Incêndio em  Manaus e o abandono de Wilson Lima

Com o efetivo reduzido e a estrutura precária, o CBMAM pode enfrentar sérias dificuldades caso crises ambientais coincidam com emergências urbanas como a atual.

7 de Agosto de 2025 às 17h00

Reprodução/Foto: Mauro Neto/Secom.

Um incêndio de grande proporção atingiu a fábrica Effa Motors, no Distrito Industrial II de Manaus na tarde de 5 de agosto. O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) foi acionado e mobilizou 150 bombeiros, 19 viaturas e 32 brigadistas civis do Plano de Auxílio Mútuo (PAM). O fogo foi confinado, mas o combate às chamas já ultrapassou 24 horas de duração. Até o momento, temos um ferido no hospital.

As redes sociais foram tomadas por um vídeo em que uma brigadista solicita, de forma emocionada, doações de água potável para os profissionais que atuavam no combate ao incêndio. Ela relata que estavam há horas enfrentando calor extremo e sede intensa.

“Quem puder tá trazendo, né, ajudando com água... é bem-vinda, bem-vinda mesmo, porque as meninas ficam com muita sede, o fogo tá demais”, diz a brigadista.

“O pessoal aqui tá precisando de água. Um garrafão custa 25 reais. O negócio aqui tá muito feio. O fogo não apaga”, reforça uma voluntária que gravava a cena.

Apesar da urgência retratada no local, o Governo de Wilson Lima (UB) divulgou uma nota afirmando que a corporação estava “equipada, com água, alimentação e estrutura garantidas”, e que não seriam necessárias doações. A declaração foi reforçada pelo comandante-geral do CBMAM, coronel Helliton de Souza, que agradeceu o apoio da população, mas afirmou que em nenhum momento faltaram suprimentos.

As imagens e relatos da brigadista e da população desmentem diretamente o discurso oficial, expondo uma falha grave na estrutura e na logística da operação.

Aprovados no concurso cobram convocação imediata

Enquanto bombeiros enfrentam dificuldades básicas durante o trabalho, centenas de candidatos aprovados no concurso público de 2021 seguem aguardando convocação. A seleção foi anunciada após o incêndio no bairro Educandos, em 2018, considerado o segundo maior da história do Amazonas, com cerca de 600 casas destruídas. A tragédia gerou forte comoção e obrigou o governo a responder com a abertura do concurso, cujas convocações ainda hoje seguem incompletas.

Os aprovados afirmam que estão prontos para atuar, mas o governo não os inclui nas operações. Muitos destacam que bases do interior do estado operam com dois ou três militares, sem estrutura adequada, e que brigadistas civis vêm sendo usados para substituir bombeiros formados.

“Somos profissionais capacitados, prontos para servir. O Amazonas clama por socorro, e nós queremos ser o braço forte do estado na hora da aflição”, afirma um grupo de aprovados em nota pública.

O governo federal só convocou os aprovados após uma tragédia em Manaus o incêndio no bairro Educandos, em dezembro de 2018, considerado o segundo maior da história do Amazonas e que destruiu cerca de 600 casas. O concurso de 2021 foi lançado somente depois desse episódio, evidência de que só houve ação após crise de grandes proporções.

Aumento das queimadas e um novo cenário de alerta e terror

Especialistas da Defesa Civil e ambientalistas alertam que o aumento das temperaturas e da atividade agroindustrial no Amazonas pode elevar o risco de incêndios florestais nas próximas temporadas. Com o efetivo reduzido e a estrutura precária, o CBMAM pode enfrentar sérias dificuldades caso crises ambientais coincidam com emergências urbanas como a atual.

Efetivo reduzido, investimento irregular

Ao longo da maior parte do mandato, o governo manteve um Corpo de Bombeiros com efetivo extremamente reduzido, apesar de justificar o aumento e investimento em equipamentos após tragédias. A ampliação do efetivo do Corpo de Bombeiros e a convocação de aprovados no concurso de 2021, por exemplo, foi impulsionada apenas depois do incêndio no bairro de Educandos (dezembro/2018) e a série de queimadas que aconteceram em 2024 e foram denunciadas pelas páginas do PCBR-AM nas redes sociais. Confirmando que quaisquer medidas, mesmo as mais simples, só ocorrem após escândalos públicos ou desastres.

Palavras não apagam fogo

O incêndio desta semana evidencia mais uma vez o descompasso entre a comunicação oficial do governo e a realidade enfrentada pelos profissionais que atuam na linha de frente. Enquanto vídeos mostram brigadistas sem água, o governo insiste em dizer que tudo está sob controle. Os investimentos são anunciados, e além de insignificantes, não chegam à base. E os profissionais que poderiam fazer a diferença seguem de braços cruzados, aguardando um chamado que deveria ter vindo muito antes.

A população segue sendo a principal aliada dos que lutam contra o fogo. Mas ela não deveria estar sozinha nessa tarefa. O que falta agora, além de um compromisso sério do Governo estadual com a estrutura do Corpo de Bombeiros, é vontade política.