Da ala mais à direita, Edinho Silva é eleito presidente do PT

Trata-se de um resultado que aprofunda a atual linha política do PT e frustra aqueles que apostam em uma “guinada à esquerda” que não seja para obter ganhos eleitorais.

19 de Julho de 2025 às 0h00

Edinho Silva na Embaixada dos EUA. Reprodução: @edinhosilva/X.

Por Juan Pablo

Com mais de 342 mil votos apurados, o Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou seu novo presidente eleito através do Processo de Eleição Direta (PED), ocorrido no último domingo (06): Edson Antônio da Silva. Mais conhecido como Edinho Silva – ex-prefeito de Araraquara, filiado ao PT desde 1985 e membro da tendência interna majoritária do PT: a Construindo um Novo Brasil (CNB), que lidera o Partido há décadas. Edinho ficará no comando da legenda até 2029.

Até o momento do anúncio, ainda faltava apurar votos de uma parte dos estados da Bahia, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro, além de Minas Gerais – onde a eleição foi alvo de judicialização fruto das disputas internas e adiada para o domingo seguinte (13) –, mas o novo presidente já estava matematicamente eleito com mais de 73% dos votos válidos. Além de Edinho, três outros candidatos de diferentes tendências participaram da disputa. Ao final da apuração, a eleição contou com 517.185 votos válidos, na seguinte distribuição:

●     Edinho Silva (Construindo um Novo Brasil): 378.009 – 73,1%

●     Romênio Pereira (Movimento PT): 58.845 – 11,4%

●     Rui Falcão (Novo Rumo): 57.750 – 11,2%

●     Valter Pomar (Articulação de Esquerda): 22.581 – 4,4%

Críticos aos atuais rumos do partido, Valter e Rui propunham um “giro à esquerda” na política do PT, enquanto Romênio tecia críticas mais tímidas. No entanto, nenhum desses candidatos conseguiu vencer ou mesmo ir para um segundo turno com Edinho, que representou uma candidatura de continuidade – apoiada, inclusive, pelo presidente Lula, ainda que de maneira velada.

Os presidenciáveis se enfrentaram em cinco debates, onde suas divergências puderam ser vistas – apesar da postura de Edinho, de buscar se esquivar de qualquer questão polêmica envolvendo os problemas centrais da linha política do partido. Além da orientação política – envolvendo a disjuntiva entre pautar algum nível de enfrentamento e recuperar as “ideias originais” de fundação do PT ou buscar ampliar cada vez mais as alianças e diluir nelas qualquer programa de esquerda –, os candidatos também se debruçaram sobre questões organizativas, onde ficou claro um cenário de desmantelamento dos núcleos de base e das instâncias partidárias – muitas vezes substituídas por um consórcio entre parlamentares, figuras influentes e governos, sufocando os mecanismos de democracia interna –, além de uma disputa feroz pelos rumos dos fundos partidário e eleitoral, que se mesclam com os debates sobre a necessidade de renovação do partido e sobre o afastamento das bases.

Nesse embate, que segundo o jornalista Breno Altman representou “uma disputa entre dois grandes blocos no PT”, preponderou com ampla maioria a ala direita, que obteve a maior votação proporcional da história do partido, com cerca de ¾ dos votos válidos. Para a tendência Articulação de Esquerda, em um balanço preliminar da eleição, esse cenário “é produto de um combo de fatores: em primeiro lugar, a força política acumulada há décadas; e também as filiações em massa, o uso das máquinas (governo federal, governos da Bahia, Piauí e Ceará, dezenas de prefeituras, dezenas de mandatos parlamentares), o abuso de poder econômico, o apoio da mídia comercial, a parcialidade de inúmeras direções partidárias e, inclusive, a interferência aberta de políticos de partidos de direita”.

Além de conseguir eleger o presidente do partido, a tendência CNB conseguiu algo que ainda não tinha: ampliou a sua participação no Diretório Nacional e conquistou maioria absoluta na direção da sigla, com mais de 51% dos votos em sua chapa própria, sem contar com outros agrupamentos que costumam se aliar com a corrente. Trata-se de um resultado que aprofunda a atual linha política do PT e frustra aqueles que apostam em uma “guinada à esquerda” que não seja para obter ganhos eleitorais.

O processo eleitoral ocorre em meio à intensificação do papel do PT como pilar do regime político atual. Pouco tempo após se lançar candidato, Edinho fez uma visita à embaixada dos Estados Unidos no Brasil, segundo o qual foi convidado no intuito de fazer “um diálogo sobre os cenários da política nacional e internacional para o próximo período”. Em contraposição, o candidato Rui Falcão visitou a embaixada da Palestina. Soma-se a esse fato a entrevista que Edinho deu ao Opera Mundi alguns meses depois, na qual se negou a tomar qualquer posição acerca de temas como a ruptura de relações entre Brasil e Israel, a entrada da Venezuela no BRICS e a situação interna do país, a necessidade de pautar enfrentamentos na política nacional em defesa dos pisos constitucionais da educação e da saúde, contra a austeridade fiscal e o aumento da taxa de juros, dentre outros assuntos fundamentais, defendendo sempre a necessidade do “diálogo” sem que haja qualquer posicionamento firme, o que gerou críticas entre outros candidatos e analistas.

Para Edinho, em seu primeiro discurso como presidente eleito, o maior desafio do partido até 2026 será “reeleger o presidente Lula”, o que, segundo ele, é “essencial para a continuidade do projeto de reconstrução do Brasil” e para garantir que “a democracia vença o pensamento autoritário e fascista, que infelizmente cresce em setores importantes da política nacional e internacional”. Ao longo da campanha, contudo, uma preocupação foi sendo destacada de forma recorrente: a necessidade de construir o “PT pós-Lula”, cenário inevitável em que a maior liderança da história do partido já não estará mais nas urnas. Esse horizonte inquieta o conjunto partidário, e torna ainda mais evidente o peso político desse PED, que consolida uma direção comprometida com a estabilidade do regime e com a gestão da ordem. A vitória de Edinho não representa um avanço para os trabalhadores, mas a reafirmação de uma linha que atua para administrar as contradições do sistema político vigente sem enfrentá-lo.