A guerra comercial de Donald Trump e seus impactos na economia estadunidense e brasileira
Para o Brasil, os impactos revelam as diferenças que existem do capitalismo do centro do sistema de dominação imperialista e daqueles que estão incluídos de forma dependente.

Reprodução/Foto: EFE/EPA/JOHN TAGGART.
Reeleito com uma plataforma que prometia diversas mudanças no tratamento que os Estados Unidos têm em relação a seus principais parceiros comerciais – em especial a China – Donald Trump começou seu mandato de maneira explosiva, retomando a postura agressiva na política internacional de seu mandato anterior, de 2017 a 2020.
Abandonando qualquer princípio de livre comércio, Trump, desde o início do seu mandato, anunciou uma enorme elevação de tributos sobre importação de mercadorias, com destaque à China, cuja tributação saiu de 34% para 145%. Nesse sentido, ressalta-se a enorme importância que a economia chinesa tem com os Estados Unidos, estando apenas atrás da União Europeia no volume de produtos importados na balança comercial.
Um dos efeitos mais claros dessas medidas é a elevação dos preços de praticamente todos os produtos chineses, com risco de uma espiral inflacionária, atingindo principalmente a classe trabalhadora estadunidense, que não possui meios de se proteger dos impactos dessa guerra comercial.
Assim, com o objetivo de proteger o mercado consumidor doméstico para os grandes empresários estadunidenses, encarecendo artificialmente produtos chineses, Donald Trump irá impor os custos dessa guerra comercial aos trabalhadores estadunidenses, que já sofrem, desde a administração anterior de Joe Biden, com elevada inflação.
Ocorre, dessa maneira, a já esperada fórmula dos gestores do capitalismo em lidar com as crises econômicas decorrentes da própria lógica desta sociedade, colocar todos os ônus em cima da classe trabalhadora, salvando os próprios causadores da crise. Se durante a crise financeira de 2008 os bancos, que tomaram a casa de dezenas de trabalhadores, receberam trilhões de dólares em ajuda do governo, agora os grandes monopólios estadunidenses querem impedir que os próprios monopólios da China entrem em seu mercado doméstico.
Ou seja, o livre mercado só existe quando convém para os Estados Unidos, quando encontram um adversário forte o suficiente para competir com suas empresas, o discurso protecionista volta com força.
Temos então um quadro sombrio pela frente. Um cenário econômico onde a inflação deve retomar com força combinada a uma possível recessão no futuro em razão dos impactos no aumento dos custos de produção que essa guerra comercial deve causar. No presente, a economia estadunidense já apresenta alguns sinais de desaceleração embora ainda tímidos, entre eles está a elevação da taxa de desemprego de 3,4% em abril de 2023 para 4,3% março de 2025. Ainda, as projeções mais recentes do próprio banco central estadunidense (chamado, em inglês, de Federal Reserve) apontam para um crescimento do PIB de apenas 1,7% neste ano, em contraste com a expansão de 2,8% observada em 2024.
A experiência histórica de como o Federal Reserve lida com espirais inflacionárias dá pistas de como será a sua reação caso ocorra novamente uma elevação dos preços, mesmo no caso em que as causas dessa inflação seja por um aumento de custos criados artificialmente pelo governo.
Em 1979, em reação a uma inflação de custos causada por uma crise na oferta de petróleo, o Federal Reserve reagiu com uma enorme alta na sua taxa de juros, causando uma profunda recessão, com elevado desemprego, para controlar e reduzir a inflação. As medidas utilizadas pelo banco central causaram uma onda de demissões, com a taxa de desemprego saindo de 5,6% em maio de 1979 e atingindo 10,8% em 1982, com um período turbulento e recessivo que durou três anos. Ainda, após esse triênio a força do movimento operário nos Estados Unidos sofreu um baque, com taxas de dessindicalização aumentando rapidamente, perdas que até hoje não foram recuperadas.
A guerra comercial no capitalismo dependente brasileiro
Para o Brasil, os impactos são semelhantes na esfera econômica, mas também revelam as diferenças que existem do capitalismo do centro do sistema de dominação imperialista e daqueles que estão incluídos de forma dependente. O Banco Central do Brasil (Bacen), recentemente sob o comando do indicado do presidente Lula, Gabriel Galípolo, deve adotar estratégia semelhante no combate à inflação, ou seja, promover uma desaceleração econômica para domar a alta no nível de preços.
Como a história recente demonstra, desde o golpe contra a presidente Dilma, a burguesia brasileira tenta compensar as mudanças ocorridas no cenário global, em especial aquelas que afetam negativamente sua taxa de lucro, intensificando o ataque contra a classe trabalhadora, propondo toda sorte de destruição de direitos e aumentar a exploração. É isso que significa a reforma trabalhista (2017) que prejudicou enormemente o movimento sindical; o teto de gastos do instituído no governo Temer (2016); a reforma da previdência (2019), aumentando a idade da aposentadoria.
Todavia, o Governo Lula-Alckmin não parece apresentar uma oposição a nenhum desses fatores elencados, pelo contrário, muitas vezes promove o seu aperfeiçoamento. É o caso do Novo Teto de Gastos, que continua a lógica de austeridade imposta desde 2016, em conjunto com a continuidade da política monetária de Campos Neto (antigo presidente do Bacen, indicado por Bolsonaro) por Gabriel Galípolo.
Nessa atual conjuntura, portanto, não se pode esperar uma reação generosa do Governo Federal para com os trabalhadores, trata-se de um governo que irá atender aos interesses dos grandes empresários e financistas, impondo os piores custos da crise econômica nos ombros da classe trabalhadora.