Trabalhadores realizam paralisação nos Restaurantes Universitários da UFPR

Revoltados com a situação e cansados de implorar à Cozinha Gourmet pelo básico, os trabalhadores organizaram a paralisação ainda na madrugada de sexta-feira para sábado, com auxílio de estudantes e militantes de diversas organizações, dentre elas a União da Juventude Comunista (UJC).

11 de Junho de 2025 às 15h00

Trabalhadores paralisam restaurante universitário em Curitiba com apoio de estudantes. Foto: Jornal O Futuro.

No dia 07 de junho, os trabalhadores do Restaurante Universitário Central da Universidade Federal do Paraná (UFPR) iniciaram, com auxílio do movimento estudantil da universidade, uma paralisação em defesa de seus direitos básicos.

Os restaurantes universitários da instituição têm apresentado péssima qualidade para os estudantes, com grande demora nas filas devido à falta de trabalhadores, refeições que não agradavam muitos devido tanto a compra de insumos de baixa qualidade, bem como condições de higiene com relação à limpeza das bandejas e talheres que por vezes não eram as melhores desde sua terceirização, porém, a sua situação se tornou ainda mais insalubre desde que o contrato de licitação foi assumido pela empresa Restaurante Gourmet, em janeiro de 2025. Do começo do ano até agora, junho, às denúncias contra a empresa por parte dos funcionários só aumenta, e qualidade, aos olhos dos estudantes, piora cada dia mais.

De acordo com os trabalhadores, a empresa não faz questão de cumprir com os compromissos mais básicos. Dentre outras coisas, foi relatado ao Diretório Central dos Estudantes da UFPR e forças revolucionárias presentes no dia de paralisação: atraso de salários, atraso no pagamento de vales transporte e refeição, ambos pagos semanalmente através do PIX, o que gera incômodo constante aos trabalhadores que relataram ter que pagar por seu transporte de seus bolsos, devido aos constantes atrasos. Além disso, relataram também que o FGTS e INSS não têm sido depositados. Pior ainda é a falta de equipamento de proteção individual (EPIs), que abrange todos os trabalhadores, da cozinha ao estoque.

Desde que a administração do restaurante universitário foi assumida pela Restaurante Gourmet, dezenas de funcionários se desligaram pelos mais diversos motivos, alguns pelos problemas acima citados, outros por conta das táticas de opressão aplicadas pelos representantes da Cozinha Gourmet, que é tanta ao ponto de toda a equipe que participou da paralisação no dia 07 ser ameaçada com demissões. Os trabalhadores que estavam operando no RU há mais de uma década, segundo os trabalhadores remanescentes, não aguentaram o grau de exploração promovido pela Cozinha Gourmet.

No RU central o quadro de funcionários, entre janeiro e junho deste ano, foi reduzido de 60 para 40 trabalhadores, em um restaurante que recebe mais de 1800 alunos todos os dias, no café da manhã, almoço e jantar. Em outras unidades a situação é ainda pior. O restaurante do Politécnico, maior campus da UFPR, teve seu quadro reduzido para 15 trabalhadores, tanto por desligamentos voluntários, frutos da enorme pressão, quanto por demissões arbitrárias, das quais alguns trabalhadores, meses depois de serem demitidos, ainda não foram devidamente ressarcidos. Esse cenário, de redução de funcionários, gera maior sobrecarga aos remanescentes, causando, como bola de neve, mais afastamentos e desligamentos voluntários. Adicionalmente, os trabalhadores relataram que só recebem seus holerites dias depois de receberem seus salários, em alguns casos 20 dias depois, e, recebendo seus salários, bonificações, e benefícios, todos por PIX, receber o holerite de maneira tão demorada aumenta a dificuldade de saber se estão recebendo corretamente suas remunerações.

Um dos trabalhadores relatou à reportagem que a Cozinha Gourmet não é capaz sequer de fornecer os suprimentos requeridos para atender a comunidade universitária. Os cardápios têm de ser constantemente alterados devido à falta de alimentos para preparar o que foi definido no início da semana, isso sem falar da piora na qualidade dos alimentos fornecidos, segundo o trabalhador. Mais de uma vez, relata também, funcionários compraram com o próprio salário alimentos para que o restaurante pudesse operar.

E não é como se a empresa não soubesse dessas questões. Os trabalhadores informaram aos estudantes presentes já terem informado às condições precárias diversas vezes à uma supervisora, para que ela pudesse entrar em contato com os diretores da Cozinha Gourmet. Após a paralisação, essa supervisora foi também ameaçada de desligamento por não ter qualquer conexão com os trabalhadores. Além disso, um técnico de segurança, de acordo com o mesmo trabalhador do estoque, ficou assustado com a completa e total falta de EPIs, e supostamente informou membros superiores da empresa, ainda assim, nada foi feito.

Na sexta-feira, 06 de junho, ciente da insatisfação dos trabalhadores, a Cozinha Gourmet tentou amenizar a situação com a promessa de que os pagamentos, atrasados, dos trabalhadores do RU central apenas seriam feitos até meia-noite. A falta de profissionalismo foi tamanha que alguns trabalhadores foram importunados, depois da meia-noite, por membros da empresa querendo saber qual a chave PIX desses trabalhadores, seus funcionários há mais de cinco meses. Além disso, os salários, direitos básicos, foram pagos apenas parcialmente, em alguns casos sendo pagos os salários base, sem adicionais de insalubridade nem horas extras, coisa que é comum desde que a empresa assumiu, em outros casos sequer a remuneração base dos trabalhadores foi respeitada. Isso para aqueles que foram pagos, já que alguns não receberam sequer essa remuneração parcial.

Revoltados com a situação e cansados de implorar à Cozinha Gourmet pelo básico, os trabalhadores organizaram a paralisação ainda na madrugada de sexta-feira para sábado, com auxílio de estudantes e militantes de diversas organizações, dentre elas a União da Juventude Comunista (UJC).

O contrato antigo, com a empresa Blumenauense Refeições Coletivas, girava em torno de R$ 80 milhões por ano, sendo o ápice a soma de R$ 90 milhões, contadas as adições ao termo de licitação, ao longo dos anos de contratação da empresa, entre 2017 e dezembro 2024. A licitação atual, entre a UFPR e a Cozinha Gourmet, tem valor de R$ 40.390.500,00, uma quantia insuficiente se comparada à anterior, com a qual já se apresentava um serviço ruim nos Restaurantes Universitários, motivo de reclamação unânime entre os estudantes da UFPR.

Depois de muita discussão entre trabalhadores e estudantes contra os membros diretores da empresa Cozinha Gourmet, que se apressaram a comparecer assim que o movimento ganhou corpo, foi feito um acordo, no qual dois advogados participaram junto dos trabalhadores e membros diretores.

Vale ressaltar que os membros da empresa se recusaram a permitir a participação, mesmo como ouvintes, dos membros do DCE UFPR, apesar de os trabalhadores terem expressado que era uma de suas exigências, outro impacto direto da precarização, protegendo a empresa de qualquer forma de mobilização dos estudantes, criando um impeditivo direto para as reivindicações de melhorias no serviço prestado, focando única e exclusivamente no lucro privado.

Desse acordo foi tirado que a empresa deveria pagar o restante dos salários dos trabalhadores, não só do RU central mas de todas as unidades pelas quais é responsável; garantir EPIs suficientes até o fim do dia; e apresentar aos trabalhadores seus holerites no mesmo dia, ou então seria declarada greve geral, com ou sem apoio do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Refeições Coletivas, Refeições Convênio e Cozinhas de Indústrias de Curitiba (SEERC), na segunda-feira (09/06), após as 48 horas de aviso fossem devidamente vencidas.

Os EPIs ainda não foram entregues em totalidade no momento em que se escreve a matéria; trabalhadores do RU central afirmam que não receberam o valor informado em seus holerites, além de apresentarem erros, como descontos provenientes de ausências que não aconteceram, anulação de todas as horas extras prestadas pelos trabalhadores, substituição do termo “insalubridade” por “ajuda de custo”, que de qualquer maneira, não foi transferida integralmente aos trabalhadores.

Os trabalhadores de outros restaurantes universitários relatam também que não receberam os EPIs, e não foram devidamente remunerados, alguns ainda sem receber um centavo sequer de seu trabalho.

De tal forma, está sendo organizada uma assembleia aberta com os trabalhadores no restaurante universitário do Politécnico. Até ao momento o posicionamento dos trabalhadores é de entrar em greve geral em todos os restaurantes da maior universidade do Paraná.

O SEERC foi, na segunda-feira, contatado pelos advogados presentes na paralisação, e um representante dos trabalhadores do Restaurante Universitário. O sindicato prometeu se reunir internamente para discutir a situação e que caso julgasse necessário, iria contactaria o Ministério Público do Trabalho para agir em conjunto.

A Pró-Reitoria da Universidade Federal do Paraná agendou, no dia 09/06, uma reunião pública entre trabalhadores, representantes dos estudantes, a empresa Cozinha Gourmet e membros da própria Pró-Reitoria. Essa foi uma das exigências dos trabalhadores, que foi conquistada através da mobilização dos mesmos, junto dos estudantes.

A associação dos professores da UFPR, a APUFPR, lançou recentemente uma nota de solidariedade aos trabalhadores, onde também expôs os abusos sofridos por esses trabalhadores, com relatos dos mesmos.