EDITORIAL: Enquanto o mundo queima, o capitalismo lucra!
A chave para entender isso tudo é a propriedade da terra: sem uma nacionalização completa das terras, rurais e urbanas, com o usufruto de pequenos produtores e comunidades tradicionais, uma irrestrita demarcação de terras indígenas, quilombolas e de comunidades de terreiro, e uma transição agroecológica para a produção rural e florestal, ficaremos sempre à mercê dos interesses capitalistas – e aí, a destruição será completa.
Qualquer brasileiro que literalmente olhou para cima nos últimos meses pôde ver como nuvens de fumaça e fuligem tomaram os céus do nosso país, fruto de uma sequência de episódios de queimadas criminosas. O agronegócio, não apenas no Brasil, é hoje um dos principais vetores do desastre ambiental para o qual os capitalistas jogam toda a humanidade. Por aqui, o próprio desenvolvimento histórico do capitalismo dependente aumenta exponencialmente o poder da burguesia agroindustrial exportadora – que tem sua representação no Estado com uma bancada ruralista que representa 63% do Congresso Nacional.
Enquanto a mídia burguesa tenta colocar a culpa em desastres “naturais” ou até mesmo nos pobres do campo, os movimentos sociais se desdobram para aumentar a denúncia contra a exploração monopolista da terra e o processo de expansão da fronteira agropecuária para dentro de zonas de preservação ambiental e terras de comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
Ainda no discurso da burguesia, existe uma solução mercadológica para esse impasse: mercantilizar a gestão do meio-ambiente de maneira “lucrativamente sustentável”. É nesse sentido que trabalha o governo de Lula e Alckmin, ao propor, ainda no ano passado, a inclusão de florestas no Plano de Parcerias de Investimento – em bom português, a privatização de florestas –, uma continuidade direta da “Ponte para o Futuro”, do governo de Michel Temer. Somando a isso, os interesses de pesquisa e desenvolvimento para o lucro de empresas internacionais com as riquezas naturais brasileiras fecha a conta com a pressão de países centrais do imperialismo, especialmente a França, por um controle totalmente empresarial e internacionalizado pelos monopólios da indústria farmacêutica. A “bancada do boi”, o governo da “Frente Ampla” e as potências imperialistas – todos estão unidos para fazer do Brasil um fazendão exportador, indo na contramão de uma condição de vida digna para os trabalhadores.
Do lado de cá, da classe trabalhadora, sabemos que esse nível de destruição ambiental e exploração capitalista, para além de extrair a riqueza do nosso trabalho, torna cada dia menos possível escapar de uma tragédia ambiental generalizada. A chave para entender isso tudo é a propriedade da terra: sem uma nacionalização completa das terras, rurais e urbanas, com o usufruto de pequenos produtores e comunidades tradicionais, uma irrestrita demarcação de terras indígenas, quilombolas e de comunidades de terreiro, e uma transição agroecológica para a produção rural e florestal, ficaremos sempre à mercê dos interesses capitalistas – e aí, a destruição será completa. Se queremos ter qualquer futuro, em meio às chamas, teremos que nos opor diretamente aos interesses do capital e apagar o fogo com a força da nossa classe.