Classe trabalhadora italiana se levanta contra o orçamento de Meloni
As greves gerais na Itália demonstram que a classe trabalhadora italiana organizada rejeita o pacto de austeridade e guerra imposto pelo governo Meloni. A oposição aos cortes, à guerra e ao genocídio do povo palestino formam uma só frente de luta.

Reprodução/Foto: Fronte Comunista.
A Itália se tornou palco de um intenso e politicamente carregado ciclo de lutas da classe trabalhadora, culminando em duas greves gerais que expuseram a profunda crise social e a escalada militarista imposta pelo governo de extrema-direita de Giorgia Meloni.
As mobilizações, especialmente a greve geral de 28 de novembro, convocada pelos sindicatos de base, e a subsequente de 12 de dezembro, organizada pela Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL), revelaram uma clara divisão entre a vanguarda operária e a burocracia sindical, tendo a Fronte Comunista (FC) e a Fronte della Gioventù Comunista (FGC) como importantes forças na radicalização das pautas.
O pano de fundo do irromper desta revolta popular é o projeto de lei orçamentária do governo Meloni para 2026, uma legislação que a base sindical combativa e as organizações comunistas têm denunciado como Orçamento de Guerra e Austeridade. A política de Meloni, alinhada aos ditames da União Europeia e da OTAN, tem transformado a vida dos trabalhadores italianos em uma tragédia social, onde os cortes em serviços essenciais financiam o rearmamento e a cumplicidade com o imperialismo.
O projeto orçamentário de Meloni para 2026 é o alvo central da denúncia. Sob o pretexto de reduzir o déficit público para menos de 3% do Produto Interno Bruto – uma exigência da União Europeia para acesso a fundos –, o governo planeja cortes drásticos em áreas sociais vitais, como saúde, educação e previdência.
A natureza regressiva do plano é ainda mais evidente na reforma do imposto de renda (IRPEF), que, segundo análises, beneficia desproporcionalmente os altos salários. Enquanto dirigentes podem ter um ganho de 408 euros, os operários recebem apenas 23 euros, evidenciando que a austeridade é seletiva e a favor da classe dominante.
As medidas práticas de austeridade, que dão o tom da tragédia social iminente, incluem cortes substanciais nos gastos com a saúde pública, um setor que, na Itália, já foi muito fragilizado pela pandemia, e redução de benefícios previdenciários, precarizando a vida dos idosos e dos mais vulneráveis.
No campo da educação, as reformas de Meloni atacam diretamente a educação pública, de natureza eminentemente repressiva, com cortes de fundos e intensificação da alternância escola-trabalho, visando transformar a juventude em mão de obra barata e despolitizada.
Em contrapartida aos cortes sociais, o orçamento prevê um aumento substancial nos gastos militares, em um movimento de alinhamento com as exigências da OTAN para que os países membros atinjam 2% do PIB em “defesa”. O plano é aumentar o gasto militar dos atuais 45 bilhões de euros para 150 bilhões de euros por ano até 2035, alocando recursos da esfera social para o complexo industrial-militar.
Foi contra este cenário de desmonte social e militarismo crescente que a classe trabalhadora italiana se levantou. A resposta veio com a greve geral de 28 de novembro, que não apenas paralisou o país, mas também politizou a luta, unindo as pautas econômicas à condenação da política externa imperialista do governo Meloni.
A greve geral de 28 de novembro, convocada pela Unione Sindicato di Base (USB) e outras organizações de base, representou o ponto mais alto da resistência operária. A adesão foi notadamente ampla e significativa, paralisando setores estratégicos da economia do país. Trens, ônibus, serviços públicos e até mesmo a imprensa foram afetados, demonstrando a capacidade de mobilização dos sindicatos de base, que se opuseram à política de divisão da principal confederação sindical.
A pauta desta greve não se limitou a reivindicações econômicas, mas assumiu um caráter profundamente político e anti-imperialista. A FC e a FGC, que participaram ativamente da convocação e das manifestações, deixaram clara a indissociabilidade entre a luta interna e a internacional:
FC e FGC organizaram um grande bloco comunista sob o lema “VAMOS EXPULSAR O GOVERNO CÚMPLICE DO GENOCÍDIO”, que atingiu um tamanho expressivo, demonstrando a força e a vitalidade dos comunistas aos olhos de milhares de pessoas, energizando a marcha com palavras de ordem combativas contra o governo, contra o imperialismo e contra os planos EUA-EU-OTAN ativamente apoiados pelos capitalistas italianos, e em apoio à luta pela libertação da Palestina.
A conexão entre a austeridade interna e a política externa belicista é o ponto central da análise da Fronte Comunista. A luta contra o orçamento de guerra é, intrinsecamente, a luta contra o imperialismo, e o papel da Itália de Meloni no genocídio do povo palestino é uma das principais bandeiras de denúncia.
O governo Meloni tem sido centro de importantes denúncias por sua cumplicidade política com o genocídio em Gaza. A própria Premiê foi denunciada ao Tribunal Penal Internacional por cumplicidade em genocídio em outubro de 2025, uma acusação que ela tentou desqualificar, mas que reflete a percepção popular e a posição das organizações de vanguarda. Embora haja relatos de um embargo de armas contra Israel, política de fachada diante da pressão internacional contra a entidade sionista, a exigência dos comunistas italianos é pela ruptura total com o Estado sionista e o fim de qualquer apoio, denunciando o orçamento de guerra que apoia o imperialismo diretamente.
Esta postura de defesa do direito de resistência do povo palestino confere à luta na Itália um caráter de vanguarda no cenário europeu. A greve de 28 de novembro não é um evento isolado, mas a continuidade de um ciclo de mobilizações que demonstrou a crescente consciência política da juventude e da classe trabalhadora italiana.
As mobilizações anteriores, como a greve política de 3 de outubro e os bloqueios de 22 de setembro – este último em resposta ao ataque israelense à Flotilha Global Sumud –, estabeleceram a ligação orgânica entre a política interna e o imperialismo. A FC e a FGC veem a luta contra o orçamento de guerra e a solidariedade à Palestina como frentes inseparáveis.
A linha política da Fronte Comunista e da FGC é clara: a luta de classes deve ser organizada e radicalizada. Eles criticam a burocracia sindical, especialmente a CGIL, por tentar dividir o movimento. Em comunicado conjunto, a FC e a FGC reconhecem o ímpeto das mobilizações populares, mas alertam para a necessidade de uma vanguarda organizada para capitalizar a energia da luta.
Em contraste com a radicalidade e a amplitude política da greve de 28 de novembro, a CGIL convocou sua própria mobilização para 12 de dezembro. Embora a pauta oficial inclua “paz, justiça social e defesa dos salários”, a CGIL é criticada pelos sindicatos de base e pelos comunistas por sua recusa em convergir com a greve de novembro, em uma manobra para controlar o descontentamento da base e dividir o movimento.
A direção da CGIL, ao se recusar a romper com as políticas de austeridade e militarização do governo Meloni, tenta arrefecer a luta em vez de levá-la às últimas consequências. A divisão imposta pela burocracia sindical, no entanto, não conseguiu conter o ímpeto da base, que, liderada por organizações como a Fronte Comunista, demonstra que a verdadeira unidade da classe trabalhadora se constrói na luta intransigente contra o capital e o imperialismo.
As greves gerais de novembro e dezembro de 2025 na Itália transcendem a mera disputa por aumento salarial. Elas demonstram a organização da classe trabalhadora italiana, que rejeita o pacto de austeridade e guerra imposto pelo governo Meloni. A luta contra os cortes na saúde e educação, a oposição ao rearmamento da OTAN e a solidariedade incondicional ao povo palestino formam um único e indivisível front de combate.
Enquanto a burocracia sindical tenta cooptar e dividir o movimento, a base demonstra que a única resposta eficaz à ofensiva imperialista e de classe é a organização e a luta, reafirmando que a história da Itália, e a do mundo, será escrita nas ruas e nos locais de trabalho, e não nos gabinetes.