Estudantes lutam pela federalização do Hospital Regional de Governador Valadares

Em defesa de uma formação digna e de um SUS fortalecido na região, o movimento estudantil e os estudantes da saúde denunciam o sucateamento da universidade e a ameaça de privatização da saúde em Governador Valadares.

2 de Outubro de 2025 às 0h00

Estudantes marchando pelas ruas de Governador Valadares. Reprodução/Foto: Luana Silva.

Mais de 150 estudantes de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares, (UFJF-GV) realizaram um ato nas ruas de Governador Valadares na tarde de 16 de setembro. No ato, organizado pelo Diretório Acadêmico Vinícius Vieira (DAVV) e Diretório Central dos Estudantes (DCE), os estudantes denunciaram a precarização histórica da infraestrutura do campus e o plano privatista do governo de Minas Gerais, comandado por Romeu Zema (NOVO), que visa entregar a gestão do novo Hospital Regional de Governador Valadares (HRGV) à iniciativa privada, enquanto os estudantes reivindicam sua federalização como um hospital universitário 100% público.

A principal bandeira do ato é a federalização do HRGV. Em obras a mais de uma década, o hospital tem sua conclusão prevista para 2026, após a retomada com verbas de “reparação”, que só existem devido aos crimes da Samarco que levaram ao rompimento da barragem na bacia do Rio Doce em 2015. O governo de Minas, contudo, planeja entregar a gestão do hospital a uma fundação privada, por meio de concessão. Para os estudantes, esse modelo representa um ataque privatista que visa transformar a saúde da cidade e da região em mercadoria. A federalização, por outro lado, pode garantir que o hospital sirva como um campo de formação para os futuros profissionais de saúde e como um equipamento de gestão 100% pública e gratuito, ligado ao SUS, com acesso a toda a população.

A mobilização dos estudantes também vem por uma longa demanda não cumprida: a construção da sede definitiva da UFJF-GV, que desde 2012, com a criação do campus avançado, ainda não possui infraestrutura própria, o que só escancara o sucateamento da estrutura física da universidade. O projeto original teve as obras paralisadas e se tornou um verdadeiro monumento ao desperdício de dinheiro público, enquanto milhões são gastos anualmente com aluguéis.

A reitoria, sediada em Juiz de Fora, não apresenta interesse na melhoria do campus de GV, destinando a nova verba do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de 63 milhões, à compra de prédios que já não atendem às necessidades dos estudantes, principalmente os da área da saúde, sendo os mais afetados os do curso de Medicina. O verdadeiro interesse dos gestores em comprar um prédio que não serve aos universitários é unicamente economizar com aluguéis, aumentando as verbas disponíveis para a sede, já que o contrato de aluguel do prédio do Departamento de Ciências Básicas da Vida (DCBV) já está firmado até 2029. Essa manobra não melhora a infraestrutura local da UFJF-GV, o que mantém os estudantes e os trabalhadores do campus numa constante precarização.

A luta dos estudantes expõe as contradições de um projeto de expansão do ensino superior que, após mais de uma década, ainda submete a comunidade acadêmica a estruturas improvisadas e alugadas, fruto da constante política de austeridade fiscal que perdura no Brasil desde os anos 90, continuada e aprofundada pelos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente no atual, com o Novo Arcabouço Fiscal (NAF), conhecido como novo teto de gastos, continuidade do projeto econômico do governo Temer e Bolsonaro, que reduz o crescimento da despesa primária (saúde, educação e infraestrutura). Essa situação é um reflexo claro das prioridades do Estado burguês nos marcos do capitalismo dependente brasileiro, que prioriza lucros para a iniciativa privada, concomitância sucateando os serviços públicos em concomitância com propostas de privatização desses serviços, ao invés de investimentos permanentes na saúde e na educação públicas.

Enquanto o governo e a reitoria da universidade negligenciam o campus avançado, os estudantes apresentam uma saída coletiva: a unidade para barrar os ataques e garantir uma formação digna a serviço da classe trabalhadora, com infraestrutura adequada às necessidades de suas formações. Dessa forma, os estudantes se mantêm mobilizados e vigilantes a fim de conquistar suas demandas através da organização da base dos estudantes, o que vem repercutindo na cidade e na universidade.