EDITORIAL: E ainda assim… lutam!
É no movimento sindical que aprendemos importantes lições sobre o poder dos capitalistas. Mas é apenas avançando para a luta política que a classe trabalhadora pode exercer todo o seu potencial, o potencial de romper suas amarras, tomar o poder em suas mãos e construir o socialismo-comunismo.
A classe trabalhadora, o motor da sociedade capitalista, acorda, pega transporte, trabalha, volta pra casa e dorme, na imensa maioria de seus dias. É a constância da exploração que naturaliza esse ciclo que se repete, deixando para muitos apenas um único dia de descanso semanal para a família, o lazer, o estudo, a religião.
Mas há momentos em que isso muda. Chega uma hora que os trabalhadores dizem “chega”, cruzam seus braços e não mais aceitam a exploração no nível em que a sofrem. Paralisam a produção e a circulação de mercadorias, a célula mais fundamental do capitalismo, e se chocam diretamente com os patrões e o governo – os trabalhadores fazem greve!
Nosso país vive ciclos de aumento e redução da quantidade de greves e paralisações de trabalhadores, em um fluxo que não diz respeito só às condições objetivas da exploração, mas também às condições subjetivas, ao quanto determinada categoria compreende sua exploração e está disposta a arriscar seu emprego, seu sustento, para conquistar mais.
Segundo os balanços de greves do DIEESE, podemos distinguir claramente um momento de ascensão grevista a partir dos impactos da crise internacional do capitalismo. Se pegarmos a série desde 2013 (ano das Jornadas de Junho), e excluirmos os dois anos de pandemia (2020 e 2021), por sua excepcionalidade, e os dois anos cujos balanços não foram publicados (2014 e 2015), temos uma média de quase 1500 greves por ano – o triplo da maior quantidade anual de greves do governo Lula II.
O ano de 2024 viu até agora a deflagração de greves importantes: a ampla unidade de professores, técnicos e estudantes nas Universidades Federais; a greve de mais de dois meses dos servidores do INSS; a Campanha Nacional dos bancários; dos trabalhadores dos Correios; e outras mais. A marca da maior parte desses movimentos têm sido a extrema dificuldade de mobilização – tanto pelo medo de demissão, principalmente no setor privado, quanto pelo peleguismo das grandes centrais sindicais, como a CUT e a CTB – e o desdém absoluto do governo federal em relação aos grevistas. O sindicalismo “de resultado” fez do movimento sindical brasileiro uma máquina de sindicatos prestadores de serviços, em sua amplíssima maioria, lutando muitas vezes contra a sua própria categoria e trazendo derrotas disfarçadas de vitórias.
Para mudar essa situação com consequência é preciso apontar para além da nossa rotina dura, cinzenta, sofrida – temos que entender o movimento sindical como uma das formas que a classe trabalhadora tem para lutar, mas não a única e não a última. Precisamos semear no movimento sindical a política da classe trabalhadora e construir, assim, um caminho de independência de classe e auto-organização. Sem esse objetivo final em mente, os movimentos grevistas e outros movimentos de caráter sindical sempre voltarão a apontar para a manutenção do capitalismo, da nossa exploração, mesmo que em condições “melhores” dessa exploração.
É no movimento sindical que aprendemos importantes lições sobre o poder dos capitalistas. Mas é apenas avançando para a luta política que a classe trabalhadora pode exercer todo o seu potencial, o potencial de romper suas amarras, tomar o poder em suas mãos e construir o socialismo-comunismo.
