Nasce em São José (SC) a Ocupação Elizabeth Teixeira
São José, eleita como a melhor cidade para investir em imóveis no Brasil, reflete de forma clara o modelo que privilegia o lucro. Seu crescimento beneficia construtoras e empresários, mas não garante moradia digna ou qualidade de vida para a população.

Foto: Jornal O Futuro.
Mais de 220 famílias trabalhadoras ocuparam um terreno público abandonado na Rua Araranguá, em São José. Organizada pela Brigada de Trabalhadores por Terra, Trabalho e Teto (B4T) e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), a Ocupação Elizabeth Pereira é a segunda iniciativa do partido na região metropolitana e surge como resposta direta à falta de moradia e à especulação imobiliária que empurra os trabalhadores para a periferia ou para aluguéis cada vez mais caros.
O terreno, de propriedade pública, está abandonado há mais de 15 anos. Desde 2010, o Estado promete limpar e utilizar o espaço, mas a área permaneceu negligenciada. Com o mato alto e o acúmulo de água, o local se tornou foco de pragas e doenças, incluindo caramujos africanos, mosquitos, ratos e baratas, ameaçando especialmente crianças e idosos. Além disso, o terreno se transformou em lixão a céu aberto, usado para descarte irregular de entulho e lixo, degradando a região e tornando a vida da comunidade ainda mais difícil.
Com a ocupação, o terreno passa a ter uma nova função social, deixando de ser um espaço abandonado para se tornar um ponto de vida e cultura para a comunidade. A área será utilizada como moradia para trabalhadores e trabalhadoras, que poderão consumir e trabalhar na região, estimulando o comércio local. Também poderá ser futuramente um espaço cultural, com sessões de cinema ao ar livre, festas tradicionais e oficinas de artesanato, e um espaço educacional, oferecendo aulas abertas de música, informática, apoio escolar e pré-vestibular.
O contexto da ocupação reflete problemas que atingem todo o estado. Santa Catarina é hoje o estado que mais recebe migrantes no Brasil, atraídos pela promessa de trabalho e de uma vida melhor. Mas quem chega encontra os aluguéis mais altos do país e imóveis cada vez mais inacessíveis, agravados pelas altas taxas de juros, que tornam qualquer financiamento quase uma dívida eterna. Essa realidade não afeta apenas os migrantes: todos os trabalhadores catarinenses enfrentam diariamente o peso da especulação e da falta de políticas públicas de moradia.
São José, eleita como a melhor cidade para investir em imóveis no Brasil, reflete de forma clara o modelo que privilegia o lucro. Seu crescimento beneficia construtoras e empresários, mas não garante moradia digna ou qualidade de vida para a população. Para muitos trabalhadores, grande parte do salário vai para o aluguel, tornando até mesmo colocar comida na mesa da família um desafio diário.
Para as famílias ocupantes, a ação vai além de garantir um teto: é uma denúncia contra a cidade-mercadoria e uma afirmação do direito à vida digna. A Ocupação Elizabeth Pereira mostra que o território público pode e deve ser usado para o benefício dos trabalhadores, e que apenas a ação coletiva e a luta popular podem pressionar o Estado a garantir terra, trabalho e teto para todos.