Escola Sem Partido fomenta censura e intimidações em Sergipe

Recentemente, o vereador Lúcio Flávio (PL/SE) protocolou um pedido de sindicância para investigar palestras políticas em escolas estaduais de Sergipe. O parlamentar da extrema direita possui um histórico de atuação e apreço a ONG "Escola Sem Partido".

9 de Agosto de 2025 às 21h00

A prefeita de Aracaju Emília Corrêa (PL) e o vereador Lúcio Flávio (PL) em carreata eleitoral em outubro de 2024. Reprodução/Foto: Redes sociais.

Recentemente, o vereador Lúcio Flávio (PL/SE) protocolou um pedido de sindicância para investigar palestras políticas em escolas estaduais de Sergipe. O parlamentar da extrema direita possui um histórico de atuação e apreço a ONG "Escola Sem Partido", onde já atacou ,em conjunto a organização, a deputada estadual Linda Brasil (PSOL/SE), sob a mesma retórica. Porém, esse discurso não passa de um incentivo à censura ideológica a ideais contrários ao discurso da direita/classe dominante.

Quem realmente quer controlar a narrativa nas escolas?

O argumento utilizado por esse vereador e os apoiadores da ideia em geral, é baseado  na criação de uma suposta "neutralidade escolar" que permita o aprendizado sem interferências políticas e ideológicas dentro de espaços da educação. Entretanto, essa formulação propositalmente omite o fato de que toda educação é politizada, inclusive a produzida dos discursos que glorificam o empreendedorismo, religiosidades específicas, “livre mercado” e privatizações.

Quando um empresário adentra certo espaço educacional para discutir sobre meritocracia, "faça você mesmo", ou sobre a iniciativa privada, ele está propagando uma visão de mundo que é baseada no individualismo e a crença de que o mercado é a principal forma de ascensão social. Mas esse fato não é questionado por Lúcio Flávio e nem por nenhum dos componentes da direita local ou nacional, que busca naturalizar o discurso hegemônico como senso comum enquanto chama tudo que está no caminho oposto de "doutrinação". Se palestras que falam sobre temas possivelmente mais progressistas são consideradas "doutrinação" e são passíveis de sindicância, por que as que falam sobre liberalismo e o "todos versus todos" não?

Para exemplificar o caso, no dia 9 de março deste ano, houve um debate sobre educação empreendedora que foi executado em prévia de um congresso internacional com essa mesma temática, com a participação de estudantes da rede pública de Aracaju. Posteriormente, não houve nenhum questionamento se o evento era uma ação política ou sobre a existência de uma "doutrinação liberal ou capitalista" dentro dos setores da educação. Fica claro, assim, que o projeto de "Escola Sem Partido" nunca foi sobre neutralidade, mas sobre silenciar perspectivas que desafiam ou ameaçam o status quo.

Outra contradição que mira o absurdo é que a mesma direita que grita contra a "doutrinação esquerdista" nas escolas aplaude, sem pudor, o que é na prática, uma imposição de intervalos bíblicos na Câmara de Aracaju através da PL 47/2025, proposta pelo vereador Pastor Diego (UNIÃO BRASIL/SE). Enquanto se fingem defensores da "neutralidade escolar", seus representantes abrem as portas novamente para o proselitismo religioso nas instituições públicas.

Por uma juventude crítica

No cenário atual, em que a direita e a extrema direita controlam as instituições sergipanas, a disputa de ideias nas escolas enfrenta um crescente cerceamento. A construção de uma educação verdadeiramente crítica exige uma estrutura que não se submeta a discursos que perpetuam as desigualdades impostas pela classe dominante. É preciso que a educação seja emancipatória, proporcionando espaços de conscientização e protagonismo para discussões que priorizem a transformação estrutural da vida da classe trabalhadora sergipana.

Essa formação deve incluir uma perspectiva de consciência de classe e mudança social, abordando problemas concretos do estado, como o serviço de saneamento básico privado e precário, transporte público e intermunicipal cada vez mais caro, desenvolvimento urbano desordenado, além de incontáveis outros. Romper com a narrativa neoliberal estreita e falaciosa é essencial para pavimentar o caminho rumo a uma verdadeira emancipação social revolucionária.