Fraude no Banco Master revela como o Estado é refém do sistema financeiro

O caso apresenta um traço político essencial, a saber, o entrelaçamento entre banqueiros, investidores bilionários e poder político. As investigações apontam para redes de influência, financiamento e alianças que atravessam governos, grupos econômicos e aparelhos de Estado.

13 de Dezembro de 2025 às 15h00

Reprodução/Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil.

O escândalo que envolve o Banco Master e o BRB se tornou, ao longo de 2025, um dos episódios mais explosivos do sistema financeiro brasileiro. O que começou como uma série de operações pouco claras entre as duas instituições rapidamente evoluiu para suspeitas de fraudes bilionárias, prisões, afastamento de executivos e a liquidação do Master pelo Banco Central.

No final de 2024, começaram a surgir operações suspeitas envolvendo a criação de carteiras de crédito e repasses de recursos para o BRB, intensificando-se nos primeiros meses de 2025, quando o BRB anunciou a intenção de adquirir uma participação majoritária no Master por cerca de R$ 2 bilhões, uma transação que passou por revisões judiciais e a necessidade de aprovações regulatórias. Contudo, em setembro de 2025, o Banco Central rejeitou definitivamente essa compra ao identificar inconsistências e riscos na operação, deixando o Master ainda mais exposto.

Em novembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, cumpriu mandados de prisão, incluindo a do presidente do Master, Daniel Vorcaro, e o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da instituição, desencadeando o maior resgate da história do Fundo Garantidor de Créditos, que atingiu mais de 1,6 milhão de pessoas físicas. Paralelamente, autoridades afastaram executivos do BRB e ampliaram investigações sobre possíveis fraudes bilionárias e a participação de dirigentes nas transações questionadas.

Não se trata apenas de um acidente de percurso, pelo contrário, o evento revela a própria natureza de funcionamento do capitalismo. A fraude financeira não é apenas um erro que viola o funcionamento normal do mercado; ela nasce da pressão permanente para gerar retornos em um ambiente em que a busca incessante pelo lucro depende cada vez mais de operações intangíveis e opacas.

O próprio impacto social desse tipo de crise revela a assimetria fundamental do capitalismo, milhões de pessoas, que não participaram das operações, tornam-se vítimas indiretas de decisões tomadas por um pequeno grupo de agentes financeiros e políticos. Fundos de aposentadoria, servidores públicos e a população do Distrito Federal arcariam com os efeitos de um colapso produzido no topo da estrutura. Enquanto isso, aqueles que lucraram durante o processo o fizeram sob a base da falta de transparência e da transmissão de riscos para o coletivo. Ou seja, para os capitalistas, os lucros são privados, mas as perdas devem ser socializadas o máximo possível.

O Estado serve aos banqueiros e oprime os trabalhadores

Se o objetivo central das instituições financeiras é gerar lucro, e não garantir estabilidade, transparência ou desenvolvimento social, a tendência é que a busca por rentabilidade leve a práticas cada vez mais arriscadas, opacas e, nos momentos de tensão, abertamente fraudulentas. Nesse cenário, enquanto bancos privados especulam e assumem riscos excessivos, cabe ao Estado, capturado politicamente pelos banqueiros, intervir apenas para amortecer prejuízos e evitar o colapso do próprio sistema.

Nesse sentido, o caso apresenta um traço político essencial, a saber, o entrelaçamento entre banqueiros, investidores bilionários e poder político. As investigações apontam para redes de influência, financiamento e alianças que atravessam governos, grupos econômicos e aparelhos de Estado. Esse movimento revela que o Estado não atua como árbitro neutro entre interesses divergentes, mas como parte ativa na defesa dos lucros dos empresários e juros para os banqueiros, inclusive quando isso envolve simular riqueza inexistente ou repassar prejuízos bilionários à sociedade.

A circulação de favores, a influência política sobre decisões regulatórias e a permeabilidade de bancos públicos a interesses privados mostram como a fronteira entre negócios e governo se torna porosa. O caso Master-BRB deixa evidente que essas relações não funcionam apenas como corrupção individualizada, mas como um mecanismo estrutural, quando o sistema entra em crise, mobiliza-se uma proteção institucional que poupa os grandes responsáveis e desloca os custos para a sociedade.

O episódio ilustra como grandes fraudes não surgem apenas da iniciativa de executivos isolados, mas de um ambiente político e econômico que permite, incentiva e, em muitos casos, acoberta comportamentos que servem à lógica da busca pelo lucro acima de tudo. Portanto, a articulação entre capital financeiro e poder político aparece não como um desvio eventual, mas como parte constitutiva de um sistema que precisa dessas conexões para funcionar, e que coloca sua própria sobrevivência acima das consequências sociais de seus colapsos.

Apenas o socialismo encerra as crises

Apenas a construção de um Estado proletário que retire o crédito da esfera privada e converta o sistema financeiro em um instrumento público de planejamento econômico deve dar fim a esses escândalos recorrentes da esfera privada. Sob controle social, com o crédito 100% público, desaparecem os incentivos estruturais que levam instituições a forjar ativos, manipular balanços ou criar “riqueza fictícia”, o financiamento deixa de ser negócio e passa a ser função social.

Em vez de competir por retornos de curto prazo, os bancos, agora transformados em instituições públicas, se orientariam por objetivos coletivos, como ampliar investimentos produtivos, impulsionar setores estratégicos, garantir moradia, educação, infraestrutura e reduzir desigualdades territoriais.

Sob o socialismo, o Estado proletário não atua para proteger bancos, mas para evitar que eles existam como centros privados de poder econômico. Ao eliminar a intermediação privada, também se reduz drasticamente a influência de grupos econômicos sobre decisões de governo, já que a principal moeda de troca, financiamento e acesso privilegiado ao crédito, deixa de ser controlada por elites financeiras.

A centralização pública do crédito permitiria que crises bancárias, como a do Master, simplesmente não ocorressem, sem competição predatória, sem pressão por lucros crescentes e sem a necessidade de emitir ativos fictícios para inflar balanços, o sistema financeiro deixa de ser um gatilho permanente de instabilidade. O foco desloca-se do enriquecimento de executivos e acionistas para a estabilidade macroeconômica e o bem-estar da população.

Apenas um sistema em que o crédito seja integralmente público, administrado por um Estado orientado pelos interesses da classe trabalhadora, pode remover os incentivos que geram esse tipo de colapso e transformar o financiamento em um instrumento de desenvolvimento social, e não em uma máquina de reprodução de privilégios e instabilidade.