EDITORIAL: Os rumos da luta de classes no Brasil

Do ponto de vista dos trabalhadores, qualquer estratégia, para merecer esse nome, precisa, no mínimo, apontar um caminho para derrotar os inimigos, rompendo com a utopia de fazer gestão social e diplomática da barbárie capitalista e imperialista.

1 de Novembro de 2025 às 21h00

Ato contra PEC da Blindagem, em São Paulo, dia 21 de setembro de 2025. Foto: Madu de Sousa / Jornal O Futuro.

Após a derrota da PEC da Blindagem, a Câmara dos Deputados, alinhada ao oligopólio da mídia e às grandes coalizões empresariais que operam no Brasil, se lançou ao contra-ataque.

Menos de duas semanas depois das manifestações populares que ocuparam as ruas do país, levando o Senado a arquivar a proposta, o Grupo de Trabalho sobre a Reforma Administrativa, coordenado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), trouxe à tona um documento de 520 páginas contendo proposições legislativas que aprofundam a ofensiva contra a estabilidade, a valorização dos servidores públicos e paridade entre ativos e aposentados. Além disso, o texto aponta para a ampliação da entrega de serviços públicos fundamentais ao mercado, através de mecanismos como as terceirizações.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos – PB), já fez diversos anúncios de que o tema é prioridade na sua gestão. Enquanto isso, a imprensa burguesa se encarrega de massificar o assunto nos veículos de comunicação, reforçando a campanha contra os trabalhadores do serviço público.

Diante disso, se faz necessário reforçar o calendário de lutas proposto por entidades sindicais representativas dos servidores e movimentos sociais, bem como organizar a batalha ideológica nos locais de trabalho, não só reagindo à retirada de direitos, mas também pautando a necessidade de novas conquistas, como a jornada semanal de 30 horas para todos os trabalhadores.

Depois de 11 anos sem atualização da tabela do Imposto de Renda, não restam dúvidas da necessidade de ampliar a faixa de isenção, tema que o parlamento foi obrigado a encaminhar para amenizar o desgaste proveniente das sucessivas medidas impopulares que vem adotando e, consequentemente, conter a pressão do movimento de massas.

Por outro lado, cabe apontar que a opção consciente do governo Lula-Alckmin por priorizar a isenção de imposto de renda para quem recebe até 5 mil reais por mês em detrimento do fim da escala 6x1 foi o caminho encontrado para conciliar duas demandas, a saber: fazer um aceno às camadas intermediárias e superiores do proletariado, assim como aos estratos inferiores da chamada classe média, e, ao mesmo tempo, preservar a confiança da burguesia, que segue se beneficiando do caráter regressivo do sistema tributário nacional e livre para continuar explorando os trabalhadores por 44 horas semanais.

Mas a obsessão petista com a colaboração de classes não se resume ao terreno doméstico. Mesmo com o tarifaço e as tentativas de interferir no sistema judiciário brasileiro para beneficiar o clã Bolsonaro e as big techs, bastou uma ligação de Donald Trump para Lula afirmar que, na sua relação com o presidente estadunidense, “não pintou química, pintou uma indústria petroquímica”.

Enquanto isso, Trump discursava defendendo o perdão para os crimes do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e admitia publicamente que autorizou operações da CIA na Venezuela.

Há quem chame isso de estratégia. Porém, do ponto de vista dos trabalhadores, qualquer estratégia, para merecer esse nome, precisa, no mínimo, apontar um caminho para derrotar os inimigos, rompendo com a utopia de fazer gestão social e diplomática da barbárie capitalista e imperialista.