Em Fortaleza, estudantes denunciam situação precária da merenda escolar

Os militantes da UJC organizados na escola decidiram por iniciar a agitação por um ato contra a precarização da merenda, denunciando o Governo e a Seduc-CE como responsáveis pela terceirização que possibilita que cenários como esses não sejam incomuns nas escolas do Ceará.

10 de Dezembro de 2025 às 18h00

Ato dos estudantes da EEEP Darcy Ribeiro contra a precarização da merenda escolar. Foto: Jornal O Futuro.

Por João Lucas Leite

No dia 05 de novembro, estudantes da EEEP (Escola Estadual de Ensino Profissional) Darcy Ribeiro, em Fortaleza, realizaram um ato denunciando a precarização da alimentação na sua escola, levantando cartazes apontando a terceirização como um ataque à educação pública. O protesto surge num cenário de ausência, atraso e baixa na qualidade da merenda da instituição de ensino, em decorrência da falência da empresa terceirizada que fornece os alimentos para a escola.

A terceirização avança sobre as escolas e universidades do Brasil, conforme já noticiado pelo Jornal O Futuro. No Ceará, estado brasileiro que é utilizado de propaganda como “exemplo para a educação” no país, o caso é ainda mais grave: as escolas públicas estaduais, organizadas em EEEP, EEMTI (Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral) e EEM (Escola de Ensino Médio regular), estão tendo a situação da alimentação das escolas constantemente afetadas pelo processo, prejudicando a educação dos alunos que, em sua maioria, passam a maior parte do seu dia na escola — ou no estágio obrigatório de seu curso técnico, no caso das escolas profissionais.

O Estado do Ceará, hoje governado por Elmano de Freitas (PT), é colocado como essa referência pela expansão do Programa Escola em Tempo Integral e pelas parcerias público-privadas presentes na gestão das escolas no Estado. O projeto neoliberal de privatização da educação pública avança a passos largos em todo o país, seguindo os interesses privados da burguesia brasileira, aliado à necessidade de expansão do ensino para formar mão de obra — que encontra correspondência na universalização do ensino integral e expansão do ensino profissional. Dentre as medidas para retirar do Estado o papel de garantir uma educação pública, gratuita e de qualidade, está a de terceirizar os serviços que deveriam ser prestados pela Secretaria de Educação e pelo Governo do Estado.

O serviço da merenda nas escolas hoje é terceirizado, colocando a responsabilidade em empresas privadas na alimentação de milhares de estudantes em escolas públicas. Essas empresas, atuando sob a lógica mercadológica do lucro, ao invés de buscar garantir a prestação de um bom serviço e, por consequência, uma alimentação de qualidade, buscam reduzir suas despesas e aumentar seus rendimentos. Na EEEP Darcy Ribeiro, a empresa que fornecia o serviço à escola entrou em processo de falência, o que resultou na diminuição dos custos de funcionamento para reduzir seu prejuízo. Na prática, a redução nas perdas de números na tela dos donos da empresa gerou a falta de comida na escola, o atraso na entrega dos alimentos e a insegurança dos funcionários (chamados popularmente de merendeiros) em relação aos seus empregos.

Os estudantes relataram diversas situações em que a comida atrasa para ser preparada, por conta dos alimentos não terem chegado à escola com antecedência para o preparo, além de uma queda brusca na qualidade e repetição dos mesmos alimentos todos os dias. “As coisas [comida] chega só no dia certo de fazer, não chega antes. Aí os alunos têm consciência de que não é nós funcionários, é a empresa que tá fazendo isso né?! Porque nós tamo aqui pra cumprir ordem.” — relatou um merendeiro da escola. O estopim para a indignação geral dos alunos e funcionários foi quando chegou à escola para ser preparado para o almoço somente 40 ovos para uma escola com mais de 400 alunos.

Em resposta a essa situação, os estudantes se organizaram de maneira independente para reivindicar resolução imediata para seus problemas. Os militantes da UJC organizados na escola decidiram por iniciar a agitação por um ato contra a precarização da merenda, denunciando o Governo e a Seduc-CE como responsáveis pela terceirização que possibilita que cenários como esses não sejam incomuns nas escolas do Ceará.

A UJC, contando com o suporte de diversos estudantes independentes, agitaram durante dois dias no portão da escola no horário de saída dos estudantes utilizando da própria voz, megafone, agitação nas redes sociais e panfletos sob a palavra de ordem “40 ovos para 400 alunos é fuleragem!” — remetendo a situação que foi estopim para a indignação dos estudantes. Apesar de serem claros na agitação, apontando o governo como responsáveis pelo ocorrido e não a gestão da escola, o comando do protesto enfrentou desafios com relação à gestão escolar que, segundo relatos de estudantes entrevistados, “enxergou a manifestação como um ‘ataque’ à escola” e atuou para desmobilizar o ato. Para evitar embates diretos com a gestão, os articuladores do protesto resolveram manter a mobilização fora da jurisdição da escola (no portão ao horário de saída), não passando em salas ou panfletando dentro da instituição.

Após o início da mobilização, rapidamente a Seduc-CE foi à escola tentar desmobilizar os estudantes prometendo resolução ao problema. Contudo, o comando do protesto tendo conhecimento de diversos relatos em que os estudantes se mobilizam e a Seduc-CE promete, mas não cumpre, foi decidido a continuação da mobilização e da luta pela melhoria da merenda.

Os alunos, de maneira independente, pediram resmas de panfletos para entregar para seus colegas de sala enquanto as panfletagens aconteciam. A mobilização aconteceu nos dias 3 a 4 de novembro, tendo boa receptividade dos estudantes. O ato ocorreu no dia 5 ao final da aula, reunindo todos em frente à escola portando cartazes confeccionados pelos estudantes no horário de almoço carregando dizeres como “Darcy Ribeiro teria vergonha do descaso com a educação no Brasil”. O protesto foi um sucesso, com a situação tendo sido resolvida com extrema agilidade pelo Governo do Estado após a pressão dos estudantes.

Entretanto, a terceirização como ramificação do projeto político da burguesia neoliberal permanece, deixando bem claro que embora os estudantes do Darcy Ribeiro tenham conquistado uma vitória em relação a sua alimentação, situações como essa podem voltar a acontecer assim como acontece em centenas de outras escolas no Brasil.