Professores enfrentam o Projeto de Lei em São Roque que transforma escolas municipais em tempo integral
Em regime de urgência e sem consultar os professores, a prefeitura aprovou o PL 87/2025, tentando impor goela abaixo às comunidades escolares um modelo que amplia as desigualdades sociais e étnico-raciais e aprofunda os ataques à educação pública.

Praça da matriz São Roque (SP), 2025. Foto: Jornal O Futuro.
No dia 15 de outubro de 2025, na praça da matriz da cidade de São Roque, foi realizado um ato com cerca de 40 a 60 pessoas, com uma base orgânica composta por professores – incluindo aposentados –, coordenadores, diretores e estudantes das escolas municipais Tibério e Alabama. A comunidade escolar ocupou o espaço público para protestar contra o Projeto de Lei 87/2025, que impõe a transformação das escolas municipais regulares em unidades de tempo integral.
A manifestação, que seguiu em caminhada para dialogar com a população, carrega um significado que transcende o fato imediato. Como destacaram algumas lideranças do sindicato dos professores de São Roque, a iniciativa partiu da categoria, não da estrutura sindical. Esse é o primeiro ato autônomo dos professores em anos, um salto qualitativo na consciência de classe que ecoa o êxito recente das mobilizações nacionais, como as contra a PEC da Blindagem.
O PL 87/2025 é uma cópia do modelo aplicado no estado de São Paulo por João Dória, e vem acompanhada de um regramento punitivo que transforma a gestão em mecanismo de assédio. Medidas como a perda de carga suplementar para professores com frequência abaixo de 90% criam um ambiente de terror e controle, onde adoecimento e questões pessoais são tratados como falta de comprometimento.
A tática de intimidação não para aí. Em um caso emblemático de tentativa de desmoralização, servidores da diretoria municipal de educação utilizaram as redes sociais para acusar os professores de manipular a opinião dos pais, tentando deslegitimar o apoio orgânico da comunidade escolar e caracterizando a legítima defesa da educação pública como má-fé. Esse episódio evidencia o caráter arbitrário e persecutório da gestão Guto Issa (PSD), que substitui o diálogo pela difamação.
Eleito com um discurso anticoronelista, o prefeito Guto Issa revela-se um operador dos interesses do capital na periferia do sistema. Sua prática governamental abandona a figura tradicional para adotar a máscara do gestor "pós-político", alinhado com os ventos reacionários de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e prefeitos como Rodrigo Manga (Republicanos) em Sorocaba.
O PL 87/2025 é a ponta de lança dessa ofensiva. A transição forçada para o tempo integral das escolas municipais implica, de fato, o fechamento de instituições como a EMEF. Prof. Tibério Justo da Silva, do bairro Mailasqui. Essa engrenagem perversa cria condições objetivas para pressionar os profissionais à exoneração, "resolvendo" pelo gerenciamento um conflito que é, no fundo, político.
O ato na praça da matriz, portanto, não é um fim, mas um começo. A síntese entre o ataque concreto (o PL 87/2025) e a experiência de luta nacional está se materializando em organização sólida. Diante da ofensiva, os professores não anunciaram uma nova mobilização imediata nas ruas porque compreendem a necessidade de acumular forças. A tática escolhida é a coleta de assinaturas, um instrumento de base para ampliar o raio de influência da luta, construir uma narrativa contra-hegemônica e demonstrar à prefeitura o apoio social que possuem.