Militante da UJC é premiada por artigo que denuncia a violência de gênero e questão fundiária na Amazônia
Pesquisa foi reconhecida na Mostra Científica do 60º Congresso da UNE e será publicada em revista da ANPG.

Foto: Arquivo Pessoal/Cecília Lima.
A camarada Cecília Lima, militante da UJC e estudante de História da Universidade Federal do Amapá (Unifap), teve seu artigo premiado na Mostra Científica do 60º Congresso da UNE, realizado em Goiânia (GO). Com o título “Memórias das lutas de mulheres do campo no Amapá”, o trabalho foi reconhecido na categoria Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e selecionado para publicação na revista científica da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Resultado de sua iniciação científica sob orientação da professora Ana Cristina Maués, o artigo dá visibilidade à luta das mulheres amazônicas do campo, que diante de múltiplas formas de violência e marginalização, produzem formas próprias de resistência..
A pesquisa parte de quatro comunidades do estado: o assentamento Bom Jesus dos Fernandes (Tartarugalzinho), o quilombo urbano Lagoa dos Índios, a comunidade ribeirinha Foz do Rio Mazagão Velho e a Vila Progresso, no arquipélago do Bailique. Nelas, investigou, por meio da história oral e da observação de campo, como a violência de gênero se expressa nesses territórios.
O interesse pelo tema foi mobilizado a partir da atuação de Cecília com a Comissão Pastoral da Terra, onde teve contato direto com populações ribeirinhas e camponesas:
“No convívio cotidiano, pude ver de perto a realidade das famílias afetadas - como são compostas, onde vivem e, principalmente, o papel das mulheres na relação com a terra e na luta por ela. Esse olhar mais atento revelou algo que muitas vezes passa despercebido: poucas pessoas compreendem a profundidade da relação entre corpo e território, e esse entendimento se torna quase inexistente quando buscamos refletir sobre a violência de gênero no campo”
Para além de denunciar a ausência de políticas públicas de saúde, segurança e educação, o artigo revela como a violência de gênero está profundamente articulada com as violações do direito à terra. A ausência de titulação de territórios quilombolas e a precariedade dos assentamentos de reforma agrária bloqueiam o acesso das mulheres aos serviços públicos, ampliando sua vulnerabilidade. Das cerca de 40 comunidades quilombolas no Amapá, apenas cinco são tituladas.
A camarada revela que falar sobre populações camponesas e ribeirinhas dentro da universidade ainda é um grande desafio, pois esse debate muitas vezes está distante da realidade vivida por esses grupos. Ela relata que, em sua pesquisa, busca “não apenas evidenciar as formas de resistência dessas populações, mas também contribuir com a luta cotidiana que travam e que, no Amapá, ainda é pouco visibilizada". Sua pesquisa escancara os conflitos por terra e contribui para aprofundar a compreensão da violência de gênero no campo, o que, segundo Cecília, “exige um olhar específico, sensível à realidade dessas mulheres, cuja relação entre corpo e território é profunda e indissociável”.
A conquista da camarada revela a importância da disputa de conhecimento dentro das universidades, fortalecendo a construção de uma ciência conectada com a realidade da classe trabalhadora brasileira e dos povos oprimidos em geral e comprometida com a transformação radical da sociedade.