Aos 75 anos, Simón Trinidad resiste
Dos 75 anos de Simón Trinidad, ex-dirigente das FARC, foram 21 cumprindo pena de prisão nos EUA. Sua condenação reflete a repressão reacionária nas Américas e a aliança entre Washington e o governo colombiano.

Simón Trinidad.
Nesta terça-feira, Simón Trinidad – nome de guerra de Juvenal Ovidio Ricardo Palmera Pineda – completa 75 anos de vida. Ex-dirigente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), economista de formação e militante dedicado à causa camponesa e revolucionária, Trinidad permanece preso há 21 anos em território norte-americano, sob regime de isolamento e com severas restrições de contato com o mundo exterior.
Preso em 2004 em Quito, no Equador, e extraditado para os Estados Unidos pelo governo Ivan Duque, sua condenação a 60 anos de prisão reflete, segundo os partidos comunistas, movimentos sociais e organizações de direitos humanos, a política de perseguição imperialista contra militantes populares latino-americanos. Trinidad é símbolo de resistência e, para muitos, sua prisão é parte de uma estratégia de criminalização da luta revolucionária.
No início dos anos 2000, a Colômbia foi marcada por uma escalada na repressão às FARC, especialmente com a implementação doPlano Colômbia, financiado e apoiado diretamente pelos Estados Unidos. Trata-se de uma iniciativa bilateral lançada em 2000 pelos governos dos Estados Unidos e da Colômbia, oficialmente com o objetivo de “combater o narcotráfico e fortalecer as instituições do Estado colombiano”. Na prática, tratou-se de um amplo programa de ajuda militar e financeira – com bilhões de dólares enviados por Washington – que intensificou a militarização da extrema direita e a caça aos comunistas no conflito interno colombiano. O plano incluiu o treinamento de forças armadas, envio de armamentos, tecnologias de vigilância e operações de fumigações aéreas, frequentemente associadas a danos graves às comunidades da Amazônia. O plano aprofundava a repressãouribista, ao mesmo tempo em que consolidava a influência dos Estados Unidos na política de segurança da região.
O governo de Álvaro Uribe, aliado próximo de Washington, utilizou essa aliança para ampliar o controle sobre os territórios camponeses, criminalizar lideranças populares e intensificar a perseguição aos insurgentes. Foi nesse contexto que se intensificou a ofensiva contra dirigentes das FARC e se consolidou a estratégia de cooperação jurídica e militar com os EUA – da qual a prisão e extradição de Simón Trinidad são exemplos emblemáticos.
A prisão de Simón não se dá no vácuo. É o resultado de todo esse contexto histórico de repressão violenta, miséria e abandono vivido por milhares de camponeses e trabalhadores na Colômbia. Por décadas, o país foi um dos principais alvos da intervenção imperial dos Estados Unidos na América Latina, fomentando guerras internas, desmontando projetos de soberania e incentivando políticas de terror estatal. Trinidad foi entregue ao governo norte-americano em 2004 e, desde então, sua situação é denunciada como um caso grave de violação dos direitos humanos, sendo mantido em regime de total isolamento – uma forma moderna de tortura silenciosa.
Neste aniversário, diversas vozes se erguem ao redor do mundo para exigir a liberdade e a repatriação de Simón Trinidad. Trata-se não apenas de umpedidojurídico, mas de um clamor ético e político por justiça aos nossos. Organizações sociais, partidos políticos, movimentos populares e coletivos internacionais destacam a urgência de seu retorno à Colômbia, como um passo necessário rumo à paz verdadeira e duradoura.
A campanha global por sua libertação ganha novo fôlego com o apelo ao presidente Gustavo Petro: que o governo colombiano intensifique os esforços diplomáticos e legais pela repatriação de Trinidad. A presença de Simón em solo colombiano é vista como um gesto de reparação, reconhecimento e compromisso com a reconciliação nacional.
Ao mesmo tempo, é preciso denunciar com firmeza o papel das elites colombianas e do imperialismo norte-americano, que continuam a se opor à construção da paz, apostando na exclusão, na repressão e na guerra. A manutenção de Trinidad na prisão representa a continuidade de uma política de ódio contra aqueles que ousaram sonhar com o socialismo e a reforma agrária.
Mas, mesmo diante de décadas de encarceramento e isolamento brutal, Simón Trinidad segue firme. Não recuou em suas convicções, nem abandonou a luta. Sua postura digna e inquebrantável ecoa como exemplo para as novas gerações de militantes e ativistas.
Nesse marco de seus 75 anos, convocam-se as organizações sociais, partidos políticos e movimentos de direitos humanos: somem-se à campanha internacional por sua liberdade. É de primeira importância que os governos rompam o silêncio e atuem pela repatriação imediata de um homem que, mesmo preso, nunca deixou de sonhar com uma pátria livre e justa.