Greve de operários da construção civil em Fortaleza e região metropolitana mostra força na campanha salarial
O setor da construção civil vem batendo recorde de crescimento em Fortaleza e região metropolitana em todas as áreas, em 2025, até o momento, a comercialização cresceu 20% em relação ao ano anterior.

Aprovação da greve dos trabalhadores da construção civil em Fortaleza. Reprodução/Foto: STICCRMF.
Por Nalbert Pietro
Os trabalhadores da construção civil de Fortaleza e região metropolitana decidiram no dia 8 de Maio paralisar os canteiros de obra por tempo indeterminado, construindo uma greve que entre as reivindicações estão melhores salários, redução da jornada de trabalho e vale combustível. Essa é uma decisão que mostra a disposição da categoria de não se dobrar às propostas rebaixadas dos patrões.
A greve foi decretada em uma assembleia com mais de 3 mil operários, e ocorreu cerca de vinte dias após o início das mobilizações de estado de greve, que contou com paralisações parciais dos canteiros de obra e recusa dos trabalhadores de realizar horas extras. Durante esse período houve mobilização massiva de trabalhadores que paralisaram seus canteiros e marcharam nas redondezas.
A disposição que conduziu as mobilizações para a construção da greve vem como uma resposta a posição dos empresários, representados pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), que se mostraram intransigentes ao negar o vale-combustível exigido pelos operários, negar um reajuste com ganho real no vale alimentação e outras reivindicações, como o fim dos assédios nos canteiros de obra.
Além disso, os empresários do setor propuseram um reajuste salarial ínfimo, que mesmo acima da inflação não apresentava um aumento sequer suficiente para repor perdas da categoria, e mostraram indisposição de debater melhores condições de trabalho, enquanto acumulam acidentes de trabalho e mortes causadas pela falta de segurança adequada nos canteiros, que se somam às precarizações de todas as demais condições, como alimentação estragada sendo entregue aos trabalhadores e bebedouros sem manutenção e água fervente.
Em uma das mobilizações, dia 28 de abril, os trabalhadores perderam a paciência com as más condições de trabalho e assédios no canteiro de obra, o que resultou na quebra do vidro do escritório da empresa e derrubada de tapumes. O Sinduscon-CE em aliança com a mídia burguesa utilizaram esse episódio para tentar criminalizar os trabalhadores, que mesmo assim receberam apoio da opinião pública ao mostrar suas condições de trabalho, mas tiveram seu direito a manifestação atacados por uma liminar do TRT-7 que proibia qualquer manifestação a menos de 200 metros das obras.
O dia a dia da greve
A greve iniciou dia 12 de Maio e segue com mobilizações diárias na Praça Portugal, onde os trabalhadores se encontram para seus momentos políticos e recepcionam seus colegas vindos dos piquetes que ocorrem nas obras que insistirem em continuar funcionando e partem em marcha ou motociatas pela cidade. A greve foi reafirmada pela categoria dia 15 de maio e a diretoria do sindicato estima que cerca de 80% dos canteiros estão paralisados, o que demonstra novamente a disposição da categoria.
Um dos diretores do sindicato relatou que na visita a uma obra que tenta obrigar os operários a continuar trabalhando encontrou duas dezenas de capangas, alguns armados, que tentaram intimidá-lo e impedir que mobilizasse os trabalhadores a deixar seus postos para participar das atividades de greve. Situação que se repetiu em diversos canteiros, mostrando que a burguesia está disposta a usar a violência para combater a luta por melhores salários e condições de trabalho. Mesmo com o assédio por parte dos empresários para que os trabalhadores não participassem da greve, foi relatado que os operários tiveram corte em seus pontos, mesmo os que optaram em furar as mobilizações.
O dia a dia das mobilizações são momentos que extrapolam a luta por vale-combustível e salários, servem de confraternização e debate sobre outras lutas. Na terça-feira, 13 de maio, os operários reunidos na Praça Portugal também se organizaram para votar no Plebiscito Popular Chuva de Veneno Nunca Mais, Revoga Já! que mobiliza contra a medida do Governo Elmano (PT-CE) que liberou a pulverização de agrotóxicos por drones. Essa liberação ocorre cinco anos depois da vitoriosa campanha pela implementação da Lei Zé Maria do Tomé, que proibia a pulverização aérea de agrotóxicos e leva o nome de um mártir da luta no campo morto com cerca de 25 tiros. Dia 14 de maio houve falas e distribuição de panfletos da campanha em defesa do mandato do deputado federal Glauber Braga.
As reivindicações da categoria e a necessária unidade operária contra os patrões
Uma das reivindicações da categoria é que o vale transporte possa ser utilizado como vale combustível. Essa reivindicação que parece simples, pois bastaria substituir um pelo outro quando o trabalhador optar, é ponto de intransigência do Sinduscon-CE e muitos operários apontam que isso ocorre pela parceria que há com os empresários de outro setor, o de transporte representados pelo Sindiônibus, que teriam encontrado uma forma de lucrar com o que deveria ser direito dos trabalhadores, e revelaria a simbiose das frações da burguesia na cidade para manter altos lucros e controlar os direitos.
Os trabalhadores também colocaram como reivindicação em sua campanha o fim do trabalho aos sábados, medida essa que representa luta pela redução da jornada de trabalho travada pela categoria, que já conquistou outrora avanços nesse sentido. Até 2018 a CCT previa um limite máximo de 8 sábados trabalhados em um ano, com no máximo 2 sábados consecutivos, essa cláusula regrediu após isso, mantendo apenas a limitação no número de sábados consecutivos que podem ser trabalhados. Apesar da jornada normal já ser compreendida de segunda a sexta, o trabalho ao sábado é rotineiro. A conquista dessa reivindicação representaria a abolição da semana com mais de 5 dias trabalhados e um importante passo na luta pela escala 4x3 e de, no máximo, 30 horas semanais, além de impulsionar a luta pelo fim da escala 6x1.
Antes de retirar as propostas, os patrões haviam oferecido um aumento salarial para aparecerem como benfeitores por ser um aumento acima da inflação, mas os trabalhadores não caíram nesse discurso, pois sabem da exploração e da desvalorização de seus trabalhos. A proposta patronal representaria um aumento ínfimo nos salários, em uma categoria onde a busca por mão de obra é cada vez mais difícil, pela escassez de trabalhadores aptos e as condições de trabalho que não atraem novos. Isso já é suficiente para os trabalhadores exigirem salários muito melhores que os oferecidos, na luta pela melhor venda da sua força de trabalho. O setor da construção civil vem batendo recorde de crescimento em Fortaleza e região metropolitana em todas as áreas, em 2024 o crescimento valor geral de vendas foi o maior em mais de 15 anos, e em 2025, até o momento, a comercialização cresceu 20% em relação ao ano anterior, e muitos outros índices demonstram que os empresários do setor vêm lucrando cada vez mais à custa do suor e sangue dos operários, que agora se organizam contra essa exploração desenfreada.
Dezenas de sindicatos e outras entidades já demonstraram apoio à categoria, esse apoio precisa ser transformado em organização, fazendo crescer as atividades da greve, os piquetes e o esclarecimento para a categoria e para toda a população para desmascarar os patrões e possibilitar melhores condições de luta. Isso também exige que a unidade da categoria seja demonstrada na prática, possibilitando que as ações de todos os grupos de trabalhadores organizados na categoria e dispostos a lutar participem ativamente na construção de todas as etapas da greve, formando comitês por empresa com representatividade no comando geral de greve, formando novos lutadores junto com outros já experimentados nas lutas desses trabalhadores.
As demonstrações de força da categoria já fizeram algumas empresas buscarem o sindicato para fechar propostas individualmente que contemplem, sobretudo, o vale-combustível. Esse movimento deve ser utilizado para pressionar todos os patrões para que aceitem as reivindicações da categoria. Essa vitória só pode vir, mesmo que parcialmente, se a greve continuar sendo travada por toda a categoria unida, independente de empresa. Como em outros momentos, a greve dos trabalhadores da construção civil pode incendiar esse novo ciclo de lutas de toda a classe operária.