Reajuste salarial de bancários é corroído pela inflação
Em contraste, os quatro maiores bancos do país encerraram 2024 com lucros astronômicos de R$108,2 bilhões, evidenciando a disparidade entre a riqueza gerada pelos trabalhadores e o arrocho imposto a seus salários.

Reprodução/Foto: Patricia Iglecio.
O reajuste salarial dos bancários, que será realizado em setembro, chega como mais um golpe contra a categoria. Apesar de sindicatos anunciarem vitória, a realidade é que o aumento de 5,68%, equivalente ao INPC nacional dos últimos 12 meses acrescido de apenas 0,6%, sequer cobre a inflação sentida em São Paulo, onde o índice foi de 5,72%. Para os trabalhadores paulistanos, isso significa perda real de salário.
O reajuste se insere em um contexto mais amplo de precarização da carreira bancária, marcada por sucessivas derrotas históricas: desde 1995, o salário médio da categoria acumula perda de 7,73%, puxada por grande retração nos bancos públicos. Em contraste, os quatro maiores bancos do país encerraram 2024 com lucros astronômicos de R$108,2 bilhões, evidenciando a disparidade entre a riqueza gerada pelos trabalhadores e o arrocho imposto a seus salários. Enquanto banqueiros acumulam fortunas, os bancários enfrentam o rebaixamento material e político imposto pelos últimos acordos coletivos.
A promessa de luta que virou teatro
A minuta de reivindicações aprovada em 2024 previa reajuste geral de 5% acima da inflação e aumentos diferenciados para setores mais precarizados. Apresentada como uma plataforma combativa, serviu para gerar expectativas de enfrentamento. Nas mesas de negociação, porém, o que se viu foi um verdadeiro teatro: dirigentes sindicais demonstrando surpresa com uma suposta “dureza” patronal e vendendo como vitória um reajuste de apenas 0,6% acima do INPC em 2025.
Nas assembleias, quem ousava questionar o acordo era atacado, em especial a juventude que exigia maior mobilização. O aberto desestímulo à radicalização pedida pelos trabalhadores vinha acompanhado da justificativa de que “não havia força para uma greve”. Mas a pergunta que fica é: por que não havia força? A resposta está no próprio papel desempenhado pelos sindicatos, que não organizaram nem politizaram a base para aquele momento, mantendo a negociação entre quatro paredes.
Tentativa de reescrita da derrota
Transformar esse reajuste em “vitória” é um golpe político contra a categoria. Em vez de refletir sobre os erros e avançar na organização, a burocracia sindical se limita a acordos de bastidores que mantêm os trabalhadores enfraquecidos. A consequência é um descrédito crescente da base, que percebe que o caráter conciliador dos sindicatos sempre favorece os patrões.
Em plataformas internas, bancários expressam indignação: a suposta conquista não garantiu aumento real algum. Essa percepção tem base concreta. O cálculo do INPC, por trabalhar com médias nacionais, não reflete a realidade local com exatidão. A diferença entre o índice nacional (5,05%) e o de São Paulo (5,72%), por exemplo, já anula o “ganho” de 0,6%. Para os paulistanos, o reajuste significou perda salarial. O mesmo já havia ocorrido em 2024 com os bancários belo-horizontinos, quando o reajuste de 4,64% não cobriu a inflação de 5,95% aferida na capital mineira.
Soma-se a isso o fato de, por se tratar de um índice de consumo, o INPC não contabilizar despesas financeiras (como empréstimos e prestações de imóveis), que corroem cada vez mais o orçamento familiar diante da SELIC em patamar recorde: 70% dos bancários encontram-se endividados.
Não se trata aqui de questionar o INPC enquanto indicador, mas de entender suas evidentes limitações que estão muito bem definidas na séria metodologia adotada pelo IBGE. Trata-se, portanto, de uma aproximação da realidade e, por isso, para garantir de fato um aumento real no poder de compra dos bancários no Brasil inteiro, seria necessário um reajuste muito maior do que o aceito nas mesas de negociação.
A necessidade de romper a passividade
A conclusão é clara: sem mobilização real da base, o próximo acordo seguirá a mesma lógica de rebaixamento. Nenhuma conquista foi arrancada sem luta, e é preciso pressionar desde já. Comparecer a assembleias, cobrar os sindicatos e construir espaços auto organizados: só assim os bancários poderão transformar indignação em força real.
Enquanto banqueiros seguem celebrando lucros bilionários, aceitar acordos que corroem salários é consagrar a derrota como regra. A categoria não pode permitir que isso se repita.