Acusado de assediar alunas, professor da Unesp é homenageado por Câmara Municipal de Franca

Moção de apoio ao professor do curso de Relações Internacionais, Gabriel Cepaluni, acusado por diversos casos de assédio por estudantes do curso e responsável por agredir 4 estudantes, foi aprovada no dia 14 de outubro.

12 de Novembro de 2025 às 15h00

Câmara Municipal de Franca (SP), 2025. Foto: Jornal O Futuro.

Em 14 de outubro, a Câmara Municipal de Franca, em São Paulo, aprovou uma moção de apoio ao professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Gabriel Cepaluni, acusado por diversos casos de assédio por estudantes do curso e responsável por agredir 4 estudantes.

Cepaluni foi denunciado pelos estudantes de Relações Internacionais depois de uma assembleia de curso realizada no dia 21 de agosto. A assembleia tinha como objetivo debater sobre os casos de opressão que vinham sendo relatados no curso, porém, dada a grande quantidade de acusações que se voltavam ao professor Cepaluni, o Centros Acadêmico de Relações Internacionais realizou um dossiê, compilando essas acusações, com o objetivo de transformá-las em denúncias formais para o Departamento de curso, ouvidoria e direção da Unesp.

“O clima da assembleia era muito ruim, as estudantes tinham muito receio de dar seus relatos, sempre com muito medo de possíveis represálias. Aos poucos algumas pessoas começaram a falar, e, assim, foram surgindo várias denúncias. Sem contar algumas que claramente não conseguiam falar em público sobre o que tinha acontecido”, relatou um estudante presente no dia da assembleia.

Junto às denúncias, os estudantes do curso realizaram uma manifestação no dia 2 de setembro contra os casos de assédio e todas as formas de opressão dentro da universidade. A manifestação tinha como principal objetivo impedir as aulas do professor Cepaluni, garantindo que as vítimas não fossem mais uma vez colocadas em uma situação de vulnerabilidade. E também, que a Unesp entendesse a gravidade das denúncias, instaurasse um processo de apuração e afastasse o professor.

No dia da manifestação, o professor se fez presente para confrontar os estudantes, uma postura que se manteve por quase uma hora. Repetidas vezes Cepaluni provocava, fazia piada com as denúncias, ao mesmo tempo que ofendia, gravava e empurrava os estudantes que participavam da manifestação. Apesar da orientação de outros servidores da Unesp, que direcionaram Cepaluni a não interferir na mobilização, o professor optou por seguir com as provocações, até o momento em que o professor perde o controle, avança sobre os estudantes empurrando os que estavam mais próximos, e a partir desse movimento, acerta quatro estudantes com socos e cotoveladas, deixando marcas e hematomas. Após os ocorridos, o professor pediu afastamento, alegando que não se sentia seguro para continuar dando aula.

Câmara Municipal de Franca

No dia da aprovação da moção de apoio ao professor acusado de assédio, também foi aprovada a moção de repúdio aos estudantes da Unesp que se mobilizaram em defesa das vítimas. As moções foram articuladas pelo vereador Leandro “O Patriota” (PL) em um movimento de condenar os estudantes e atacar diretamente a Unesp enquanto universidade pública, ao mesmo tempo que defende publicamente o professor acusado encobertando todas as denúncias de assédio.

Câmara Municipal de Franca (SP), 2025. Foto: Jornal O Futuro.

Os estudantes da Unesp, principalmente por meio da articulação do Diretório Central dos Estudantes - Helenira Resende (DCE-HR) e das entidades de todos os cursos da Unesp Franca, organizaram um ato na Câmara com a presença de mais de 100 estudantes. O ato foi capaz de mostrar não apenas para a Câmara, mas para toda a população de Franca que ao invés de se ocuparem com os problemas reais da população, a imensa maioria dos vereadores utilizam de seus mandatos para atacar a educação pública e defender aliados ideológicos acusados de assédio.

Durante todo o ato, os estudantes exigiram direito de fala e resposta às acusações que imputam falso crime àqueles que participavam da manifestação. Mesmo com fala inscrita para a pauta e posteriormente reivindicando direito de respostas, foram silenciados. Por outro lado, foi garantido o direito de fala do vereador bolsonarista, inclusive com recontagem de tempo. Apesar da força da mobilização e da capacidade em denunciar a agressão e perseguições sofridas pelas vítimas, a Câmara, composta em sua maioria por vereadores da extrema-direita, aprovou as moções por 10 votos a 3, e provou seu descaso com os estudantes, a população e o comprometimento com um projeto político que ataca a classe trabalhadora e os setores oprimidos.

Resultado da votação da moção de apoio ao professor acusado de assédio (SP), 2025. Foto: Jornal O Futuro.

Avanço da extrema-direita contra a universidade pública

Antes do episódio vergonhoso da Câmara dos Vereadores de Franca, cerca de um mês após a manifestação na Unesp, a extrema-direita, por meio de seus veículos de mídia e principais quadros políticos, passa a se manifestar sobre o caso ocorrido na Unesp Franca, com o objetivo de defender o professor acusado de assédio, e condenar não apenas os estudantes, mas toda a universidade pública. Houveram textos mentirosos publicados pela Gazeta do Povo, Revista Oeste e outros jornais a serviço da extrema-direita. Rubinho Nunes (vereador da cidade de São Paulo pelo União Brasil), Guto Zacarias (deputado estadual pelo União Brasil), Arthur do Val (deputado estadual cassado por acusações de assédio sexual e membro do MBL) e outras figuras da extrema-direita vieram a público em suas redes sociais com o objetivo de atacar e expor os estudantes da Unesp, ao mesmo tempo que escondem os casos de assédio e defendem o professor acusado.

Por meio do pânico moral, mentiras e ataques pessoais, esses posicionamentos tem um objetivo claro, e bastante condizente com a tática da extrema-direita: ao mesmo tempo que tiram de foco as acusações de assédio do professor Cepaluni, passam a atacar a universidade pública e o movimento estudantil. A mentira de que os estudantes são agressivos e teriam reprimido o professor por seus posicionamentos políticos fortalece um discurso que tem como consequência final o ataque à educação pública, a privatização das universidades e os cortes orçamentários para toda educação.

Esse avanço de ataques e ameaças da extrema-direita dentro das Universidades públicas brasileiras não ocorrem por acaso. Buscam construir uma campanha difamatória e de desmoralização destas instituições, de forma a justificar e o subfinanciamento do ensino superior, precarizando as condições de ensino e, indiretamente, abrir espaço para a exploração privada do ensino superior brasileiro.