As terras raras no brasil: o caso de Minaçu
A exploração do amianto e das terras raras expõe o entreguismo dos minerais estratégicos e as consequências ambientais, sustentado pela precarização do trabalho e pela promessa ilusória de desenvolvimento, enquanto cresce a necessidade de um projeto nacional sob controle dos trabalhadores.

Reprodução/Foto: Poder360.
Por Lucas Ultracultura
No Norte de Goiás, Minaçu se tornou símbolo da mineração predatória: única cidade da América Latina que ainda produz amianto – banido em mais de 65 países por causar câncer – e, desde 2024, primeira fora da Ásia a extrair as principais Terras Raras, em operação de uma multinacional. Entre a destruição ambiental, doenças e exploração da população local, o município revela como grandes empresas são responsáveis por tragédias sociais.
Minaçu é um retrato das contradições da mineração no Brasil. O município surgiu em 1962, quando a empresa francesa Sama se instalou na região, criando uma cidade em torno da exploração do amianto. Desde 2024, o município também se tornou a primeira localidade fora da Ásia a extrair Terras Raras, operação conduzida por uma multinacional controlada por um fundo americano. A empresa explora grandes áreas da serra que circunda a cidade para abastecer o mercado chinês, aprofundando a dependência local da mineração.
As terras raras, um conjunto de 17 elementos químicos, tornaram-se insumos estratégicos para a fabricação de turbinas eólicas, motores de carros elétricos, discos rígidos, fones de ouvido e sistemas militares de alta precisão, como radares e guiagem de mísseis. Com a crescente demanda mundial, passaram a ocupar o centro da corrida imperialista pela chamada “transição energética”. O pesquisador Dr. Gilliad Silva alertou em sua coluna ao correio de carajás que “o mundo quer nossas terras raras”, evidenciando como esse movimento global encobre uma nova fase de espoliação das riquezas nacionais e de suas populações.
Do amianto às Terras Raras, Minaçu expõe o custo social e ambiental desse modelo: uma população refém do poder econômico das mineradoras, a devastação da natureza e o adoecimento coletivo. “Aqui, antigamente, tinha entupimento de minério. Tal pessoa morreu entupida, a gente falava assim”, relembra o pesquisador Raimundo de Lima em entrevista ao site agência pública ao citar as mortes ligadas à exposição ao amianto.
E ainda que a população de Minaçu tenha pago com suas vidas e saúde o preço da mineração em suas terras, o resultado econômico para a classe trabalhadora não é nada satisfatório. Segundo dados do CadÚnico, na última década, 20% da população se encontra em condição de vulnerabilidade social, e 30% das famílias de Minaçu estão em situação de pobreza. Isso, aliado à falta de diversidade econômica, nos mostra a face mais cruel do capitalismo, em que uma população, para não morrer de fome, contribui pouco a pouco não apenas com sua própria morte, mas também com toda a devastação do meio ambiente.
Brasil frente à COP 30
O Brasil, com suas vastas reservas (21 mil toneladas correspondente a 20% do subsolo do território nacional), é alvo de uma disputa geopolítica onde potências capitalistas buscam controlar os recursos estratégicos para transição energética da periferia para manter sua hegemonia na chamada “economia verde”, enquanto países como o Brasil ficam na função de “um quintal mineral exportador”.
Esta não é uma transição justa, mas sim "uma transição em disputa", onde os países centrais impõem seu modelo energético enquanto relegam às nações do Sul global o papel de meras fornecedoras de matérias-primas.
No ano da COP 30, a ganância dos poderosos e de seus aliados volta a ser apresentada como se fosse uma “necessidade nacional”. A bandeira da transição energética e da descarbonização é erguida como prioridade, mas sob a lógica do “capitalismo verde”: acelerar mudanças a qualquer custo, ignorando estudos científicos e avançando sobre comunidades tradicionais e territórios.
As Conferências do Clima têm se consolidado como palcos de acordos entre burguesias nacionais e imperialistas que lucram com a crise climática. A COP30, apesar de sua fachada de compromisso com o combate ao aquecimento global, serve essencialmente para legitimar os interesses do capital. O governo brasileiro, sob Lula e Helder Barbalho, mostra-se incapaz de romper com as soluções superficiais que preservam o modelo de desenvolvimento predatório responsável pela própria crise ambiental.
Projetos de “sustentabilidade”, como a aposta em carros elétricos, turbinas eólicas ou sistemas de captura de carbono, são apresentados como resposta à emergência climática. No entanto, quando guiados pela lógica capitalista, tornam-se apenas mais um mecanismo de exploração de minérios estratégicos, intensificação da dependência tecnológica e aprofundamento das desigualdades.
A ideia de conciliar preservação ambiental com a expansão da economia capitalista não passa de uma falácia. Ao contrário do que se anuncia, a COP 30 não enfrenta a raiz do problema: legitima as mesmas práticas que destroem o planeta, oferecendo uma maquiagem “verde” para o capitalismo, que segue sendo o principal responsável pela devastação ambiental.
Governo Brasileiro frente à pressão de Trump
A pressão de Donald Trump - que segundo Dr. Gilliad Silva "já começou a cobrar o preço" - expõe a face brutal do imperialismo energético: os EUA exigem acesso irrestrito a esses minerais para sustentar sua indústria verde, enquanto ignoram os impactos socioambientais em países como o Brasil.
Diante desse ataque não só à soberania nacional, mas também ao futuro da nossa economia industrial e do nosso papel produtivo no mundo neste século, o governo Lula-Alckmin segue sua tática de não conciliar nem mais o discurso com a prática, e enquanto Lula diz: “Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, em referência ao governo americano”. Semanas depois, o ministro Haddad sob pressão das chantagens de Trump em tarifar o Brasil disse: "Nós temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Nós podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes, na área tecnológica".
E enquanto o ministro da fazenda parece mais preocupado com a eficiência de baterias do que com o controle soberano das riquezas e territórios. A mineração predatória financiada por grandes capitais já coloca seus tentáculos nas Terras Raras Brasileiras.
Enquanto o entreguismo dos minérios estratégicos é vendido de forma ilusória e otimista, avançando em ritmo acelerado, a classe trabalhadora segue submetida ao arcabouço fiscal, à precarização e à ausência de um projeto nacional que garanta condições dignas de vida. Nesse cenário, muitos acabam depositando suas esperanças apenas na promessa de empregos e subempregos que esses empreendimentos anunciam.