Casos de violência policial no Sul do país geram revoltas e mobilizações populares
O método utilizado pelos policiais e os alvos da violência em ambas as situações escancaram o modus operandi racista e violento da Polícia Militar, e explicitam como um maior policiamento ostensivo consequentemente resulta na maior violência contra trabalhadores.

Reprodução/Foto: Ricardo Custódio/Folha de Londrina.
No último mês, dois casos de brutalidade policial e violência racista ganharam repercussão nas redes sociais e iniciaram protestos populares no sul do país. Em Londrina, no Paraná, Kelvin, de 16 anos, e Wender, de 20 anos, foram executados a tiros pela Polícia Militar em abordagem, ocorrida na Favela Bratac, após o expediente de ambos em um lava-rápido. No bairro da Cidade Baixa, em Porto Alegre (RS), jovens que estavam reunidos para comemorar o Carnaval, foram alvos de tortura, espancamentos e tentativa de homicídio por agentes da Brigada Militar, que alegaram a necessidade de “desobstruir” a via onde os mesmos estavam e justificaram as torturas e prisões alegando “desacato”.
A Polícia Militar do Paraná, que executou os jovens na Bratac, alegou que as mortes ocorreram em confronto, porém fontes entre movimentos e moradores contestam essa versão e reiteram que as vítimas não tinham antecedentes criminais. Em resposta aos assassinatos, a cidade registrou uma série de manifestações, com trancamentos de vias, suspensão de transportes públicos e até mesmo ocupação do prédio do Ministério Público.

Reprodução/Foto: jornal A Nova Democracia.
Já em Porto Alegre, dentre as várias pessoas agredidas, a principal vítima da sessão de tortura foi Luan, militante trans negra do PCBR. Em uma das ações filmadas pelas testemunhas, um dos brigadianos força o joelho contra o pescoço da vítima, a sufocando mesmo quando já estava rendida. Além de ser brutalmente espancada, a vítima teve atendimento médico negado e foi obrigada a permanecer horas dentro da viatura fechada, sangrando, sem ventilação e sem informações do destino. Após o ocorrido, a militância, além de denunciar publicamente a tentativa de homicídio, também organizou, junto a diversos movimentos, uma manifestação no dia 4 de março, exigindo o fim imediato do policiamento ostensivo e ações concretas contra o racismo policial e o atentado à vida de Luan.

Foto: Jornal O Futuro.
O método utilizado pelos policiais e os alvos da violência em ambas as situações escancaram o modus operandi racista e violento da Polícia Militar. A nítida diferença de tratamento dos bairros nobres para as periferias explicita como um maior policiamento ostensivo consequentemente resulta na maior violência contra trabalhadores.

Foto: Jornal O Futuro.
A execução dos meninos de Bratac é só mais um dos casos que reafirmam os índices de mortes de jovens por intervenção policial, e a tortura ocorrida na Cidade Baixa evidencia a farsa que é o decreto de regulamentação do uso da força policial, o qual não apresenta nenhuma medida concreta que busque reduzir o encarceramento e assassinato de jovens negros, e não enfrenta as bases materiais do capitalismo dependente brasileiro, que depende da brutalidade policial e do racismo para continuar se reproduzindo.
Apenas as lutas das massas são capazes de combater os mecanismos de repressão do Estado, e casos de revoltas populares, como o que aconteceu em Londrina, são exemplos que abrem margem para uma maior articulação de movimentos pela luta de enfrentamento às políticas de encarceramento e criminalização da pobreza, além de potencializar a organização de manifestações e denúncias contra a violência policial racista nas favelas e periferias do país.