EDITORIAL: O que podemos aprender da pressão de Trump sobre o Brasil?
Não existe qualquer saída “soberana” que não passe por também construir as bases para o combate a qualquer governo burguês em nosso país, para o desenvolvimento de uma força independente da classe trabalhadora, porque só ela pode levar até às últimas consequências a luta contra o imperialismo, sem qualquer amarra com o grande capital.
No dia 9 de julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um pacote de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras para o país. Com uma carta em que exige que Bolsonaro não seja preso - no maior espírito dos perdões presidenciais que deu aos golpistas do capitólio -, Trump busca estrangular a capacidade de exportação do Brasil e, assim, mobilizar setores da burguesia local para tomarem o lado de Bolsonaro na disputa por sua prisão.
Vários setores da burguesia brasileira, particularmente a extrema-direita, comemoraram o resultado da articulação de Eduardo Bolsonaro. Afinal, é precisamente a partir dos vínculos internacionais da extrema-direita que o trumpismo tem protagonizado mais um dos episódios de soluções de força da burguesia em todo o mundo, processo que remonta à própria crise de 2008. Esses setores revelam, assim, sua própria hipocrisia: defensores do “livre mercado” da boca para fora, não veem qualquer problema em que tarifas e outros instrumentos sejam utilizados como pressão contra a soberania do nosso próprio país. Mesmo com o governo Lula-Alckmin mostrando ainda uma indisposição para o enfrentamento a Trump e ao imperialismo, as lideranças do reformismo nacional têm tentado capitalizar em cima dessa disputa e demonstrar que, “por analogia”, o governo social-liberal estaria ao lado dos trabalhadores.
Nesta edição do jornal O Futuro, você que está lendo poderá ver o que acontece de fato em nosso país e qual papel o governo tem tido nas lutas da nossa classe. Mesmo sob a mais recente ameaça imperialista à nossa soberania nacional, o governo continua engordando os setores da burguesia brasileira que estão mais integrados ao mercado internacional e à burguesia imperialista.
São bilhões e bilhões de reais indo para o agronegócio, que combina as práticas mais abomináveis em termos de direitos trabalhistas e não produz qualquer adensamento tecnológico no país; são isenções e perdões de dívida aos grandes conglomerados privados da saúde, com ampla participação do capital estrangeiro; é a rendição completa e absoluta ao “capitalismo verde”, lógica por trás da COP 30 que não serve senão como janela de oportunidades para mais e mais entrada de capital, particularmente europeu, e extração das riquezas minerais e biológicas do país, às custas da vida de povos indígenas e outras comunidades tradicionais. Mesmo as “campeãs nacionais”, como a BRF, “exemplo” de indústria que “contribuiria para o desenvolvimento nacional”, na realidade drena recursos públicos para sustentar uma política industrial baseada na exploração absurda de seus funcionários, com 90% dos funcionários recebendo até três salários mínimos.
Qual é a lição que os trabalhadores devem tirar disso? A primeira conclusão é que em uma luta justa, contra uma imposição do imperialismo sobre o nosso país, toda unidade é bem-vinda para a classe trabalhadora. Toda unidade para denunciar a agressão imperialista, os planos de Trump e da burguesia estadunidense, é necessária e consegue demonstrar ao conjunto da sociedade a hipocrisia de figuras da extrema-direita, como Bolsonaro, em se colocarem como “patriotas”.
A segunda conclusão pode ser observada nas páginas desta edição, e é um pouco menos alentadora, mas deve ser encarada de frente: o vínculo da burguesia brasileira com o capitalismo internacional não é uma escolha, mas uma condição inescapável no momento que vivemos, na fase imperialista do capitalismo. E é por isso que não existe qualquer saída “soberana” que não passe por também construir as bases para o combate a qualquer governo burguês em nosso país, para o desenvolvimento de uma força independente da classe trabalhadora, porque só ela pode levar até às últimas consequências a luta contra o imperialismo, sem qualquer amarra com o grande capital.
A atual conjuntura exige que tenhamos essas duas posições como uma só, no curso de nossas lutas. Nem desprezar o ataque trumpista, nem abaixar a cabeça para a burguesia, é essa a lição mais verdadeira que os trabalhadores podem aprender.