Mesmo com desfinanciamento, universidades públicas são as melhores do país em ranking

Edição anual do Ranking Universitário da Folha de São Paulo ainda evidenciou as defasagens de universidades de massa onde a maioria trabalhadora precisa estudar.

10 de Dezembro de 2025 às 15h00

Campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Reprodução/Foto: Cecília Bastos/USP Imagens.

Publicada no início de novembro deste ano, a mais recente edição do Ranking Universitário da Folha (RUF), que avalia todas as 204 universidades brasileiras, mostrou, mais uma vez, a hegemonia das instituições públicas, que mesmo em um contexto de desfinanciamento e desvalorização da ciência, conseguem manter padrões de qualidade no ensino e na pesquisa.

Para a elaboração anual, o RUF utiliza cinco critérios: Pesquisa (com nove componentes e 42% do desempenho total), Ensino (com quatro componentes e 32% do desempenho total), Mercado (um componente e 18% do desempenho total), Inovação (dois componentes e 4% do total) e Internacionalização (dois componentes e 4% do desempenho total).

As bases de dados para avaliação de cada um dos critérios varia desde as mais científicas, como o Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC) e o número de publicações na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), até a mais subjetiva, como “a opinião de empregadores sobre preferências de contratação”.

Em entrevista ao Jornal USP, a pesquisadora Solange Maria dos Santos, que estuda rankings universitários, explica que não existe um conjunto de critérios aceitos de forma unânime para medir a qualidade das universidades. Por isso, ao selecionar, privilegiar e atribuir peso a um indicador específico, cada ranking apresenta sua visão do que considera qualidade. “Sendo assim, é importante ter em mente que os rankings não são instrumentos neutros, mas sim construídos e utilizados intencionalmente, para fins e contextos específicos”, aponta.

Solange também chama a atenção para a possibilidade da inclusão de indicadores de qualidade subjetivos ter a intenção de destacar instituições privadas para além dos tópicos em que estas estão abaixo das públicas. “[Há também] indicadores nos quais universidades privadas mais se destacam, já que a instituição responsável por produzir o ranking precisa obter lucro que justifique continuar a publicá-lo”.

Em publicação no Instagram, a Universidade de Fortaleza (Unifor), que é uma instituição privada, usa como publicidade a melhor colocação no RUF entre as universidades privadas do Norte e do Nordeste. Reprodução/Foto: Divulgação.

Quais são as melhores universidades no RUF?

Na edição 2025 do RUF, 100% das 20 universidades mais bem avaliadas são públicas estaduais ou federais. No top 50, apenas cinco são instituições privadas, e todas elas — Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), do Rio de Janeiro (PUC-RIO), do Paraná (PUCPR); Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Universidade Presbiteriana Mackenzie — são consideradas universidades de elite, com mensalidades que variam de 11 a 16 mil reais no curso de medicina, por exemplo. Já entre as 100 mais bem avaliadas, 74% são públicas.

O que os dados do ranking da Folha apontam, ainda, são três obstáculos diferentes para o acesso ao ensino superior de qualidade: a barreira do vestibular para ingressar e a falta de vagas suficientes em instituições públicas e a limitação financeira para estudar em universidades particulares que de fato oferecem uma boa formação.

Neste cenário, quem mais lucra são as universidades e instituições de ensino superior privadas e de massa, com mensalidades mais acessíveis para estudantes que podem trabalhar durante o dia e estudar à noite, ou optar pela Educação a Distância (EaD). Em 2024, as instituições privadas ultrapassaram oito milhões de matrículas, concentrando, assim, mais de 80% dos estudantes de graduação de todo o Brasil, de acordo com o Censo da Educação Superior.

Quando o RUF olha para estas universidades privadas, como a Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera (Unopar) ou a Universidade Anhanguera (Uniderp), que oferecem mensalidades a partir de R$ 99,00, por exemplo, fica evidente a falta de qualidade na formação. Na Unopar, que aparece na 155º no ranking geral, a nota para o indicador de ensino é de 4,58 pontos, enquanto na Uniderp, 185ª colocada, a pontuação no mesmo indicador é de 2,46.

Em comparação com o topo do ranking, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ambas públicas e que ocupam a 1ª e a 2ª colocação, as notas no indicador de ensino são, respectivamente, 31,06 e 31,77.

Como fica o ranking considerando apenas ensino e pesquisa?

Se com todos os critérios de avaliação adotados pelo RUF e seus clientes publicitários as universidades públicas ainda são maioria entre as melhores colocadas, quando avalia-se apenas os indicadores de ensino e pesquisa, que podem ser aferidos por órgãos oficiais de educação e de fomento à ciência, a discrepância de qualidade em relação ao setor privado fica ainda mais evidente.

Entre as 100 instituições mais bem avaliadas quando o assunto é ensino e pesquisa, 88% são públicas e a mais bem ranqueada entre as privadas só aparece na 20ª posição. Diminuindo o recorte, 88% das 50 melhores universidades do RUF 2025 são públicas, e entre as 20 mais bem avaliadas em ensino e pesquisa, 95% são de administrações públicas estaduais e federais.