Alta no preço dos aluguéis expõe descrédito da população paraense com a COP30
A responsabilidade não está nos moradores da região metropolitana de Belém, mas no projeto político de uma conferência que serve apenas para alavancar negócios e consolidar o poder das burguesias local e global.

Acomodações disponíveis no bairro da Sacramenta, periferia de Belém adjacente ao Parque da Cidade, local da conferência (à direita). Reprodução: Booking.
Por Luciano Rocha
A explosão nos preços de aluguéis por temporada em Belém, às vésperas da COP30, é fruto não apenas da especulação do setor hoteleiro, mas também do descrédito da classe trabalhadora com a conferência. Para os paraenses, o megaevento não significa combate à crise climática nem solução para as mazelas locais: serve, isto sim, como vitrine para governos e grandes corporações, enquanto produz custos e contradições à cidade-sede. Não surpreende, portanto, que moradores busquem arrancar algum benefício imediato com os aluguéis.
A maioria dos anúncios em plataformas digitais não parte de grandes proprietários, mas de trabalhadores que precisarão deixar suas próprias casas para dar lugar a visitantes. Alguns apenas replicam os preços inflados já praticados por hotéis e corretores, vendo na conferência uma oportunidade rara de garantir alguma renda. Inflamadas por denúncias midiáticas sensacionalistas, as redes sociais se enchem de acusações contra os moradores, tachados de “gananciosos” e culpados pelo encarecimento da estadia, exigindo gratidão e viabilização da logística do evento.
Esse moralismo, frequentemente atravessado por xenofobia, acaba por isentar governos e setores da burguesia pela falta de planejamento, especulação imobiliária e caráter excludente das COPs.
Enquanto a elite internacional se prepara para debater “soluções verdes” em auditórios climatizados, o Pará assiste a medidas que destroem a própria floresta que deveriam proteger. A duplicação da Rua da Marinha e a construção da Avenida da Liberdade desmatam e expulsam animais silvestres; cruzeiros altamente poluentes serão utilizados para hospedagem; e no interior, o governo estadual trava campanha contra a proposta do ICMBio de criar uma Unidade de Conservação no Pedral do Lourenço. Investimentos pesados em áreas nobres avançam, mas saneamento, transporte público e controle de enchentes seguem abandonados. Assim, o descrédito não nasce de uma suposta “falta de consciência ambiental” dos belenenses, como repetem os críticos, mas da constatação de que a COP30 é apenas mais um espetáculo global a serviço do capital.
Por um lado, é preciso rechaçar qualquer ataque xenofóbico disfarçado de moralismo ambiental contra a Amazônia e seu povo. Por outro, é urgente dar voz ao sentimento generalizado sobre o que é a COP30: um evento esvaziado de conteúdo, que não enfrenta as causas reais da crise climática e reforça soluções coloniais, como os créditos de carbono e a agenda “ASG” dos monopólios. A responsabilidade não está nos moradores da região metropolitana de Belém, mas no projeto político de uma conferência que serve apenas para alavancar negócios e consolidar o poder das burguesias local e global.