Desemprego cai entre a juventude, mas faixa etária ainda é a com menos emprego e piores postos de trabalho

Com um modo de produção e medidas econômicas que exigem a busca por trabalho cada vez mais cedo, jovens aceitam as piores oportunidades e têm menos direitos trabalhistas desde 2017.

28 de Maio de 2025 às 15h00

Reprodução/Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

A taxa de desemprego entre jovens de 14 a 24 anos atingiu, no último trimestre de 2024, o menor patamar em cinco anos, diminuindo de 25,2% em 2019 para 14,3%. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no último mês de abril, usando informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua Trimestral).

A porcentagem demonstra que, ao todo, 14,5 milhões de jovens estavam ocupados no período, e a pesquisa também revelou que 53% possuíam carteira assinada, contra 44% que se mantinham na informalidade.

Novas informações da PNAD Contínua Trimestral, divulgadas em maio e relativas ao primeiro trimestre de 2025, revelaram, no entanto, um crescimento no desemprego entre trabalhadores de 18 a 24 anos, com porcentagem atingindo 14,9%, e de 14 a 17 anos, com índice de 26,4%. O aumento pode ser explicado, entre outros fatores, pelo término de contratos temporários de fim de ano.

Com o crescimento do acesso ao mercado de trabalho, a parcela de trabalhadores jovens é a que fica com os postos mais precarizados. “Geralmente eles têm pouca experiência. Muitos estão entrando no primeiro emprego e não têm ensino superior completo”, explica Janaína Feijó, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), em entrevista à IstoÉ Dinheiro.

Aliadas à falta de experiência profissional, a necessidade econômica de buscar empregos cada vez mais cedo e a falta de formação educacional criam um cenário no qual as únicas oportunidades de trabalho disponíveis são com os menores salários, as maiores cargas horárias e a informalidade.

Na escala de trabalho 6x1, com seis dias de jornada para cada um de folga, por exemplo, a pesquisa “O que esconde a escala 6x1 – Roubo de tempo e cotidiano dos trabalhadores precarizados”, realizada em 2024 pelo Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro (SECRJ) e o Observatório do Estado Social Brasileiro (OSB), revelou que entre os trabalhadores de 18 a 24 anos, 41,84% são atendentes de lanchonetes, 34,67% repositores de mercadoria e 34,48% atendentes de lojas e mercados.

Já um estudo de 2023 da Firjan-Sesi, demonstrou que anualmente 500 mil brasileiros a partir de 16 anos abandonam os estudos, e apontou que jovens que não concluem o ensino básico recebem salários entre 20% e 25% menores, têm 20% menos oportunidades de emprego formal durante a vida e, inclusive, vivem menos, com expectativa de vida de três anos menor, em comparação com os que conseguem se formar.


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Geração de empregos esbarra na Reforma Trabalhista

Um dos fatores centrais que faz com que a redução do desemprego entre os jovens esbarre nas contradições impostas pelos postos de empregos mais precários é a Reforma Trabalhista do governo Michel Temer (MDB), aprovada em 2017.

Com aval da burguesia, expresso através do “mercado”, a Lei 13.467, como é oficialmente chamada a mudança, alterou mais de 100 pontos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e prejudicou os direitos históricos da classe trabalhadora, sob justificativa da criação de mais vagas de emprego.

Entre os principais ataques estão o enfraquecimento dos sindicatos, que não contam mais com a contribuição financeira obrigatória do valor de um dia de trabalho, o fim do pagamento de horas extras, que fazia parte da renda de muitos trabalhadores. A legalização da jornada de 12 horas de trabalho e a criação do trabalho intermitente, que não garante o pagamento de salário mensal para os empregados nesse regime. Dessa forma, qualquer avanço nos índices de ocupação dos brasileiros deve ser observado considerando que essas são as únicas condições de trabalho alternativas ao desemprego.

Durante a campanha para a Presidência da República, em 2022, o presidente Lula (PT) criticou a Reforma Trabalhista em mais de uma ocasião e falou em “revisão” da lei, enquanto o Diretório Nacional de seu partido sugeriu a revogação. Em dois anos e meio de mandato, o governo não propôs qualquer mudança na Reforma.

Jovens ainda são maioria entre os desempregados

Além da redução do desemprego entre a juventude ser pautada, em sua maioria, em postos de trabalho insatisfatórios, a divulgação dos dados em tom de comemoração mascara, também, que essa parcela dos trabalhadores ainda têm menos oportunidades de emprego no Brasil.

Segundo um levantamento da FGV-Ibre, com dados da PNAD Contínua, o desemprego entre os jovens brasileiros de 18 a 29 anos é mais que o dobro da taxa observada em um grupo de trabalhadores de 30 a 59 anos. Enquanto o desemprego entre os mais velhos é de 4,5%, na parcela dos mais jovens ele chega a 10,1%,