Petroleiros pressionam Lula por embargo energético a Israel

Na exportação de óleos brutos de petróleo do Brasil para Israel, há um aumento do valor em quase 56% entre 2023 e 2024 e, no que tange a exportação de produtos residuais de petróleo, os valores aumentam em cerca de 4.050% no mesmo período.

7 de Junho de 2025 às 15h00

Reprodução/Foto: Daniela Fajer/Vozes Judaicas por Libertação.

Por Mateus Filgueira

Enquanto trabalhadores portuários e petroleiros ao redor do mundo realizam piquetes e greves contra a exportação energética e armamentista à Israel, no Brasil a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), as duas maiores entidades laborais dos petroleiros, enviaram no dia 28 de maio uma carta ao Governo Federal solicitando embargo energético a Israel. A medida veio após relatórios internacionais que mostraram o Brasil como agente ativo direto da manutenção do genocídio na Palestina através do abastecimento energético.

Além do Presidente Lula (PT), o pedido também foi realizado nominalmente a Geraldo Alckmin (PSB), Vice-Presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Gleisi Hoffmann (PT), Presidenta do Partido dos Trabalhadores e Ministra das Relações Institucionais; Mauro Vieira, Ministro das Relações Exteriores; e ao Alexandre Silveira (PSD), Ministro de Minas e Energia.

Na própria Carta, disponível na íntegra no site da FUP, a Federação destacou alguns números: “Dados oficiais da Agência Nacional do Petróleo apontam que 1.969.485 barris de petróleo foram exportados para Israel em 2023, correspondendo a 0,34% do total de exportações brasileiras no mesmo ano. Segundo dados do próprio ComexStat, somente em 2024, durante o genocídio em Gaza, o Brasil exportou o equivalente a US$ 215.890.164,00 de petróleo bruto a Israel, equivalentes a 2,7 milhões de barris, aproximadamente 3,3% do consumo anual de petróleo do país. Já uma pesquisa encomendada pela organização sem fins lucrativos Oil Change International revela que o Brasil foi responsável por 9% do total de petróleo bruto fornecido a Israel entre outubro de 2023 e julho de 2024”.

Como argumentação, as entidades levantaram questões políticas como a deslocação forçada de palestinos, genocídio deliberado, apartheid e “ocupação sionista permanente do território”; levantaram as falas do Presidente Lula em eventos publicos criticando o “holocausto palestino” – o que o tornou persona non grata por Israel –, o posicionamento do Brasil na ONU na busca pelo cesar-fogo e o apoio institucional brasileiro à Palestina na Corte Internacional de Justiça/Tribunal Penal Internacional e na Assembleia Geral das Nações Unidas. As entidades também sustentaram como que ao retroalimentar o genocídio, o Brasil também fere o Direito Internacional em Acordos e Convenções que é signatário.

Além dos mais de 53.500 mártires palestinos totais e mais de 124.054 feridos, segundo dados do relatório estatístico periódico, o genocídio na Palestina, desde a Tempestade Al-Aqsa - que marcou o início da ofensiva sionista em 2023 - teve impactos direto nos cidadãos brasileiros. Destaca-se o grupo de cidadãos brasileiros - turistas e israelenses - feitos reféns por Israel não permitindo o retorno ao Brasil que só foi possível após negociações entre o Governo Brasileiro com Israel; a detenção do palestino Muslim Abuumar no aeroporto de Guarulhos em junho de 2024; a morte da bebe libano-brasileira de 1 ano morta por bombardeio isralense em Beirute; e o falecimento do jovem brasileiro de 17 anos, Walid Khaled Abdullah Ahmed nas masmorras israelenses.

Apesar de tudo isso, a postura de Lula é passiva e limitada a discursos e propostas de césar-fogo na Assembleia da ONU. Na agenda econômica do governo Lula-Alckmin-Haddad, Brasil teve exportação recorde de óleos combustíveis para Israel. Segundo levantamento da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL) com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, desde outubro de 2023 - início da ofensiva sionista - até abril de 2025, houve um aumento do valor de exportação em 44.300%.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. (Gráfico: Fepal).

Na exportação de óleos brutos de petróleo do Brasil para Israel, há um aumento do valor em quase 56% entre 2023 e 2024 e, no que tange a exportação de produtos residuais de petróleo, os valores aumentam em cerca de 4.050% no mesmo período.

Em 2023, para a coluna econômica da UOL, o analista Einar Rivero, saudou o pico de ações da Petrobrás em meio ao genocídio na Palestina e ao conflito interimperialista na Ucrânia ao afirmar que “A valorização está em sintonia com a tendência global de alta nos preços do petróleo. Eventos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e os conflitos em Israel, elevaram o preço do barril de petróleo, impulsionando o desempenho das empresas produtoras de petróleo, como a Petrobras'”.

Ainda durante a ofensiva da limpeza etnica sob o povo Palestino, tornou-se emblemático as aquisições bélicas pelo Brasil que foram forçadas, por pressão popular, a serem vetadas pelo governo Lula-Alckmin em novembro de 2024, apesar da declaração do Ministro de Estado Mauro Vieira de que “não esta nas nossas considerações” romper relações com a indústria militar de Israel.

As relações Brasil-Israel remontam treinamento militar na ditadura empresarial-militar de 1964, inclusive com acordos nucleares; exercícios militares na Amazônia; treinamento militar israelense ao Exército Brasileiro e a Polícia Militar para a Copa do Mundo de 2014 durante o governo Dilma (PT); compra de armas e equipamentos bélicos de Israel; e as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) baseada nos “checkpoints” sionistas na Palestina ocupada e em Gaza. Não à toa o PCBR e a UJC são organizações ativas na campanha nacional “As armas israelenses matam no Brasil e na Palestina”.

Em matéria recente da The Intercept Brasil com a Declassified UK e o The Ditch, o jornalista Vinicius Konchinski denunciou a siderúrgica brasileira Villares Metals (SP) pela exportação de ao menos duas cargas de aço para duas fábricas bélicas israelenses: a IMI Systems e a Israel Weapon Industries.

Em 2024, o Presidente da Colômbia Gustavo Petro, suspendeu as vendas de carvão para Israel e anunciou o rompimento das relações do país com os sionistas; nas últimas semanas o Presidente do Chile, Gabriel Boric, defendeu sanções contra Israel; o parlamento espanhol pautou projeto de lei de embargo bélico ao estado genocida; e até Macron, Presidente da França, aliado histórico da ocupação sionista, em um dos picos de impopularidade defendeu embargo bélico a Israel porque o “Líbano não pode se tornar outra Gaza”. No Brasil a campanha pelo embargo militar a Israel teve início em outubro de 2024, em manifesto assinado por diversos partidos, artistas e organizações civis em apoio ao povo Palestino.