UFS se curva ao vereador bolsonarista Lúcio Flávio (PL)
Estamos observando um caso grave: ao cancelar a prova de redação do vestibular EAD, a UFS cedeu de forma vergonhosa às bravatas do bolsonarismo e à cartilha “anti-doutrinação” da extrema-direita, sem apresentar justificativa e respostas concretas para os vestibulandos.

Memorial da Democracia no campus São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe. As três mãos representam a verdade, memória e justiça. Reprodução/Foto: UFS/Dayanne Carvalho.
Por Jeadi Frazão
No Brasil, o acesso ao ensino superior público ainda não é universalizado, ou seja, não é para todos e, em especial, exclui por meio do vestibular a maioria proletária da população. Nesse sentido, o vestibular opera como um filtro social, que bloqueia o acesso da classe trabalhadora à universidade, enquanto alimenta o mercado dos cursinhos, editoras e provas preparatórias, garantindo uma clientela para a rede privada de ensino e transformando o direito à educação em mercadoria.
Por esses e outros motivos, como o alto grau de precarização e informalidade no mercado de trabalho, a escala 6x1, as duplas e triplas jornadas de trabalho para as mulheres, o racismo e a LGBTIfobia, a violência policial nas periferias, etc., cada etapa do vestibular gera muita ansiedade, medo, preocupação, angústia, enfim, muita tensão e sofrimento psíquico, principalmente para quem vive esse momento como um divisor de águas na vida, para aquelas pessoas que apostam em entrar e se formar na universidade como uma forma de manter vivo o sonho de melhorar suas condições de vida e ter um horizonte mínimo de futuro.
Agora imagine que você passou por todo esse processo cansativo, extenuante, que engloba não apenas essa prova, mas todos esses problemas que citamos somados aos anos de estudo e preparação, e depois disso tudo, a instituição na qual você prestou vestibular cancela a prova de redação por meio de uma nota confusa e problemática, isso tudo por conta das bravatas da extrema-direita bolsonarista. Foi o que aconteceu nos últimos dias na Universidade Federal de Sergipe (UFS).
A prova de redação e as bravatas de Lúcio Flávio (PL)
No domingo, 10/08, foi aplicada a prova de redação do vestibular para a graduação na modalidade de Ensino à Distância (EAD) da UFS. O tema era “O avanço do neonazismo no século XXI”. Os textos disparadores abordavam a relação entre o avanço do bolsonarismo e do neonazismo no país, assim como a circulação de discursos da extrema-direita nas plataformas digitais.
Foi o suficiente para que no dia 12/08, um vereador de Aracaju, o bolsonarista Lúcio Flávio (PL), começasse a agitar em suas redes sociais e no Plenário da Câmara Municipal de Aracaju, de forma sensacionalista, arrogante e ameaçadora, o “crime” cometido pela instituição, considerando a escolha do tema como “proselitismo político ideológico”.
No Instagram, o vereador fala em “ativismo na prova da UFS”, agitando a cartilha do movimento “Escola Sem Partido”, do qual é um representante e militante fervoroso, como denunciado recentemente pelo jornal O Futuro.
Esse movimento, que defende o desmonte da educação pública e a censura nas escolas e universidades, tem ganhado espaço no estado atacando a deputada estadual Linda Brasil (PSOL) e agora a Universidade Federal de Sergipe, instituição que cedeu às intimidações e bravatas do agitador bolsonarista.
A resposta da UFS
Enquanto o vereador Lúcio Flávio esbravejava contra a “doutrinação” na UFS, várias entidades estudantis denunciaram um caso de apologia ao nazismo, homofobia e incitação da violência que teria acontecido em um grupo de estudantes no WhatsApp.
Em nota conjunta, as entidades afirmaram que alguns estudantes chegaram a prestar Boletim de Ocorrência na Delegacia Regional de Itabaiana e na Polícia Federal, via internet.
Neste mesmo dia 12/08, a UFS publicou uma nota oficial no Instagram que é, para dizer o mínimo, confusa. Vejamos: na nota a instituição “lamenta o ocorrido”, em relação ao tema da prova de redação e esclarece que não possui acesso prévio ao conteúdo das avaliações.
Em seguida, afirma que “não coaduna com qualquer forma de discriminação, polarização política ou radicalismo ideológico”, sendo uma instituição “que preza pela democracia, pluralidade e diálogo”.
Mas o que isso significa? Qualquer avaliação científica, jornalística e/ou crítica sobre o avanço do bolsonarismo e do neonazismo na sociedade brasileira agora será considerada “discriminação”, “polarização política” ou “radicalismo ideológico”?
Ao prezar pela “democracia, pluralidade e diálogo”, a instituição adotará como tática o silêncio diante do avanço da extrema-direita no Brasil, no mundo e dentro da própria UFS?
Conclusão
O Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da Educação da UFS (SINTUFS) apresentou posição mais acertada, ao afirmar em publicação que “o papel da universidade é justamente o contrário: promover pensamento crítico e livre e a reflexão, sem recuar diante do medo ou tentativas de silenciamento”.
Cumpre lembrar que, em maio, o curso de Administração da UFS promoveu um evento em parceria com o “Laboratório de Estudos do Oriente Médio” (LEOM), entidade do lobby sionista em que um dos Diretores Acadêmicos é André Lajst, um agente do Estado de Israel atuando no Brasil.
O evento em questão serviu para que o convidado fizesse propaganda do exército israelense, que promove a limpeza étnica e o genocídio do povo palestino – inclusive civis, crianças e mulheres – na Faixa de Gaza e na Cisjordânia Ocupada.
Nesse caso, tal como no caso de apologia ao nazismo e homofobia que citamos antes, não houve nota oficial da instituição lamentando o ocorrido, nem se posicionando contra a “discriminação” e o “radicalismo ideológico”.
Estamos observando um caso grave: ao cancelar a prova de redação do vestibular EAD, a UFS cedeu de forma vergonhosa às bravatas do bolsonarismo e à cartilha “anti-doutrinação” da extrema-direita, sem apresentar justificativa e respostas concretas para os vestibulandos.
Cabe ao movimento estudantil e sindical, além de construir a luta pelo fim do vestibular e pela universalização do ensino superior público, pressionar a atual Reitoria para que apresente soluções aos vestibulandos e cumpra o seu papel no combate ao nazismo, ao sionismo, à homofobia e todas as formas de opressão e exploração do humano pelo humano.