UFPR: Estudantes barram fascistas e PM invade campus
A Polícia Militar do Paraná, assumindo a defesa dos elementos de extrema-direita, prendeu um estudante e agrediu outros, dentro e fora da universidade, com golpes, balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo.

Estudantes e militantes ocupando o prédio histórico da UFPR. Foto: Jornal O Futuro.
Na noite do dia 09 (nove) de Setembro, estudantes e manifestantes ocuparam o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, em frente à praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. A ocupação ocorreu a fim de inviabilizar a palestra com teor golpista, intitulada “Como o STF tem alterado a interpretação constitucional?”, agendada pela professora do curso de Direito Maria Cândida Kroetz. Os palestrantes convidados seriam o vereador curitibano de extrema-direita Guilherme Kilter (NOVO) e o advogado criminalista, especializado em defender policiais militares acusados de mortes civis em operações, Jeffrey Chiquini, que assumiu a defesa de Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, acusado de ser o mentor da chamada Minuta do Golpe. A palestra, que já pelo tema revela o discurso reacionário de ataque ao Supremo Tribunal Federa, tinha o intuito de defender os Bolsonaro e os militares indiciados por golpe de estado, colocando em dúvida a legitimidade do STF justamente no dia inicial do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e sua quadrilha de criminosos golpistas.
Ciente do posicionamento dos estudantes, contrários ao evento, e a fim de evitar conflitos,a própria professora organizadora cancelou o evento, e a UFPR orientou, através do vice-diretor da Faculdade de Direito, os convidados a não adentrar o prédio onde a ocupação já estava instaurada. Apesar disso, Kilte Chiquini e seus apoiadores, forçaram passagem para dentro do prédio, empurrando os que entraram em seu caminho. Estudantes e membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPR, acompanhados de militantes de esquerda de variados partidos, dentre eles o PCBR e a UJC, reforçaram o bloqueio da passagem dos fascistas e os expulsaram do campus com gritos e palavras de ordem. O confronto durou cerca de meia-hora, até o vereador e advogado serem escoltados para fora por seus militantes, e como esperado, pintaram um quadro de vítima, que haviam sido agredidos pelos estudantes, e, uma vez que seguros de que seriam acompanhados pela Polícia Militar, voltaram a incitar e provocar os manifestantes.
A Polícia Militar do Paraná, assumindo a defesa dos elementos de extrema-direita, prendeu um estudante e agrediu outros, dentro e fora da universidade, com golpes, balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Em um ato flagrantemente ilícito e inconstitucional a polícia invadiu o Prédio Histórico, pela primeira vez em mais de cem anos, como afirma a nota de repúdio lançada pela APUFPR-SSind, onde a maior parte dos manifestantes se encontrava, agredindo os manifestantes presentes com spray de pimenta e gás lacrimogêneo, agindo de maneira desproporcional, como afirma a nota lançada pela UFPR, que diz:
“Mesmo após o cancelamento e a orientação expressa da Vice-Direção para que não ingressassem no prédio, os palestrantes forçaram sua presença em adentrar ao espaço. A partir disso, intensificaram-se as manifestações estudantis e, sem que houvessem sido acionadas institucionalmente, forças de segurança pública ingressaram no prédio histórico indevidamente e atuaram de forma desproporcional.”
A reportagem do jornal O Futuro buscou o estudante preso pela Polícia Militar e conseguiu uma entrevista exclusiva com o graduando em ciências sociais, que além de estudante é poeta periférico e responde pelo vulgo de Refem, e que, de maneira ironicamente poética, foi feito de refém pelos policiais. Sobre os acontecimentos do dia 9 ele relata:
“Fui chamado para compor uma manifestação que ia ter aqui, um evento que ia ter na escadaria do prédio histórico aqui da faculdade, e o objetivo era fazer com que não rolasse uma palestra de dois caras de extrema direita e acabou escalando. Na hora que foram entrar eles acabaram encontrando com o Vice-Diretor da Faculdade de Direito que aconselhou eles a não entrarem dentro do prédio, mas eles empurraram esse professor para entrar no prédio do mesmo jeito.”
Ele testemunhou também a confusão dentro do edifício centenário, e desmente a falsa narrativa de “pacíficos” e “democráticos” construída pelo vereador e advogado fascistas:
“Eles se trancaram do lado de dentro com o pessoal deles na frente da porta, na escolta e o tempo todo a gente falando pra eles saírem. E eles começaram a acusar de que a gente tinha sequestrado eles e mantido eles em cárcere privado dentro da sala, sendo que a sala foi trancada por dentro (...) na hora que eles saíram foi aberto espaço pra eles saírem, mas eles preferiram continuar provocando. Teve um cara que deu um tapa na cara de uma estudante lá no meio da muvuca, deu um pulo e um tapa na cara da estudante. Acabou tudo escalando muito rápido e na hora que eu vi, a gente estava numa escadaria perto da saída lateral da faculdade, que foi quando a polícia entrou na faculdade.”
Refem também descreve o momento em que foi realizada sua detenção, depois de sair do prédio, fugindo da repressão policial dentro da Universidade junto de outros manifestantes:
“(...) nessa hora eu meio que olho pro lado e vejo que um policial veio na minha direção e eu tento ser discreto porque eu não imaginei que ele estava vindo me pegar, mas nisso que eu virei ele começou a correr atrás de mim, eu tentei correr, mas ele se jogou em cima de mim (...) Nesse mesmo momento juntou muitos policiais, esse cara que me pegou me arrastou pelo pátio da faculdade, pelo chão da praça (...) e começou a juntar muito policiais de cima de mim. Eu acabei em um momento com a blusa enrolada na cabeça sem conseguir ver quase nada, mas enfim, eu tomei chutes, tomei socos, nessa muvuca fui arrastado e só conseguia ver que tinham duas pessoas que estavam ali tentando me soltar, mas não tinha uma multidão. Enfim, nessa hora me deixaram no chão por um tempo ainda. Depois eu levantei, me carregaram até o camburão me chamando de bandido, mandando abaixar a cabeça, apertaram a algema. Fiquei até com a mão marcada no dia, e fiquei com um cortezinho pequeno aqui na minha mão da algema apertada.”
Questionado das justificativas que levaram a polícia a efetuar sua prisão, Refem nos informou que foi acusado de desacato, agressão e resistência à prisão; todas essas justificativas não se sustentam frente aos fatos do que realmente ocorreu, e o estudante reflete sobre a real motivação da sua prisão, entre tantos estudantes e manifestantes presentes:
“Ele [Chiquini] postou uma foto minha e desse meu amigo nos stories chamando a gente de marginal e de bandido, deduziu que a gente não era estudante, sendo que desde o começo da discussão lá em cima, eu falei que eu era estudante pra ele (...) É uma narrativa, chamar a gente de bandido e enfim, toda essa questão ela é muito clara assim, tipo porque você mirar em dois estudantes negros que estavam numa manifestação, um deles ser levado preso, depois de postar foto desses dois estudantes acusando eles de bandido sem ao menos saber de nada. A história deles pra mim é uma narrativa bem clara de racismo mesmo, sabe?"
O relato de Refem nos traz dois pontos. Primeiro ele desmente a narrativa de vítima construída por Kilter e Chiquini; esses entraram no prédio de maneira truculenta, mesmo aconselhados a não fazê-lo, e com a palestra cancelada, agrediram estudantes, se trancaram em uma das salas do prédio de livre e espontânea vontade, e ao serem escoltados para fora incitaram mais uma vez o conflito. E, em segundo plano, é mais uma denúncia a forma agressiva e desproporcional com a qual a Polícia Militar do Paraná, e do Brasil inteiro, age quando lidando com jovens periféricos, pobres e negros, como no caso de Wender Natan (20) e Kelvin Willian (16), executados pela Polícia Militar do Paraná em Londrina no começo do ano.
Por fim, como bem pontuado por Rogério Galindo, no Jornal Plural, Kilter e Chiquini não tinham real interesse em nenhum debate, não, foram convidados para por duas horas invocarem rasos e distorcidos discursos acerca do Estado Democrático de Direito e de um suposto cerceamento da liberdade de expressão única e exclusivamente para consolidarem mais sólidas bases a fim de lançarem cada um sua própria campanha para delegado. Por isso incitaram tanto o conflito, a história de “dois bravos candidatos que enfrentaram os esquerdistas” serve melhor para consolidar uma figura pública forte para a base de eleitores de direita, esse é o projeto e plano dos facistas de norte a sul do país, consolidar uma figura pública combativa enquanto atua constantemente à favor do status quo e as formas de opressão da nossa classe.