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  • Extrema-direita invade universidades, assedia e agride estudantes, mas é expulsa pelo Movimento Estudantil

    No último mês de março, algumas das universidades de maior relevância nacional e internacional foram alvos de invasões, ataques e difamações de militantes da extrema-direita.

    5 de Maio de 2025 às 15h00

    Reprodução/Foto: BRENO ESAKI/METRÓPOLES.

    Apesar de se colocarem publicamente como defensores da liberdade de expressão, da dita neutralidade política e a favor do fim da “doutrinação ideológica” que ocorre nas universidades, na verdade desejam, sob uma falsa neutralidade, propagar suas posições: conservadorismo, privatização e militarização da educação.

    No dia 27 de março, ao menos seis militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) foram à Universidade de Campinas (Unicamp) e invadiram um evento que ocorria dentro do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) e agrediram estudantes e professores que estavam no evento. Segundo o site Portal Porque, com celulares nas mãos e através de expressões como “viadinhos do PT” e “esquerdista”, o grupo invadiu justamente uma aula que estava mobilizando os estudantes pela implementação de cotas para pessoas trans nas universidades.

    “Nos dias 24 e 27 de março de 2025, o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp foi alvo de ataques políticos que comprometem a segurança de seus professores, estudantes e funcionários. Esses episódios envolveram a gravação de vídeos irregulares, a publicação de conteúdos distorcidos nas redes sociais, a interrupção de aulas e a agressão a membros da comunidade acadêmica. Os ataques ao IFCH não são um ato isolado e constituem um ataque a toda a Universidade.” Disse a Universidade de Campinas em nota.

    Três dias antes, de acordo com o portal de notícias Hora Campinas, o vereador de Campinas Vinícius de Oliveira (Cidadania) também invadiu as localidades da universidade e gravou vídeos para as redes sociais arrancando adesivos e cartazes enquanto acusava a universidade de estar promovendo “doutrinação ideológica”.

    Em nota, o IFCH se pronunciou pela atitude do vereador: “A direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp repudia veementemente quaisquer tentativas de intimidação, difamação e desrespeito à sua comunidade.” (Veja a nota da íntegra). Desde o começo do mandato, a atuação do parlamentar acumula episódios que envolvem a fiscalização por parte do Ministério Público e posteriores pedidos de retratações exigidos por servidores e pelo próprio Ministério Público.

    Além da Unicamp, a Universidade de Brasília (UnB) também vem sofrendo com ataques de grupos e figuras da extrema-direita. Neste mês de março, o militante do MBL, Wilker Leão, teve sua suspensão de disciplinas e proibição de presença na universidade prorrogada por mais 60 dias. A medida, assinada pela reitora Rozana Naves no dia 24 de março, ocorreu após o influenciador ter sido punido pela instituição, ainda em dezembro do último ano, e ainda assim ter descumprido a medida e continuado a ir ao campus da universidade para causar polêmicas. A primeira penalização e afastamento de Wilker Leão se deu pelo fato dele recorrentemente gravar aulas sem autorização e divulgá-las no YouTube para polemizar através de acusações e exposições de professores e alunos.

    Mesmo sendo institucionalmente impedido de permanecer na universidade, o YouTuber militante do MBL apareceu no primeiro dia de aulas da UnB para gravar seus vídeos acusatórios e polêmicos, mas foi expulso pelos estudantes ao som de vaias e cancioneiros.

    Ainda sobre ataques da extrema-direita no último mês, o ex-deputado Douglas García foi expulso à força da PUC-SP por estudantes da universidade. O ex-deputado alegou ter sido “covardemente agredido” pelos estudantes e sua assessoria alegou ser “inaceitável que a divergência ideológica seja tratada com agressão física”.

    O ex-deputado alega intolerância ideológica por parte dos estudantes devido estes o terem expulsado por ele estar divulgando e panfletando material em apoio a anistia dos golpistas do 8 de janeiro. Ou seja, sua acusação de intolerância de divergência ideológica esteve mascarada para servir e propagar a anistia dos que atentaram contra as instituições da democracia brasileira. Ou seja, os estudantes da PUC-SP tiveram sucesso em expulsar o ex-deputado e impedir que a universidade fosse um espaço de livre circulação de material reacionário e de cunho fascista por apoiar a anistia de golpistas.

    Na Unicamp, estudantes se mobilizaram contra a invasão dos 6 integrantes do MBL e obtiveram sucesso em expulsá-los, os forçando a sair para fora do campus. Algo semelhante ocorreu na UnB quando, ao comparecer no primeiro dia de aula, descumprindo as medidas da reitoria, o Wilker Leão foi expulso pelos estudantes que coordenadamente o pressionaram e o fizeram não ter outra opção senão se retirar do local e interromper sua ação reacionária.

    Reprodução: MÉTROPOLES.

    Outro episódio envolvendo a presença de grupos de extrema-direita em universidades ocorreu no mesmo mês, desta vez numa universidade privada. Uma pichação racista e de ameaça contra árabes foi encontrada em um dos banheiros da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foi denunciada nas redes sociais e na reitoria. A pichação com frases como “A PUC não é para árabe” estavam acompanhadas de uma estrela de Davi e outras pichações escrito “a PUC é nossa” e “a reitoria é nossa”.

    Segundo a Folha de São Paulo, a PUC havia concluído recentemente um processo de investigações de denúncias de antissemitismo contra alunos e dois professores de Relações Internacionais da universidade. Ambos possuíam posicionamentos críticos à atuação do Estado de Israel.

    Mais uma vez, foi de responsabilidade da movimentação dos estudantes denunciar as pichações racistas à reitoria. Foi um dos membros do Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino, Lucca Bueno, que encontrou as pichações a as denunciaram a pró-Reitoria de Relações Comunitárias. O ato foi inclusive condenado pela Federação Árabe Palestina no Brasil (Fepal). “É inadmissível que o racismo e o supremacismo sionistas tenham trânsito livre nas universidades brasileiras. A Fepal presta solidariedade irrestrita ao professor Reginaldo Nasser e exige que a PUC-SP investigue o caso e puna com rigor os responsáveis”. Disse em nota a organização.

    “Está um ambiente muito complicado na PUC.” afirma Reginaldo Nasser, um dos professores que foi alvo dos inquéritos, especialista em conflitos internacionais e geopolítica do Oriente Médio. “Esse tipo de manifestação não existia na PUC, parece haver um sentimento de segurança e empoderamento para que essas pessoas entrem no banheiro e escrevam essas coisas.” afirma. Esse sentimento de segurança e empoderamento da extrema-direita em se manifestar livremente na PUC parece fazer sentido, principalmente quando lembramos do caso do ex-deputado Douglas Garcia, citado nos parágrafos acima.

    O baixo discurso da “doutrinação ideológica” como tática da extrema-direita

    Não é a primeira vez que grupos como o MBL e figuras da extrema-direita invadem as universidades, tentam deslegitimar a ação dos alunos e professores e fortalecer a falsa premissa de que dentro das universidades se promove a dita “doutrinação ideológica”.

    Já em 2016, agressões semelhantes ocorreram contra estudantes do ensino médio quando ocupavam escolas estaduais em protesto contra a Reforma do Ensino Médio. Em Curitiba, integrantes do MBL entraram nas escolas para difamar as ocupações e constranger os estudantes.

    Em conversa com o Brasil de Fato do Paraná, o professor e pesquisador de Comunicação Política e Opinião Pública do Departamento de Ciência Política da UFPR, Emerson Urizzi Cervi, destacou ser esta uma tática pré-eleitoral. Ainda de acordo com o professor, existe uma aversão de uma parcela da sociedade em relação ao poder público e que, em relação às universidades, esse sentimento de ódio é ainda maior.

    Ou seja, a tentativa desses movimentos em supostamente “desmascarar” e “denunciar” a dita “doutrinação ideológica” nutre cada vez mais o sentimento reacionário de que nas universidades não se produz ciência, mas sim a maldita da “ideologia”. A invasão de militantes de extrema-direita às universidades parece demonstrar que suas ações nada têm a ver com denúncias a favor da liberdade de expressão, mas que possuem como uma de suas estratégias a de fortalecer o discurso de que as universidades estão “contaminadas” com a ideologia da esquerda, o que diminuem suas reputações diante da opinião pública. Com a diminuição da reputação, abre-se espaço para os reais objetivos da extrema-direita: políticas de sucateamento e privatização indireta as universidades brasileiras

    As táticas envolvem agressão e a produção de vídeos e cortes nas redes sociais para que consigam cada vez mais engajamento e visualizações. Estas táticas obtêm muito sucesso pois funcionam sob os discursos fáceis, sob o uso da ideologia e das ideias dominantes. Seus objetivos são a viralização, para que esses seguidores sejam convertidos em votos nas próximas eleições. Exemplos da extrema-direita que utilizaram essas táticas são vários: Lucas Pavanato, Nikolas Ferreira, Arthur do Val, Kim Kataguiri, Guto Zacarias etc.

    Dizem-se defensores de uma universidade com liberdade de expressão irrestrita, politicamente neutra e livre de ideologia. O que soam contraditórias são suas atitudes, como do mencionado vereador Vinícius de Oliveira, que fala em liberdade de expressão mas arranca cartazes de livre expressão dos estudantes das paredes. Enquanto isso, os integrantes do MBL publicam vídeos e cortes propagando desinformações, por alegarem que estavam apenas denunciando que os estudantes estavam “depredando” e pichando o patrimônio público. Não coincidentemente, suas “denúncias” eram sobre os murais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas os quais eram dedicados às minorias sociais e que também faziam parte da livre expressão dos estudantes dentro da universidade.

    É através dessas práticas que visam enfraquecer o caráter público, e portanto trabalhador, das universidades. Suas investidas têm como horizonte o retorno a uma universidade de privilégios, e não que seja construída coletivamente, de forma a gerar impacto social sobre a classe trabalhadora. Por outro lado, querem crescer nas redes sociais em cima do completo rebaixamento do debate político, para que ganhem votos. Desejam ganhar os votos, para que sejam eleitos, e que possam então pautar a privatização das universidades e a militarização do ensino: que na prática significa promover uma educação vigilante, despolitizante e de reprodução das opressões que já estão no âmago da sociedade.

    A reação do movimento estudantil contra a presença dos militantes da extrema-direita

    As táticas da extrema-direita em tentar ocupar as universidades exigiram firmeza na reação do movimento estudantil para impedir que tivessem sucesso nas suas empreitadas. A mobilização dos estudantes em prol de expulsar os militantes golpistas e reacionários têm escancarado que a estratégia da direita vem se dando de forma coordenada. Uma estratégia rebaixada que visa tumultuar o debate político através do pânico moral e que tem a intenção de criminalizar a mobilização estudantil e reorganizar a sua base de apoio dentro das universidades, que durante o governo Bolsonaro teve seu período de maior fôlego e aval da opinião pública.

    Através de posts de divulgação do ato antifascista dos estudantes da UnB e de cards de denúncia à atitude dos integrantes do MBL e do vereador na Unicamp, os estudantes puderam organizar reações efetivas contra as difamações e agressões feita pelos militantes da extrema-direita. Assim como foram expulsos os militantes da União da Juventude Liberal do Congresso Nacional dos Estudantes da UNE (CONUNE) em 2023 que estavam lá para defender seus projetos privatistas que verdadeiramente cerceiam o pensamento crítico nas universidades e criminalizam o movimento estudantil organizado.

    O que barrou os seis militantes do MBL foi a mobilização dos estudantes. Mesmo depois de sofrer medidas punitivas da UnB, o YouTuber Wilker Leão insistiu e apareceu no primeiro dia de aula: foi rechaçado, barrado e expulso pelo movimento estudantil. O que impediu o ex-deputado Douglas Garcia de espalhar material golpista, mais uma vez, foram os estudantes empenhados em barrar sua atuação. Se não houvesse mobilização estudantil em denunciar as pichações sionistas da PUC, talvez não houvesse nem algum holofote. A resposta parece óbvia: a solução histórica que enfrenta o avanço da extrema-direita nas universidades é a organização e mobilização estudantil.