Estudantes da UFMS são processados por lutar pelo Restaurante Universitário
A mobilização reuniu Centros Acadêmicos e estudantes de diferentes cursos e resultou em um protesto no campus, contra um edital com apenas 160 auxílios de R$300, enquanto mais de 1.500 estudantes utilizavam o RU diariamente.

Foto: Divulgação.
Estudantes do campus Três Lagoas, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) estão sendo alvos de processos administrativos após realizarem um ato pacífico em defesa do Restaurante Universitário, fechado pela reitoria em fevereiro deste ano. O motivo do fechamento foi uma série de irregularidades envolvendo a empresa terceirizada responsável, com indícios de superfaturamento. Ainda assim, a resposta da gestão foi insuficiente: um edital com apenas 160 auxílios de R$300, enquanto mais de 1.500 estudantes utilizavam o RU diariamente.
A mobilização reuniu Centros Acadêmicos e estudantes de diferentes cursos e resultou em um protesto no campus. A resposta institucional foi a criminalização: seis estudantes e um professor do IFMS foram intimados – entre eles, presidentes dos CAs de História, Biologia, Administração e Engenharia de Produção.
Segundo relatos dos estudantes, a mobilização foi completamente pacífica e buscava garantir um direito básico. Para eles, defender o Restaurante Universitário é defender o direito de permanecer estudando. A perseguição, no entanto, teve um efeito imediato de intimidação: muitos estudantes se afastaram das lutas por medo de sofrerem represálias.

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O caso evidencia também os efeitos da terceirização das atividades-meio nas universidades públicas. A contratação de empresas privadas para gerir serviços como o RU tem se mostrado uma política fracassada: as denúncias de superfaturamento, a baixa qualidade da alimentação e a interrupção do serviço são consequências diretas dessa lógica. Enquanto a empresa lucra, os estudantes ficam sem acesso a um direito essencial. A terceirização representa a precarização do trabalho e da permanência, abrindo espaço para relações frágeis e contratos opacos, ao invés de estruturas sólidas e comprometidas com a qualidade do serviço público.
Essa realidade está inserida em um quadro nacional de arrocho orçamentário nas universidades federais, aprofundado pelo arcabouço fiscal, que congela recursos e impede qualquer recomposição real dos investimentos públicos. As universidades federais acumulavam mais de R$2,5 bilhões em perdas em 2024, segundo estimativas das reitorias. Sem verbas, os primeiros cortes recaem sempre sobre as políticas de permanência, como auxílios, bolsas e restaurantes universitários, como por exemplo na UNIFAP, que está passando por um desmonte das políticas afirmativas.
Os ataques à educação e à permanência não são exceção – mas a regra do projeto neoliberal em curso. O que a repressão na UFMS deixa claro é que não é possível nutrir ilusões com reitorias e governos. O movimento precisa encontrar a força na unidade com estudantes de outras universidades e suas entidades representativas, e com os demais setores da universidade para derrotar a perseguição e garantir alimentação de qualidade e acessível para o corpo discente.