Moradores de Barueri protestaram contra execução de jovem pela PM; entenda o caso
Lucas Almeida de Lima estava desarmado e consertava o carro de um amigo quando foi agredido com socos e morto por policiais militares.

Lucas Almeida de Lima foi executado por policiais militares no último dia 15. Reprodução/Foto: Acervo pessoal.
Moradores de Barueri (SP) protestaram no sábado (22) junto a familiares e amigos de Lucas Almeida de Lima, de 26 anos, contra a execução do jovem por policiais militares no último dia 15. Os manifestantes marcharam por diversas ruas da cidade carregando faixas contra a violência policial, e o ato foi encerrado em frente à casa de Lucas.
Em entrevista ao jornal O Futuro, Letícia, a irmã de Lucas, contou que o jovem morava com a mãe e o irmão menor, e ajudava a ambos nas tarefas domésticas. Lucas estava desempregado, mas havia comprado um carro e uma moto com o próprio salário, e não tinha nenhum envolvimento criminal.
Sobre a abordagem policial, a irmã mais nova afirmou se tratar de racismo, e que ele foi considerado suspeito por ser um homem negro e tatuado. Letícia também revelou que Lucas já havia sido abordado e agredido outras vezes por policiais militares e isso desenvolveu nele um sentimento de pânico por PMs e por brigas, o que pode ter provocado a resposta de fugir. Nas palavras dela, “ele corria pra dentro de casa pra se esconder da maldade”.
Entenda o caso
No dia 15 de março, Lucas foi alvejado com ao menos um disparo durante uma abordagem policial. Ele e um amigo estavam consertando um carro na avenida Petrobrás, no bairro Jardim Mutinga, em Barueri, quando foram abordados por uma viatura. Lucas teria corrido dos policiais, que o perseguiram e passaram a agredi-lo com socos e chutes.
As agressões foram gravadas por moradores da região, e o vídeo registra o momento em que Lucas, desarmado, é baleado à queima-roupa por um policial que supostamente tentava imobilizá-lo com a arma na mão. A câmera desvia da cena, mas ainda é possível escutar pelo menos mais dois disparos sendo efetuados depois que Lucas já havia caído no chão.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que os policiais foram afastados de suas funções, e que a instituição abriu investigação interna. A Polícia Civil também investiga o caso, que foi registrado como homicídio.
Violência policial em São Paulo
Nos últimos anos, durante o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o número de pessoas mortas por policiais militares cresceu exponencialmente. De acordo com dados do Ministério Público, foram registradas 712 mortes em 2024, um aumento de 74% em relação a 2023. Deste número, 604 assassinatos foram cometidos por PMs no exercício da função, e 104 por agentes de folga.
Segundo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2023, 82,7% das mortes por intervenção policial naquele ano eram de pessoas negras. Um levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz, com base nos números oficiais divulgados pela SSP-SP, a taxa de pessoas negras assassinadas pelas polícias civil e militar no estado de São Paulo entre janeiro e agosto de 2024 cresceu 83% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o índice de pessoas brancas vítimas do mesmo crime cresceu em proporção menor, 59%.
Dados do Censo 2020 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pessoas negras compõem apenas 41% da população do estado. Já as pessoas brancas, que representam 57,8% da população estadual, aparecem no levantamento com a menor proporção estatística de vítimas da violência policial.