Ato na Câmara marca a luta contra a privatização do SAAE em São Carlos (SP)
A mobilização, construída ao longo das últimas semanas, demonstrou a unidade da categoria, que tem atuado de forma exemplar na conscientização da população sobre os riscos de entregar o saneamento básico à iniciativa privada, citando o aumento de tarifas e a precarização do serviço como consequências prováveis do projeto privatista.

Foto: Marcelo Hayashi / Jornal O Futuro.
Por Marcelo Hayashi
A Câmara Municipal de São Carlos foi palco, na última terça-feira, 17 de dezembro, de um significativo ato simbólico em repúdio à adesão ao UniversalizaSP, que visa abrir caminho para a privatização do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de São Carlos. A atividade não apenas expressou a firme oposição popular à medida, mas também ressaltou a impressionante capacidade de mobilização e organização dos trabalhadores e trabalhadoras da autarquia.
A sessão foi marcada pela presença de servidores do SAAE, que defenderam a manutenção do serviço essencial sob gestão pública e autônoma. A mobilização, construída ao longo das últimas semanas, demonstrou a unidade da categoria, que tem atuado de forma exemplar na conscientização da população sobre os riscos de entregar o saneamento básico à iniciativa privada, citando o aumento de tarifas e a precarização do serviço como consequências prováveis do projeto privatista.
Organização e resistência da categoria
Um dos pontos altos do ato foi a evidência da sólida organização interna dos trabalhadores. Cartazes, palavras de ordem e a disciplina na manifestação refletiram a seriedade com que os servidores do SAAE têm encarado a ameaça de privatização. Eles enfatizaram que a luta não se restringe à defesa de seus empregos, mas é, sobretudo, uma batalha pelo direito fundamental da população a um serviço de água e esgoto de qualidade, acessível e socialmente responsável. Ao longo da última sessão ordinária da Câmara em 2025, os trabalhadores distribuíram adesivos contra a privatização do SAAE.

Foto: Marcelo Hayashi / Jornal O Futuro.
Ressaltaram o caráter da organização dos trabalhadores do SAAE enquanto sua principal ferramenta. Pontuaram que não vão aceitar que um patrimônio público e um direito básico sejam transformados em mercadoria para gerar lucro, e que estão unidos e prontos para barrar essa proposta. A perspectiva, daqui pra frente, é a continuidade da mobilização contra a ofensiva privatista na cidade.
Além disso, os trabalhadores e trabalhadoras do SAAE organizaram um manifesto público para apontar qual o caráter da sua luta, que foi lido ao final da sessão da Câmara, dentro do plenário. Veja no vídeo e leia na íntegra:
Leitura do manifesto ao final da sessão ordinária da Câmara Municipal de São Carlos. Vídeo: Marcelo Hayashi / Jornal O Futuro.
Manifesto dos Trabalhadores do SAAE – São Carlos
Senhoras e senhores, bom dia!
Esta é a voz dos trabalhadores do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Carlos. Voz que denuncia o que há meses nos inquieta e reafirma: O SAAE é do povo e permanecerá com o povo!
Há anos somos vítimas de administrações irresponsáveis. Por exemplo, nos últimos três anos, enquanto faltava mão de obra para garantir o funcionamento básico do SAAE, multiplicaram-se os cargos comissionados e suas remunerações. Faltaram materiais essenciais para o serviço, mas nunca faltaram verbas para publicidade. Tudo isso revela o óbvio: hoje não existe qualquer planejamento sério de médio prazo, apenas improviso, descaso e favorecimento político.
Hoje, mais uma vez, paira sobre nós a ameaça da entrega do SAAE à iniciativa privada, sob o falso pretexto de “melhorar a gestão” que eles mesmos destruíram. São conversas realizadas a portas fechadas, sem participação dos trabalhadores e da sociedade, gerando insegurança para todos:
• O trabalhador teme perder seu emprego.
• O cidadão teme pagar mais caro pela água tratada.
Tudo isso para enriquecer alguém que nunca veremos, às custas do suor do povo.
Reafirmamos: há inúmeros exemplos de piora dos serviços após privatizações. A tendência mundial é clara — a reestatização. Onde houve entrega ao setor privado, houve aumento de tarifas, precarização do trabalho e perda de qualidade.
Estamos aqui reunidos para repudiar:
• O entreguismo da gestão municipal.
• A chantagem da gestão estadual, que condiciona obras essenciais de drenagem à entrega de bens públicos para exploração privada.
Isso significa transformar direitos em mercadoria, precarizar relações de emprego e aumentar tarifas, tudo em nome do lucro de poucos.
Assim, declaramos:
• O SAAE é do povo são-carlense!
• Não aceitaremos intervenções!
• Não entregarão o SAAE!
• Não demitirão os servidores!
• Não ao aumento do preço da água tratada!
• Não à precarização do serviço!
• Não ao UniversalizaSP!
• Não à PPP!
• Não à concessão!
NÃO À PRIVATIZAÇÃO
Participação popular e de organizações políticas

Foto: Marcelo Hayashi / Jornal O Futuro.
A luta contra a privatização ganhou força com a adesão e participação ativa de diversas entidades políticas e movimentos sociais. Destacou-se a presença e o engajamento do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e da União da Juventude Comunista (UJC), e de militantes de outras organizações, como a Unidade Popular (UP), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e pessoas da sociedade civil em geral.
Membros do PCBR estiveram presentes, prestando solidariedade e destacando a natureza política e ideológica da disputa. A militância da cidade tem enfatizado que a tentativa de privatizar o SAAE faz parte de uma ofensiva maior contra os serviços públicos, e reafirmaram o compromisso do partido com a defesa de um saneamento 100% público, estatal e sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras.
A UJC trouxe para a mobilização a energia e a indignação da juventude. A participação dos jovens comunistas reforçou a pauta com panfletagem e distribuição do jornal físico O Futuro, mostrando a importância da luta popular na defesa dos bens comuns.

Foto: Marcelo Hayashi / Jornal O Futuro.
O ato, apesar de não ter impedido a tramitação da sessão na Câmara, serviu como um poderoso termômetro da resistência popular. A mobilização em torno do SAAE continua, e a palavra de ordem é clara: a comunidade e os trabalhadores estão atentos e prontos para intensificar a luta contra qualquer tentativa de entrega do patrimônio público de São Carlos. A batalha pela água e saneamento enquanto direitos segue nas ruas.