Com 500 processos trabalhistas, Bauer Express pede recuperação judicial e tenta censurar comunistas

Com mais de cem unidades atendendo mil municípios do Sul e de São Paulo, a empresa prometia dominar o mercado nacional. Mas, enquanto expandia, multiplicavam-se os atrasos de salários, o não pagamento de benefícios, o assédio moral e a perseguição a quem reclamava.

17 de Novembro de 2025 às 15h00

Foto: Reprodução.

Por Pablo Mucelini e Murilo Graf

A Bauer Express, empresa de logística com sede administrativa em Chapecó, viveu um crescimento meteórico até 2024. Com mais de cem unidades atendendo mil municípios do Sul e de São Paulo, a empresa prometia dominar o mercado nacional. Mas, enquanto expandia, multiplicavam-se os atrasos de salários, o não pagamento de benefícios, o assédio moral e a perseguição a quem reclamava.

Colapso e recuperação judicial

No dia 10 de maio, após novos atrasos salariais e denúncias se acumularem, a empresa entrou em colapso. Reportagens do jornal comunista Chapecó Crítica, construído por militantes do PCBR revelaram centenas de casos de assédio e práticas comerciais duvidosas. As denúncias provocaram paralisações, o que levou ao fechamento de unidades e uma debandada geral de trabalhadores e entregadores pejotizados.

Mais de 500 funcionários e parceiros estão processando a Bauer, cobrando salários, FGTS, férias e vale-alimentação e transporte. Muitos dos que pediram demissão também não receberam as verbas rescisórias.

Em 14 de julho, a empresa protocolou pedido de recuperação judicial na 1ª Vara Regional de Falências e Recuperações Judiciais e Extrajudiciais da Comarca de Concórdia (SC).

O rol de credores já conta com 1.383 pessoas físicas e 912 jurídicas, totalizando 2.295 cobradores. A dívida é estimada em mais de R$47 milhões. A maioria das vítimas são trabalhadores assalariados, pejotizados e pequenas empresas fornecedoras.

Em agosto a empresa disse ter se “reestruturado”, deixando de operar em São Paulo. Segundo relatos dos funcionários, o Grupo Bauer reúne várias empresas ligadas à família Bauer, com compartilhamento de estruturas e recursos. Agora, os donos tentam separar patrimônio e dívidas em CNPJs diferentes, uma estratégia típica de blindagem dos bens da família. Querem deixar o prejuízo para os trabalhadores.

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Tentativa de censura

Enquanto enfrentavam centenas de ações trabalhistas, os proprietários Genoir Bauer e Gentil Bagatini tentaram calar as denúncias. Registraram queixa-crime contra Pablo Mucelini e Johnatan Mucelini, militantes do PCBR e membros do coletivo Chapecó Crítica, acusando-os de difamação. Dizem ser mentira que a empresa tenha deixado de cumprir obrigações com os funcionários.

Bagatini prestou depoimento à polícia dizendo ser falsa a afirmação de que a Bauer se encaminhava para pedir recuperação judicial. Poucos dias depois, a empresa protocolou o pedido.

Os empresários simplesmente alegaram que todas as publicações do jornal eram falsas. Contudo, a Justiça rejeitou a queixa-crime, inocentando os comunistas de todas as acusações. A Bauer Express ainda recorre da decisão.

Enquanto isso, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina permanecem inertes. A recuperação judicial é frequentemente usada de má-fé por grandes empresas, um mecanismo da burguesia para proteger o capital e transferir os prejuízos aos trabalhadores. Evidentemente não há intenção nenhuma de fiscalização por parte do Estado.

Silêncio em Chapecó

Mesmo diante de mais de dois mil credores e centenas de processos, o prefeito João Rodrigues não se pronunciou sobre o caso. Famoso nas redes sociais por seus discursos moralistas, ele diz combater a “bandidagem”, mas ignorou os trabalhadores lesados pela empresa sediada na cidade.

A Câmara de Vereadores de Chapecó seguiu o mesmo caminho: não houve moções, convocações dos empresários ou manifestações públicas. Nem os autodeclarados parlamentares de esquerda (PT, PCdoB), nem os de direita (PL, PSD) se posicionaram em defesa dos trabalhadores.

A mídia burguesa local também silenciou. Veículos como ClicRDC, ND+, Diário do Iguaçu, Rádio Chapecó e Rádio Condá ignoraram o caso, preferindo pautas banais a noticiar o golpe que prejudicou centenas de trabalhadores da região.

Outras falências na região

Casos semelhantes marcaram a história econômica da região. A falência do frigorífico Chapecó Alimentos, em 2005, deixou 5 mil funcionários diretos e 3 mil famílias integradas sem sustento. A massa falida chegou a 1 bilhão de reais. Na falência do frigorífico Diplomata, iniciada em 2012 e hoje revertida pela justiça, outros 5 mil trabalhadores e milhares de produtores foram lesados.

Esses episódios mostram a lógica do sistema capitalista. A relação de trabalho assalariado pressupõe que o risco do negócio é do capitalista. Ele investe o capital, e, como premiação pelo risco, recebe em troca a mais-valia, extraída do trabalho dos funcionários. Na prática, essa regra é quebrada pelo sistema capitalista, e o risco e seus prejuízos são transferidos aos trabalhadores.

Enquanto isso, os donos seguem ricos, protegidos por múltiplos CNPJs e um Estado que fecha os olhos. Se eles forem extremamente incompetentes e perderem todo o capital acumulado, o pior que lhes acontece é se tornarem trabalhadores. No capitalismo, o trabalho e os prejuízos são socializados, enquanto os lucros são privados.