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  • Jovens, negros e mulheres: pesquisa revela perfil dos trabalhadores explorados na escala 6x1

    Jornada se concentra no comércio e funciona junto aos baixos salários e altos índices de adoecimento; mais de 92% dos trabalhadores são a favor da redução.

    16 de Abril de 2025 às 15h00

    Funcionários durante a inauguração do supermercado Tauste em São José dos Campos (SP) - Reprodução/Foto: Claudio Vieira/PMSJC - Divulgação.

    Uma pesquisa, realizada em conjunto entre o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro (SECRJ) e o Observatório do Estado Social Brasileiro (OSB), lançada no último mês de março, revelou o perfil da maioria dos trabalhadores da escala 6x1 e os impactos dessa jornada no seu cotidiano.

    Publicado em formato de livro digital, o estudo foi batizado de “O que esconde a escala 6x1 – Roubo de tempo e cotidiano dos trabalhadores precarizados”, e entrevistou 3.027 trabalhadores e trabalhadoras submetidos à escala de seis dias de trabalho seguidos, com apenas uma folga semanal, em 394 cidades diferentes pelo Brasil.

    A pesquisa foi realizada entre os meses de dezembro de 2024 e março de 2025, e cada participante respondeu a 26 perguntas sobre condições de trabalho e deslocamento, saúde física e mental, rendimentos, assédio e expectativas em relação ao futuro, entre outras informações.

    “O estudo apresenta um panorama do sofrimento de quem trabalha seis dias por semana, mais de oito horas por dia, uma escala que não permite equilibrar trabalho e vida privada”, explicou Márcio Ayer, presidente do SECRJ.

    Impactos nos trabalhadores do comércio

    O estudo demonstrou que a maior parte das empresas que aplicam a jornada 6x1 aos seus trabalhadores está no comércio, em especial os mercados, hipermercados e atacarejos. Cenário de precarização que é caracterizado também por baixos salários e altos índices de adoecimento.

    Ao todo, 33% dos entrevistados trabalham no setor de mercados há mais de 4 anos, e entre os cargos mais mal remunerados, com salários de até R$ 1.412,00, a função de operador de caixa se destaca, com 23% dos participantes da pesquisa.

    Quando o assunto é saúde, 48,5% dos trabalhadores revelaram terem passado por atraso ou apresentado atestado médico no último mês. Desse total, 16,3% são funcionários de mercados.

    “Não é à toa que 92,8% dos trabalhadores do comércio – setor que mais aplica a escala 6×1 – são favoráveis à redução da jornada de trabalho sem corte de salários”, aponta Márcio Ayer


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    Sem alternativa ao desemprego, juventude é a mais precarizada

    No Brasil, os jovens de 18 a 24 anos ocupam a faixa etária com o maior número de desempregados entre os trabalhadores. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,93 milhões de jovens não tinham emprego no último semestre de 2024, um total de 12.9% dos desempregados.

    Sem perspectivas melhores, fica difícil para a juventude fugir da vida precarizada que o trabalho 6x1 impõe. Dos trabalhadores desta faixa etária, a pesquisa aponta que 41,84% são atendentes de lanchonetes, 34,67% repositores de mercadoria e 34,48% atendentes de lojas e mercados.

    Além do 6x1: a sobrecarga das mulheres

    Para as mulheres, que acumulam jornadas de trabalho formal com o trabalho de cuidado de crianças, idosos e enfermos na família, além das atividades domésticas, a escala 6x1 também é a realidade massacrante. De acordo com o estudo, 43,7 % dos trabalhadores 6x1 são mulheres.

    Negros são maioria entre os menores salários

    Com um percentual de 63%, a maioria dos trabalhadores da escala 6x1 que participaram do estudo eram negros (pretos ou pardos). Essa parcela da população também é maioria nos cargos de menor remuneração, e a pesquisa apontou que 72,2% atuam no setor de mercados.

    Entre as entrevistadas, mulheres pretas representam 89,7% dos operadores de caixa, função que oferece os menores salários.

    “Essa exploração é um reflexo da ‘neoescravidão’. Hoje, temos novos formatos de escravidão, onde o trabalhador negro, mesmo com salário, vive em condições indignas, sem pausas adequadas e com uma rotina exaustiva”, explica Tainara Ferreira,  especialista em Relações Étnico-Raciais e Gênero, em entrevista ao Alma Preta.

    Nada além de trabalhar

    Com uma rotina de seis dias seguidos de trabalho, mais de 40 horas por semana, tempo de deslocamento e empresas que desrespeitam leis trabalhistas para aumentar ilegalmente a carga horária, os trabalhadores praticamente não têm tempo para mais nada.

    A pesquisa revelou que 68% dos funcionários em escala 6x1 não estudam, e do total de entrevistados 62% estão solteiros. Além disso, o estudo também apurou que 48% dos trabalhadores foram obrigados a trocar, no último mês, seu único dia de folga que caíria no domingo ou em um feriado, e 75% acreditam que isso impactou negativamente sua vida pessoal e seus relacionamentos.

    Sem pressão popular nas ruas, redução da jornada de trabalho se arrasta no Congresso

    Com mais de 92% dos entrevistados pelo estudo do SCRJ e do OSB se posicionando a favor do fim da escala 6x1, é possível observar o apoio e o clamor popular sobre a pauta. Ainda assim, partidos e movimentos sociais ligados à esquerda institucional preferem travar a luta pela redução da jornada de trabalho apenas pelas vias convencionais.

    Com as decisões de marcar um plebiscito sobre o tema apenas para setembro e deixando a pauta tramitar no Congresso sem o apoio de uma jornada de manifestações de trabalhadores, esses setores abrem mão de pressionar parlamentares e o Poder Executivo pela sanção da Proposta de Emenda Constitucional (PEC), da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que reduz a jornada de trabalho.

    A falta de manifestações populares nas ruas desobriga, inclusive, o próprio Governo Lula-Alckimin (PT e PSB) — apontado por muitos como parte da esquerda — de apoiar a redução da jornada de trabalho. Em mais de um ano após a criação do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), o Poder Executivo não se posicionou publicamente em favor do fim da escala 6x1, nem mesmo confirmando uma possível sanção da PEC de Hilton.