Reeleição de Noboa no Equador é marcada por denúncias de fraude e estado de exceção
A reeleição de Daniel Noboa consolida a guinada à extrema direita iniciada com o governo de Guillermo Lasso, aprofundando o domínio de uma elite econômica tradicional fortemente vinculada ao setor agroexportador.

Luisa González discursa ao lado de apoiadores após denunciar fraude na reeleição de Daniel Noboa. Reprodução/Foto: TeleSUR.
O presidente equatoriano Daniel Noboa foi reeleito no último dia 13, em um pleito marcado por denúncias de irregularidades e por um decreto de estado de exceção às vésperas da votação. Com 90% das urnas apuradas, Noboa, candidato da extrema direita, obteve 55,8% dos votos, garantindo mais quatro anos de mandato. Sua adversária, Luisa González, da Revolução Cidadã, ficou com 44,1% dos votos válidos.
A Revolução Cidadã e diversas organizações populares rejeitaram os resultados oficiais, denunciando um processo eleitoral marcado por irregularidades. O partido anunciou que solicitará a recontagem dos votos e expôs práticas que colocam em xeque a legitimidade do pleito. Andrés Arauz, secretário-geral da Revolução Cidadã, denunciou que inúmeras atas eleitorais foram registradas sem as assinaturas obrigatórias do presidente e do secretário das Juntas Receptoras de Voto (JRV) — violando a legislação eleitoral e, em todos os casos, favorecendo o candidato da extrema-direita. A CELAC Social somou-se às denúncias, apontando mudanças arbitrárias de última hora nos locais de votação, uso clientelista da máquina pública, exclusão deliberada de observadores internacionais e a negação do direito ao voto para milhares de equatorianos no exterior.
A legitimidade do pleito foi ainda mais contestada após a decretação de estado de exceção na véspera da votação. No sábado (12), Daniel Noboa impôs a medida em Quito e em outras sete províncias, sob a justificativa de “graves distúrbios internos” provocados pelo avanço da violência e pela presença de grupos armados. A decisão foi duramente criticada pela oposição, que denunciou o uso político e autoritário do recurso para restringir a mobilização popular e interferir no processo eleitoral. O decreto suspendeu garantias constitucionais básicas, como a inviolabilidade do domicílio e da correspondência, e autorizou toques de recolher em 22 cidades do país.
A reeleição de Daniel Noboa consolida a guinada à extrema direita iniciada com o governo de Guillermo Lasso, aprofundando o domínio de uma elite econômica tradicional fortemente vinculada ao setor agroexportador. Como herdeiro de uma das famílias mais influentes do país, Noboa simboliza a continuidade de um grupo que historicamente controla setores importantes da economia equatoriana. Seu governo tem se destacado pela militarização da vida civil, repressão aos movimentos populares e submissão crescente aos interesses dos Estados Unidos. Propostas para reinstalar bases militares estrangeiras — proibidas pela Constituição desde 2008 — e a manutenção de acordos que permitem o uso de portos e aeroportos equatorianos, inclusive nas Ilhas Galápagos, evidenciam o aprofundamento desse alinhamento.
A visita de representantes do Comando Sul dos EUA e o treinamento de forças locais por militares estadunidenses marcaram essa crescente aproximação entre os dois países. Durante a campanha, Noboa defendeu explicitamente o estreitamento de laços com Washington e chegou a propor uma parceria com a empresa Blackwater, conhecida por fornecer mercenários em zonas de conflito. Combinando repressão interna, dependência externa e um cenário de crise energética e violência crescente, sua reeleição aprofunda a entrega da soberania nacional em detrimento dos interesses da classe trabalhadora.