Crise dos Correios reacende campanha privatista

Diante das alegações de rombo fiscal da empresa, setores da burguesia se aproveitam para defender a privatização dos Correios. Uma das maiores empresas postais do mundo, a estatal é fundamental para garantir entregas em todo o território brasileiro.

13 de Dezembro de 2025 às 21h00

Reprodução/Foto: Correios.

Por Jaqueline Tavares

Os Correios têm passado por uma crise financeira, com previsão de rombo financeiro para 2026. Desequilíbrios financeiros e queda de receita têm sido seguidos por medidas como plano de reestruturação, programa de demissão voluntária (PDV), fechamento ou venda de agências e imóveis e cortes de despesas operacionais.

Há três principais razões para a crise. A taxação sobre as compras internacionais, a chamada “taxa das blusinhas”, tem feito as entregas ligadas a esse segmento despencarem. Além disso, há a concorrência com empresas privadas de entrega, como Amazon e Mercado Livre. Essas empresas, guiadas pelo lucro e com regimes de trabalho cada vez mais exploratórios, conseguem vantagem de mercado a partir de salários mais baixos e ignorando demandas sociais que os Correios cobrem. Por fim, a própria gestão dos Correios tem sido prejudicada pelas próprias medidas neoliberais de administração das empresas públicas, que começaram no Governo Temer, passaram pelo Governo Bolsonaro e se mantêm no Governo Lula a partir do Arcabouço Fiscal.

Diante de um problema real causado pelas próprias medidas neoliberais, a resposta da burguesia é mais desmonte do serviço público. Nos jornais, economistas argumentam que a privatização é “inevitável”, ignorando o processo que levou a crise da estatal e as demandas sociais que ela cumpre.

Os Correios são a única empresa presente em todos os municípios brasileiros, entregando cartas, encomendas, livros didáticos, materiais de exames, vacinas, remédios e serviços postais universais. Isso garante que populações de áreas remotas, rurais ou menos rentáveis economicamente tenham acesso a serviços básicos — algo que nenhuma empresa privada é capaz de alcançar, uma vez que seu objetivo é gerar lucro, não responder às demandas dos trabalhadores de todo o Brasil. A privatização, além de deixar essas demandas pendentes, pode fazer os custos do serviço subirem, como tem demonstrado casos recentes de privatização, como a SABESP e a concessão da ENEL.

As ameaças de privatização aos Correios não são novidade. Desde os anos 1990, passando pelos Governos Temer, Bolsonaro e agora Lula, os Correios sempre estiveram no radar da privatização. O fim da estatal significaria não apenas uma nova frente de lucro para a burguesia, mas o fim do cargo público concursado para uma categoria com histórico de mobilização e a ampliação do mercado das entregas feitas por empresas privadas, marcada por jornadas exaustivas, pela escala 6x1 e por práticas de demissão e perseguição a trabalhadores, tornando a mobilização dos trabalhadores por seus direitos cada vez mais difícil.