para Israel”. O assunto voltou a ser prioridade no Manhã Brasil em 7 de julho, com a chamada “ONU, FUP e FNP revelam que o Brasil forneceu petróleo para Israel”.
O diretor do Sindipetro disse como funciona o esquema de acobertamento que a Petrobrás e o Governo Federal fazem da operação de exportação de petróleo brasileiro: “O Estado de Israel, com ajuda dessas empresas, faz toda uma engenharia para esconder as operações. Os navios saem do Brasil marcados apenas como ‘exportação’. Exportação para onde? Nós estamos começando a descobrir os portos de locais do mundo para onde fazem essas transferências, de um lugar para outro, até chegar em Israel. Vamos começar a mapear esses navios para podermos ter ações diretas contra essas exportações”.
O Brasil não exporta apenas petróleo e derivados para Israel. Exporta, por exemplo, grandes quantidades de soja. E importa armas (fuzis) que matam jovens negros nas periferias de vários Estados, como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Piauí.
A cumplicidade do governo Lula-Alckmin e da Petrobrás com o sionismo é pública e agora vem à luz do dia com o relatório da ONU. O mesmo vale para os governos estaduais de direita e “progressistas”. Não há nenhuma ilusão quanto à capacidade efetiva de atuação da ONU em relação às informações fornecidas em seu relatório, mas é inegavelmente algo que torna ainda mais evidente a já escancarada contradição entre a postura do governo e as relações econômicas com Israel.