Grupo Zaffari persegue e demite funcionários que lutam contra a exploração
Como resposta, a União dos Trabalhadores do Zaffari convocou uma nova manifestação denunciando as demissões.

Ato de 1º de Maio da União dos Trabalhadores do Zaffari em Porto Alegre (RS). Reprodução/Foto: Alass Derivas.
Por Theo Dalla
No início de junho, seis funcionários participantes da União dos Trabalhadores do Zaffari (UTZ) foram surpreendidos com demissões “ordenadas direto pela central”, conforme informado pelas equipes de Recursos Humanos (RH) das diferentes lojas em que trabalhavam. Esta atitude da Companhia Zaffari acontece um mês após a primeira tentativa de greve na empresa, realizada no dia 1º de Maio, como uma clara perseguição aos funcionários que ousaram lutar contra a superexploração do trabalho.
A UTZ surgiu como uma organização independente de funcionários interessados em lutar por melhores condições. Iniciativas como a publicação de denúncias nas redes sociais e a coleta de assinaturas por aumento salarial e redução da escala de trabalho, chamaram a atenção dos donos da empresa, que desde o começo deflagraram um processo de investigação e perseguição contra os que apoiavam o movimento. Infiltração de espiões nos grupos, ameaças de punições e de demissão contra os que enviassem denúncias anônimas ou participassem do abaixo-assinado, foram relatadas por inúmeros trabalhadores durante os últimos meses. Porém, todas estas atitudes antissindicais ilegais chegaram no auge durante a greve do 1º de Maio.
Nos dias anteriores à greve, o constrangimento e as ameaças cresceram exponencialmente, espalhando o medo entre os funcionários favoráveis à paralisação. No 1º de Maio, durante a manifestação, o “número 1” da segurança institucional, diretamente vinculado à família Zaffari, se infiltrou na multidão gravando o rosto dos poucos, mas corajosos funcionários que aderiram à greve. Quando estes entraram nas lojas para convocar seus colegas para aderir, sem qualquer escrúpulo, o “número 1” os seguiu, tentando impedir o diálogo com os funcionários e os constrangendo ainda mais.
Os donos da empresa demonstraram estar dispostos a usar todas as armas para tentar esmagar o movimento, legais ou não. Passada a greve, que não juntou força suficiente para paralisar as lojas, o grupo Zaffari aliado a atual direção do Sindicato dos Empregados do Comércio (Sindec) começaram nova campanha de difamação da UTZ, ao mesmo tempo que esperou “a poeira abaixar” para continuar o caça às bruxas dentro da empresa. As demissões dos funcionários membros da UTZ, a maioria empregada há anos na empresa e em cargos de liderança internamente, acontecem uma atrás da outra, por determinação direta da “central”, sem passar pelos RHs específicos de cada loja. Mesmo aqueles membros que não participaram publicamente da greve foram demitidos. Uma retaliação direta aos que ousam lutar contra as precárias condições de trabalho.
Como resposta, a União dos Trabalhadores do Zaffari convocou uma nova manifestação denunciando as demissões como perseguições sindicais e exigindo a recontratação imediata dos trabalhadores. O evento será no próximo sábado (14/06), às 16h30, no Zaffari Andradas.
A Companhia Zaffari ganhou fama nacional em dezembro de 2024, quando os jornais O Futuro e Brasil de Fato publicaram a denúncia de uma escala de 10 dias consecutivos de trabalho, horas extras obrigatórias não pagas, supressão do Direito Semanal Remunerado, controle restritivo do banheiro, assédios e abusos. A matéria revelou que, apesar das ilegalidades, estas condições foram estabelecidas em Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) negociado pelo Sindicato dos Empregados do Comércio (Sindec-POA), controlado pelo grupo Força Sindical e o partido Solidariedade.