UJC completa 98 anos disputando o presente e construindo o futuro da juventude trabalhadora
Com participação decisiva nas lutas da classe trabalhadora desde sua fundação, a juventude comunista permanece combativa frente aos desafios do nosso tempo.

Foto: Jornal O Futuro.
Neste dia 1º de agosto, a União da Juventude Comunista (UJC), juventude do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), completa 98 anos de história. Sua fundação remonta aos encaminhamentos aprovados pela III Internacional Comunista, que fizeram com que o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) encarregou Leôncio Basbaum de começar a organização dos jovens comunistas brasileiros.
Já no 1º de maio de 1927, a forte participação dos jovens comunistas nas mobilizações do dia dos trabalhadores evidenciou a necessidade de acelerar esse processo, culminando na fundação oficial da então Juventude Comunista (JC), em 1º de agosto daquele ano.
Desde sua criação, a UJC teve papel fundamental nas lutas da classe trabalhadora brasileira
Logo após sua fundação, a então JC foi aceita na Internacional da Juventude Comunista, enviando um delegado ao seu V Congresso, em setembro de 1928. Sua atuação inicial se concentrou na intervenção no meio sindical, na organização dos Centros de Jovens Proletários e na inserção embrionária no movimento estudantil — ainda restrito devido ao número reduzido de universidades no Brasil.
O avanço do fascismo no mundo e no Brasil impulsionou a realização da Conferência Nacional de Estudantes Antifascistas e diversas campanhas combativas, como a histórica Batalha da Sé, em 1934, — também conhecida como "Revoada dos Galinhas Verdes” —, onde o camarada Décio Pinto de Oliveira foi martirizado. Apesar das perdas, os comunistas e o movimento antifascista saíram vitoriosos ao impedir um comício integralista em São Paulo. Naquele período, a JC publicava o jornal “Juventude”, com forte penetração entre os setores mais combativos da classe trabalhadora.
Ainda na década de 1930, a JC foi a principal organização de juventude responsável pela fundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1937. A partir daí, a JC integrou diversas mobilizações com a UNE, como a luta pela derrubada da Ditadura do Estado Novo (1937 - 1945), de Getúlio Vargas, e a campanha pela entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) contra os países nazifacistas do Eixo — Alemanha, Japão e Itália.
Na década de 1950, sob a direção de João Saldanha, a UJC, já refundada com o nome atual, envolveu-se ativamente na construção de grandes movimentos de massa. Um exemplo marcante foi a campanha “O Petróleo é Nosso”, também impulsionada a partir da UNE, mobilizando amplos setores populares contra a exploração estrangeira do petróleo brasileiro — campanha que culminaria na criação da Petrobrás, em 1953.
No mesmo período, os jovens comunistas também atuaram de forma orgânica nos Centros Populares de Cultura (CPCs) da UNE, levando arte crítica e engajada ao interior do país, promovendo a formação popular e contribuindo para a organização política da classe trabalhadora.
Os desafios de conjuntura aos quais a UJC resistiu
Ao longo do século XX, a juventude comunista também enfrentou momentos de refluxo e desorganização, como durante a crise do movimento comunista internacional a partir do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e do Relatório Kruschev, que impulsionaram uma cisão no PCB e levaram à perda de quadros da UJC, muitos dos quais migraram para fundar o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
A ditadura empresarial-militar (1964 - 1985) intensificou o ataque à organização comunista, com prisões, torturas e assassinatos de militantes. Muitos camaradas tiveram suas vidas tiradas na luta contra o regime, tanto na UJC quanto nas organizações de luta armada.
O fim da ditadura coincidiu com a queda do chamado “socialismo real” e o avanço do neoliberalismo no mundo. A crise dos partidos comunistas levou à tentativa de liquidação do PCB, que em 1992 resultou na formação do PPS — hoje o partido fisiológico Cidadania, com representação no Congresso Nacional.
Diante desse processo de degeneração, iniciou-se a Reconstrução Revolucionária do PCB, que reafirma o programa comunista e a necessidade de ruptura com o capitalismo dependente brasileiro, em defesa intransigente do socialismo como única alternativa para os trabalhadores. Movimento que foi reiterado em 2023, com o racha e a posterior criação do PCBR, durante o XVII Congresso Extraordinário do PCB.
Redução da jornada de trabalho, austeridade fiscal e contra a violência policial: as lutas da UJC nos dias de hoje
Ao longo de toda a sua história, a UJC travou as lutas da classe trabalhadora sem vacilar, e chega ao seu 98º aniversário com a mesma postura. Diante de mais uma crise cíclica do capitalismo, as soluções impostas aos trabalhadores são o progressismo neoliberal e o fascismo, enquanto os jovens comunistas seguem firmes na defesa do socialismo como única forma de emancipação humana.
Na UNE, nossa tarefa é fortalecer uma alternativa à direção majoritária e combater o social-liberalismo, que compactua com a austeridade fiscal do governo federal e não mobiliza os estudantes pela derrubada do Novo Arcabouço Fiscal, pela manutenção do Piso Constitucional da Educação e em defesa das universidades e institutos federais, que estão sendo destruídos pela política econômica de Lula-Alckmin.
No dia a dia de vários campi universitários espalhados pelo país, também são os comunistas da UJC quem constroem Centros e Diretórios Acadêmicos (CA’s e DA’s) e Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs), defendendo a permanência estudantil, a pesquisa, a extensão, o fim do vestibular e a construção da Universidade Popular.
É o que foi construído ao longo dos últimos 10 anos na Universidade Estadual Paulista (UNESP), na luta de gerações de jovens comunistas para fortalecer a auto-organização estudantil e refundar o Diretório Central dos Estudantes “Helenira Preta”.
A camarada Marta Koba, dirigente da UJC em São Paulo e coordenadora-geral do DCE, entende que a refundação da entidade:
“Demonstra que os estudantes não estão só convencidos em retomar sua entidade geral, mas que o papel dela é ser um instrumento de luta pela permanência estudantil, pelo amplo financiamento público da educação, assim como a luta pelo fim do vestibular — mas não só. Uma entidade geral que, em suas lutas diárias, aponte para a construção da Universidade Popular e do Socialismo.”
Nas mobilizações secundaristas, o papel da UJC tem sido na luta pelo fim do Novo Ensino Médio — pauta deixada de lado pela esquerda institucional, após uma mudança superficial na lei. Além de construir grêmios e entidades municipais, combatendo a militarização e a privatização do ensino básico.
Para os jovens trabalhadores, a demanda mais urgente deste período é o fim da escala 6x1 e a redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem redução salarial. E a UJC defende a intransigência da pauta frente aos acordos conciliatórios com a burguesia.
Dentro das periferias brasileiras, onde a face mais cruel do capitalismo se manifesta na miséria e no racismo, o papel da UJC é denunciar e combater o genocídio e encarceramento do povo negro como política de Estado, além de defender e valorizar as culturas desses territórios.
A camarada Yolle, dirigente da UJC no Paraná, nos conta um pouco desse trabalho:
“Todo mês você pode ver a gente carregando caixa de som, tenda e toda uma estrutura pra frente do Terminal da Cidade Industrial de Curitiba, área periférica da cidade, para fazer acontecer um espaço de cultura e lazer para a comunidade.
Organizamos a Batalha da CIC, de modalidade conhecimento, com temas que atravessam a vida da classe trabalhadora brasileira e suas lutas. O jornal O Futuro, inclusive, é fundamental na escolha de temas. Nas batalhas vemos a radicalidade da juventude — os MCs rimam sobre todos os assuntos que a gente propõe, porque vivem isso tudo na pele.
Assim, a nossa tarefa é apontar a direção revolucionária enquanto perspectiva, por meio do nosso exemplo de trabalho coletivo, vendo na cultura essa possibilidade de luta política que engaja até quem tá só buscando um lazer ao ar livre, e que mobiliza um tanto de pautas caras aos comunistas, como acesso à cidade, à cultura e ao lazer, garantia de tempo de descanso, disputa de discurso e consciência dos trabalhadores, além de criar alternativas de cultura que não respondem aos interesses do capital.”
A UJC também não esquece do internacionalismo proletário, em defesa dos trabalhadores palestinos, vítimas da invasão e do colonialismo sionista. Cobrando do governo brasileiro o rompimento de todas as relações com o Estado genocida de Israel, que também volta sua máquina de morte contra o nosso povo, através da exportação de armas e de outras formas de repressão.
A militância que constrói as lutas da UJC
Diante de tantos desafios para a defesa dos interesses da classe trabalhadora e para a construção do socialismo brasileiro, os jovens comunistas não se omitem e organizam as tarefas da UJC de norte a sul do Brasil, mantendo os 98 anos de lutas da organização vivos e em crescimento.
São muitos exemplos dessa construção cotidiana. No Pará, nossa camarada Belém relata que um dos desafios é “criar no seio das massas uma oposição revolucionária ao Barbalhismo.” Ela observa que “a esquerda social-liberal não tem força e nem capilaridade para fazer frente a essa dominância, e a extrema-direita se coloca em uma oposição à direita de forma ainda mais oportunista.”
Para ela, um dos caminhos que devemos seguir é o do movimento indígena paraense, “que logrou derrubar a lei 10.820/24 em conjunto com os professores e demais setores após uma jornada de luta e táticas combativas.”
“A juventude deve ser a ponta de lança de uma luta que, ao passo que denuncia a podridão dos Barbalho, também consegue carregar consigo uma alternativa política rumo ao socialismo.”
— Belém Ribeiro, dirigente da UJC no Pará
No Amapá, nossa camarada e também dirigente da UJC no Estado, Cecília Lima, relata a dificuldade de atuar em um local com hegemonia das oligarquias locais, com um projeto político de violência e opressão. A juventude está sob ameaça, uma vez que o Estado lidera o ranking nacional de violência policial, com 45,1 mortes por 100 mil habitantes — cinco vezes a média nacional. Quem mais morre são jovens negros e periféricos. Um exemplo brutal foi a chacina de maio de 2025, quando sete jovens foram executados pela PM após voltarem de um jogo de futebol.
“Hoje, enquanto juventude comunista, construímos a oposição em um contexto de isolamento, diante de outras juventudes que compõem as bases do governo e vivem sob a influência direta da burguesia amapaense. A UJC Amapá hoje é a única juventude que constrói, de forma consequente, a entrega da foz do Amazonas à burguesia e contra a exploração predatória das nossas terras — como acontece no assentamento Maracá, onde a retirada de madeira avança sobre os territórios do povo.
Nosso enfrentamento é solitário, mas necessário. Romper com essa lógica de dominação exige coragem e consciência de classe.”
— Cecília Lima, dirigente da UJC no Amapá
A luta pela revolução brasileira e, sobretudo, a construção do socialismo, é uma tarefa própria da juventude, como já apontava Lênin. São os jovens que construirão as bases da nova sociedade. A UJC, em seus 98 anos, reafirma seu compromisso e se coloca à disposição de todo jovem trabalhador que queira ingressar em suas fileiras e fortalecer a luta revolucionária.