Assédio, chantagem e desmonte da Assistência Social em Londrina (PR)

De acordo com diversas denúncias recebidas pelo jornal O Futuro, servidores estão sendo pressionados por superiores hierárquicos a votar conforme a vontade da Prefeitura nas deliberações dos Conselhos — órgãos que deveriam garantir autonomia e representação da sociedade civil.

22 de Outubro de 2025 às 0h00

Tiago Amaral, prefeito de Londrina, e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Instagram.

Por João Oliveira

O que deveria ser exemplo de democracia participativa e controle social se transformou em um cenário de autoritarismo e desmonte. Sob a gestão do prefeito Tiago Amaral (PSD), servidores públicos municipais de Londrina, no norte do Paraná, denunciam assédio moral, chantagem política e perseguições dentro dos Conselhos Municipais, ao mesmo tempo em que a Política de Assistência Social sofre um ataque sem precedentes, com cortes orçamentários de R$ 16 milhões.

De acordo com diversas denúncias recebidas pelo jornal O Futuro, servidores estão sendo pressionados por superiores hierárquicos a votar conforme a vontade da Prefeitura nas deliberações dos Conselhos — órgãos que deveriam garantir autonomia e representação da sociedade civil.

Em um áudio gravado durante um curso oficial ministrado pela própria Prefeitura, um instrutor orienta conselheiros municipais a defender o posicionamento do governo nas reuniões, configurando ingerência política e coação ilegal. A gravação foi amplamente compartilhada entre os servidores, gerando indignação e medo.

Os Conselhos Municipais — de Educação, Saúde, Assistência Social, Criança e Adolescente, Pessoa com Deficiência, Pessoa Idosa, Mulher, Igualdade Racial, entre outros — são espaços previstos em lei para assegurar o controle social e a participação popular nas políticas públicas. Submeter conselheiros à vontade do Executivo viola não apenas a Lei Federal nº 8.142/1990, mas também os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e moralidade na administração pública.

Enquanto persegue e coage servidores, a Prefeitura de Tiago Amaral também avança sobre os direitos da população mais vulnerável. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), responsável por programas e serviços que garantem acolhimento, proteção e inclusão, está sendo desmontado de forma deliberada.

Nos últimos anos, profissionais e entidades conveniadas denunciam falta de servidores efetivos, precarização das condições de trabalho e risco de fechamento de serviços essenciais. O corte de R$ 16 milhões no orçamento da Política de Assistência Social anunciado pela atual gestão agrava o quadro de exclusão, pobreza e desproteção social para a população londrinense.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) de 2004 e a Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS) estabelecem que cabe ao poder público garantir financiamento contínuo, equipes qualificadas e estrutura adequada — obrigações que a Prefeitura de Londrina tem sistematicamente descumprido. A cada corte, uma família deixa de ser atendida, uma criança fica sem acompanhamento, uma pessoa idosa sem apoio.

Diante desse quadro de autoritarismo e desfinanciamento, movimentos sociais e sindicais lançaram uma petição pública exigindo a reversão dos cortes e o respeito à autonomia dos Conselhos Municipais. A campanha defende a mobilização popular para garantir que a assistência social siga sendo um direito de todos e dever do Estado.

As denúncias de assédio institucional e os ataques ao SUAS fazem parte de um mesmo projeto político, que visa subordinar o serviço público aos interesses do capital e da elite política local. A gestão Tiago Amaral, herdeira da lógica de Ratinho Jr. (PSD) no governo estadual, tem aplicado um modelo de gestão empresarial, baseado no controle, no medo e no desmonte do Estado.

Enquanto o governo fala em “modernização e eficiência”, o que se observa é o esvaziamento dos espaços democráticos, a precarização dos trabalhadores e o abandono dos mais pobres.

A resposta ao autoritarismo não virá dos gabinetes, mas das ruas, dos sindicatos, dos movimentos e do povo trabalhador londrinense organizado, capaz de enfrentar o projeto de poder que transforma o Estado em instrumento de opressão.

Nesse sentido, está marcada uma manifestação, nesta segunda-feira (13), às 09h da manhã, em frente à Câmara de Vereadores de Londrina, para combater o assédio, a chantagem e o desmonte da Assistência Social.

Em Londrina, a luta é clara: ou o poder público serve ao povo, ou serve aos poderosos.