Universidade norte-americana retém diploma de estudante que denunciou o genocídio na Palestina
A porta-voz do governo Trump não se manifestou acerca deste caso em específico, mas a postura da NYU faz parte da cartilha de Trump nos últimos meses sobre perseguir e punir americanos e imigrantes em atos pró-Palestina.

Reprodução/Foto: X/Twitter.
Por Mateus Filgueira
Desde sua posse, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem perseguindo pessoas não-cisgêneros, imigrantes e ativistas pró-Palestina. Um exemplo que repercutiu no Brasil foi a violação da identidade da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) onde seu visto constou seu nome morto. Já no que tange a questão imigratória, Trump vem fazendo deportações de pessoas em situações ilegais, o que também repercutiu no Brasil quando houveram denúncias de maus tratos quando brasileiros chegaram acorrentados no Brasil. Nas universidades, Trump prevê cortes orçamentários (mais de US$ 2,7 bilhões no último mês, segundo levantamento da Mídia Ninja com dados da Al Jazeera) e sanciona estudantes em atos pró-palestina que podem ficar anos suspensos, terem seus diplomas temporariamente revogados e até expulsão.
Com uma contraofensiva, os universitários nos EUA vem cada vez mais se posicionando em atos nos campi e principalmente em colações de grau, em seus discursos, com a kufiya e cachecois palestinos em suas vestimentas, ou adesivos, pins e bandeiras no momento de retirada do canudo com diploma.
Logan Rozos, que em uma rede social se descreve como ator, artista e homem negro trans gay, em seu discurso na formatura na Escola Gallatin de Estudos Individualizados da Universidade de Nova York (NYU, sigla em inglês) criticou o genocídio na Palestina:
"Enquanto busco em meu coração [o que dizer] ao me dirigir a todos vocês hoje, meus compromissos morais e políticos me levam a dizer que a única coisa apropriada a ser dita neste momento, e para um grupo tão grande, é um reconhecimento das atrocidades que estão ocorrendo atualmente na Palestina. Quero dizer que o genocídio que está ocorrendo agora é apoiado política e militarmente pelos Estados Unidos, é financiado pelos nossos impostos e tem sido transmitido ao vivo para nossos celulares nos últimos 18 meses." (tradução livre, na íntegra no X/Twitter)
Rozos, que cursou Crítica Cultural e Economia Política, desceu do palanque da Universidade de Nova York sob aplausos de seus colegas e de alguns professores, mas no mesmo dia a universidade se manifestou contrária ao fato e deletou o perfil do estudante em seu site.
Segundo matéria da BBC, o porta-voz da NYU, John Beckman, afirmou que o diploma de Rozos seria retido até que a universidade tomasse medidas disciplinares cabíveis, lamentou a declaração do aluno e condenou a ação dizendo que "Este momento foi roubado por alguém que abusou de um privilégio que lhe foi conferido" já que o discurso aprovado pela universidade não foi o que Rozos proferiu.
A NYU é uma das 10 universidades investigadas pelo projeto do Trump que busca combater o antissemitismo, mas não está entre as 60 universidades que receberam notificações do Departamento de Educação para caso haja episódios que coloquem em risco a “proteção de seus estudantes judeus”.
A perseguição a Rozos não é um caso isolado na NYU já que em dezembro de 2024 a mesma universidade abriu mais de 180 processos disciplinares contra estudantes e declarou dois professores titulares “persona no grata” após protesto que exigia que a universidade tornasse públicos seus investimentos em empresas ligadas a Israel e fechasse seu campus em Tel Aviv, conforme matéria da The Guardian.
Surfando na cumplicidade genocida da universidade, um grupo de sionistas teriam fornecido à reitoria uma lista de manifestantes para deportação e nomes de ativistas pró-Palestina. No dia do fato, a Liga Anti-Difamação de Nova York se manifestou no X/Twitter e apontou que o discurso de Rozos é “divisível e falso” sobre a guerra entre Israel e Hamas, além de terem agradecidos à administração da NYU por sua “forte condenação e por buscar medidas disciplinares”. Por outro lado, o Conselho de Relações Islâmico-Americanas apontou em nota que as ações disciplinares eram uma “traição às liberdades americanas e ao próprio povo americano” e que Rozos teve uma postura anti-genocida, não anti-judeus.
A porta-voz do governo Trump não se manifestou acerca deste caso em específico, mas a postura da NYU faz parte da cartilha de Trump nos últimos meses sobre perseguir e punir americanos e imigrantes em atos pró-Palestina.