Professora autista é vítima de assédio moral em escola estadual em Sobral (CE)

Débora Monteiro é Conselheira Municipal da Pessoa Com Deficiência, além de professora temporária na escola, possui TEA e relatou uma série de episódios que corroboram com a utilização da precariedade dos contratos temporários para perseguição de professores, além dos casos que ela foi vítima de preconceito por conta da sua neurodivergência.

11 de Dezembro de 2025 às 18h00

EEM Professor Luís Felipe. Reprodução/Foto: Crede 06.

A redação do Jornal O Futuro recebeu a denúncia de assédio moral ocorrido na Escola Estadual Luís Felipe, em Sobral, no Ceará, contra a professora Débora Monteiro com anuência da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc-CE). Débora Monteiro é Conselheira Municipal da Pessoa com Deficiência, além de professora temporária na escola e possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), e relatou uma série de episódios que corroboram com a utilização da precariedade dos contratos temporários para perseguição de professores, além dos casos que ela foi vítima de preconceito com a utilização da sua neurodivergência para justificar a perseguição.

Condições de trabalho dos profissionais de educação no Ceará

O cenário das perseguições à professora Débora são de condições de trabalho precárias na Escola Estadual Luís Felipe, escola que recentemente teve sua comunidade escolar vítima de um ataque a tiros. Faltam professores e essa ausência está frequentemente ligada ao afastamento por excesso de estresse, ansiedade e depressão, algo que as direções respondem utilizando o horário de planejamento dos docentes como tapa buraco. Uma medida que burla o contrato e acarreta em acúmulo de tarefas dos profissionais, que tem que compensar as horas extras não registradas de trabalho em domicílio, extrapolando a jornada estabelecida e criando um ciclo de adoecimento generalizado. Débora relatou que sempre se mostrou crítica a essas condições.

Há também uma ausência de estrutura adequada para trabalho, estudo e promoção de ensino à serviço da comunidade escolar. Algo que se repete na educação pública do estado. Faltam materiais básicos como: impressora, papel, pincel, ar-condicionado e ventilador. A ausência de espaços inclusivos, como uma sala sensorial para trabalhadores e estudantes com TEA, também é sentida. A negligência e falsas promessas do governo estadual com relação à estrutura das escolas é recorrente, e a situação é agravada quando a Seduc-CE coloca a promoção dos espaços inclusivos como se fossem privilégios para as pessoas com autismo.

Denúncia de assédio moral e discriminação

Após a professora se negar à pressão de trabalhar fora do horário previsto em contrato, ressaltando seu direito à condições inclusivas de trabalho, a direção da escola encerrou o contrato sem a renovação prevista com a alegação que a professora "não atingiu o esperado". Ao ser questionado pelo advogado da professora, o diretor da escola afirmou que a instituição não era inclusiva pois “lá tem que trabalhar muito”, e disse que a professora não era “comunicativa”.

Após recorrer ao sindicato e à Crede 6, Débora conseguiu temporariamente retomar o cargo, mas o diretor reagiu mobilizando um grupo de estudantes para um abaixo-assinado pedindo sua saída — mesmo entre alunos que não a conheciam. A iniciativa ocorreu paralelamente ao agravamento do quadro depressivo da professora e resultou em uma reunião entre coordenação e alunos sem a presença de seu advogado, direito garantido por lei, durante a rescisão.

Os episódios relatados demonstram a utilização da neurodivergência da professora como justificativa para a perseguição. A violação flagrante dos direitos enquanto trabalhadora e pessoa autista é reforçada com a mobilização do preconceito na tentativa de culpar Débora por problemas da escola. Tal mobilização serve para blindar a gestão por reproduzir a prática sistemática de assédio contra temporários e desviar a responsabilidade do poder público de garantir condições adequadas para estudantes e professores.

A política de corte dos inimigos da classe trabalhadora

Esse caso torna evidente como os contratos de trabalho temporário atuam como um mecanismo disciplinador: ao depender da renovação, o professor se torna mais refém à pressão, ao assédio e à retaliação, principalmente ao rejeitar práticas ilícitas, como trabalhar além do horário. A relativização dos contratos efetivos para os contratos temporários está diretamente atrelada ao corte de gastos para a educação pública – política de austeridade fiscal e déficit zero – que norteia os governos municipal, estadual e federal.

É nesse espírito que a reforma administrativa aparece como o carro-chefe dos ataques ao serviço público brasileiro. Entre os vários pontos do projeto, destacam-se as propostas de ampliação de contratos temporários, substituindo parte de vagas ocupadas por servidores concursados e flexibilização da estabilidade, permitindo demissões ainda mais rápidas, escancarando portas para a vulnerabilidade dos trabalhadores frente a interesses políticos e econômicos.

Os defensores da política dos patrões na região de Sobral, como Moses Rodrigues (União Brasil-CE), Oscar Rodrigues (União Brasil-CE) e David Vasconcelos (PL-CE) atacam educação, saúde, lazer, BPC, Bolsa Família, afetando os trabalhadores que estão na “base da pirâmide social", para manter intactos os lucros de banqueiros e grande acionistas como na aprovação do arcabouço fiscal, defendido por todos defensores inimigos dos trabalhadores: governos e suas oposições burguesas. O Arcabouço Fiscal limita o crescimento nos gastos primários ao no máximo 2.5% ao ano, algo que antes, em média, significava pelo menos 7%.

Atualmente Débora Monteiro segue sua luta também na justiça, condenando o estado por se abster de realizar uma prévia e formal avaliação de desempenho dos professores temporários. A luta em defesa do direito da professora, dos temporários e contra o assédio moral nas escolas, também, mostra a importância de se aliar à luta contra a Reforma Administrativa e por investimento público em educação pública, pois fora disso os profissionais da área continuam presos a um ciclo vicioso de sofrimento, instabilidade e desumanização.

Para assegurar a saúde dos profissionais da educação, o direito a políticas inclusivas para pessoas PCDs e uma escola verdadeiramente pública e popular, é indispensável o fim do Arcabouço Fiscal e da política de cortes.